Na fantasia de O Senhor dos Anéis, criada pelo escritor britânico J. R. R. Tolkien, os elfos desenvolvem um alimento altamente nutritivo para fornecer energia e força necessárias para as longas viagens dos seres da fictícia Terra-média. Seu nome? Lembas, que, no idioma élfico, significa "pão da jornada".

No mundo real, Lembas é uma startup israelense. E a jornada da foodtech, fundada em 2024, em Tel Aviv, é fazer chegar ao mercado seu GLP-1 Edge. Com a promessa de reduzir o apetite e aumentar a saciedade, o composto já vem sendo anunciado como o "Ozempic natural".

“O que nós fazemos é identificar, por meio de tecnologias, como a inteligência artificial, ingredientes e alimentos que possam manter a sua saúde metabólica em toda a sua integralidade", diz Shay Hilel, cofundador e CEO da empresa, em entrevista ao NeoFeed.

“Com isso, nós chegamos a um peptídeo com o efeito emagrecedor dos famosos remédios, mas sem os efeitos colaterais causados por eles", complementa.

Os peptídeos são produzidos naturalmente pelo organismo, mas podem também ser obtidos pela alimentação. E têm funções importantíssimas para a manutenção da boa saúde, como a produção hormonal, a resposta imunológica e o funcionamento dos intestinos, entre tantas outras.

Alguns deles também se revelam eficazes no controle do peso ao acelerar o metabolismo por meio da regulação do apetite, retardando o esvaziamento gástrico e estimulando a síntese de GLP-1, a molécula da saciedade — um mecanismo que as canetas emagrecedoras conseguem potencializar.

Desde o boom de remédios como o Ozempic, viralizam nas redes sociais indicações de alimentos capazes de aumentar, em tese, a produção de GLP-1.

Entre eles, estão os ricos em fibras, como leguminosas e cereais integrais; em proteínas magras, como peixes e ovos; e em gorduras saudáveis, como o azeite e o abacate.

É neste princípio que a Lembas se baseia, sem, no entanto, revelar a fonte de onde é extraída a matéria-prima para o seu GLP-1 Edge.

A ideia para a criação da foodtech, conta Hilel, surgiu a partir da constatação de que 80% dos usuários das versões sintéticas do hormônio da saciedade buscam fórmulas com a mesma eficácia, porém, naturais.

Os medicamentos foram desenhados para uso contínuo, mas os estudos indicam que a maioria dos pacientes abandona o tratamento depois de dois anos por causa das reações adversas — náuseas, vômitos, constipação intestinal e refluxo, entre as mais comuns.

Ainda não se tem comprovação científica da eficácia dos "GLP-1 da natureza", mas é certo que, em comparação aos compostos desenvolvidos pela indústria farmacêutica, sua ação é limitada.

Mesmo assim, a busca por atrair os "desertores do Ozempic" vem agitando um mercado com alto potencial de crescimento.

Com a queda das patentes dos medicamentos originais nos próximos anos e a chegada dos genéricos às farmácias, o número de usuários naturalmente vai aumentar. E, quanto mais gente for medicada, maior será o número de pessoas desistindo da "terapia sintética".

Shay Hilel, cofundador e CEO da foodtech (no centro, de camisa escura) aposta na busca por versões naturais dos medicamentos GLP-1 (Foto: Divulgação)

Uma das apresentações do GLP-1 Edge será em pó (Foto: Divulgação)

O formato de gomas também está entre as possibilidades da Lembas (Foto: Divulgação)

O GLP-1 Edge da Lembas ainda está em fase de aprovação regulatória. Mas a empresa levantou US$ 3,6 milhões em uma rodada de investimento pré-seed liderada pelo fundo Flora Ventures, focado na indústria de alimentos. Nomes como Bluestein Ventures, Fresh Fund, Longevity Venture Partners, Maia Ventures, Siddhi Capital, Mandi Ventures e SDH também fizeram parte do aporte.

“Receber um investimento como esse, em um período de seca do mercado, é uma chancela de que o nosso produto tem muito potencial, o que nos deixa extremamente felizes”, diz Hilel.

“É um grande desafio incluir um produto no mercado de alimentos, mas sabemos que esses investidores acreditam na nossa visão e nos ajudarão nesse processo”, complementa.

Com a aprovação, o GLP-1 Edge será lançado em dois formatos: um em pílula e outro em pó, para ser adicionado a produtos alimentícios. Segundo Shay, o preço do peptídeo se encaixa em um segmento premium de suplementos.

Por isso, a foodtech está à procura de empresas de alimentos e suplementos que topem fazer parcerias para produzir e distribuir o produto, que terá o foco inicial nos Estados Unidos, o maior mercado das canetas emagrecedoras. Segundo o executivo, o Brasil e a América Latina em geral também estão entre os destinos da Lembas.

Com essa estratégia, Hilel acredita que o peptídeo estará disponível no mercado em meados de 2027, já que, apenas para a aprovação dessas parcerias com grandes marcas de alimentos, deve levar cerca de um ano e meio, nas projeções mais otimistas.

Sobre a forma de uso, o executivo afirma que tem a intenção de dar “o controle aos consumidores” sobre quanto e quando querem usar o produto. “Um dos principais problemas que observamos nos produtos já existentes no mercado é que eles tiram a paixão das pessoas pela comida e por diversos outros aspectos da vida... o contrário do que queremos fazer”, defende Hilel.

Apesar das comparações com os medicamentos de gigantes como a Novo Nordisk e a Eli Lilly, o CEO está tranquilo. "O mercado é gigantesco e tem espaço para todos os bolsos e preferências", diz ele. "Mas é fato que as pessoas estão procurando por alternativas mais saudáveis e isso nos anima.”