Enquanto a maior parte do setor hoteleiro mundial pisava o pé no freio por causa da pandemia de coronavírus, em 2020, a rede panamenha Selina formalizou um crédito de U$ 50 milhões para impulsionar sua expansão na América Latina e no Caribe.

O fundo obtido com o IDB Invest, membro do Banco Interamericano de Desenvolvimento, ajudou a marca a inaugurar novos endereços na região, que juntamente com a Europa e a América do Norte, fizeram a Selina ultrapassar o marco de 150 hotéis em pleno funcionamento no mundo.

Com a premissa de proporcionar refúgios para nômades digitais, a Selina desembarcou no Brasil em 2018, quando inaugurou seu primeiro hotel na praia do Mole, em Florianópolis.

Além de Santa Catarina, atualmente a Selina está presente em São Paulo, com uma unidade no bairro da Vila Madalena e outra no Arouche; no Rio de Janeiro, com endereços em Copacabana, Lapa, Paraty e Búzios; em Bonito, no Mato Grosso do Sul; e em Foz do Iguaçu, no Paraná.

Nos últimos quatro anos, a rede panamenha desembolsou US$ 60 milhões para estruturar sua operação brasileira. O investimento médio por hotel inaugurado é de R$ 5 milhões. Atualmente, o menor dos nove hotéis que a rede possui no Brasil é o de Paraty, com 45 apartamentos. O maior fica em Foz do Iguaçu, com 145 quartos.

Em novembro, a Selina irá inaugurar seu décimo empreendimento no Brasil, mantendo uma média de dois hotéis novinhos todo ano. A promessa do grupo é investir ainda mais. “A Selina enxerga muitos Brasis dentro do Brasil. Trabalhamos com a possibilidade de abrir até 40 hotéis no país”, afirma Flávia Lorenzetti, country manager responsável pela operação nacional da Selina, em entrevista exclusiva ao NeoFeed.

O primeiro Selina em Florianópolis

Com um modelo de negócio pouco convencional na hotelaria, a Selina é especializada em comprar hotéis que não vão muito bem das pernas e dar uma nova vida a eles. “Hotéis com dificuldades financeiras graves, propriedades de herança praticamente abandonadas: nosso conceito é arrendar esses locais e transformá-los em hotéis Selina repaginados”, conta Lorenzetti.

No Brasil, o principal parceiro da rede Selina é o fundo de investimento Mogno Capital, responsável por financiar a aquisição e a reforma das propriedades ‘garimpadas’ pela Selina. Em um arranjo de arrendamento, a Selina fica à frente de toda a operação dos hotéis e paga um aluguel ao fundo de investimento dono do imóvel.

O modelo, muito mais barato do que construir um hotel do zero com recursos próprios, permite que a Selina expanda de forma acelerada, tanto no Brasil quanto lá fora. A imagem vendida pela rede hoteleira, que basicamente é a do millennial descolado que toma margaritas na beira de uma piscina no horário de almoço, conquistou um investidor famoso e polêmico: Adam Neumann, fundador da WeWork.

Quarto do hotel Selina em Paraty

A cidade escolhida para sediar o décimo hotel foi Bragança Paulista, no interior de São Paulo, e o empreendimento é diferente dos outros nove que já existem. Pela primeira vez, a Selina decidiu construir um hotel do zero, apesar de não se tratar de um hotel convencional.

Localizada em uma fazenda de 35 mil metros quadrados que fica a cerca de uma hora e meia de carro da capital, a Selina de Bragança Paulista contará com 65 cabanas privativas prontas para alojar hóspedes mais diversos.

“Esperamos que esse hotel seja uma porta de entrada para a experiência Selina. Ele servirá para quem quer fazer ioga na natureza durante as pausas do trabalho, mas também para quem quer curtir um show ou festival que realizaremos na propriedade”, diz Lorenzetti.

Além das cabanas, o hotel manterá os espaços coletivos que fazem parte do DNA da marca: bar, restaurante, sala de jogos, cozinha, lavanderia, biblioteca e espaço de coworking.

Flávia Lorenzetti, country manager da rede Selina

O público dos hotéis Selina é majoritariamente composto por solteiros e casais sem filhos que tem entre 25 e 40 anos. Segundo a marca, a maior parte dos hóspedes são nômades digitais que querem se conectar com destinos de lazer mesmo enquanto trabalham.

Engana-se quem pensa que a moda só pegou depois da pandemia. Quando foi fundada pelos investidores panamenhos Rafael Museri e Daniel Rudasesvki, ainda em 2014, a Selina já tinha como foco ser uma startup para millennials.

Com diárias que giram em torno de 200 reais, no primeiro semestre do ano, a taxa média de ocupação dos hotéis Selina no Brasil ficou em 40%. Na alta temporada, unidades de destinos mais buscados, como Florianópolis e Paraty, costumam atingir os 100%.

Além do novo hotel em Bragança Paulista, a Selina possui mais três projetos em andamento, que devem ser inaugurados no ano que vem. Um dos hotéis ficará no estado de São Paulo e os outros dois na região Nordeste, onde a marca ainda não está presente.

Sob o modelo de negócio diferentão de hotéis por arrendamento e hospedagens que mesclam lazer e espaços de coworking, a Selina não tem nenhum concorrente direto no Brasil até o momento, mas compete com outros hotéis 4 e 5 estrelas tradicionais, como o Ibis Style. Lá fora, a rede enfrenta uma concorrência mais direta de players como Moxy Marriott, que também foca na hospitalidade para nômades digitais.

Em dezembro de 2021, a rede Selina e a Boa Acquisition Corp, empresa de aquisição para fins especiais de capital aberto, anunciaram a combinação dos negócios em um acordo de US$1,2 bilhão. Com isso, a Selina deu início ao processo de abertura de seu capital na bolsa de valores de Nova Iorque, o que deve ser formalizado neste semestre.