Ras Al Khaimah (ou RAK, como é frequentemente chamado) é o quarto maior dos sete Emirados Árabes Unidos. Distante pouco mais de uma hora de carro do aeroporto de Dubai, é também o emirado mais ao norte, já na fronteira com Omã. E resolveu apostar forte no turismo, mas totalmente na contramão do emirado mais famoso, hoje um dos maiores hubs do turismo internacional. Seu foco é a natureza.
Em Ras Al Khaimah, saem de cena os arranha-céus, as construções futurísticas, os mega malls e os painéis luminosos que fizeram a fama de Dubai e entram as montanhas, manguezais e esportes de aventura. Ali, os edifícios são baixos, brancos ou em tons cáqui, em harmonia com as cores do deserto.
Os investimentos do Sheikh Saud bin Saqr Al Qasimi em turismo nos últimos anos parecem estar rendendo frutos rapidamente. Em 2022, Ras Al Khaimah atraiu mais de 1,13 milhão de visitantes, superando os níveis pré-pandêmicos.
“Estamos vendo o crescimento continuar em 2023, com o número de chegadas de visitantes internacionais aumentando em 10,7% em relação ao mesmo período do ano passado", disse ao NeoFeed Raki Phillips, CEO da Autoridade para o turismo.
A administração de RAK quer elevar a indústria do turismo dos 5% que representa hoje no PIB para 33% em 2030 e atrair pelo menos 3 milhões de turistas e visitantes até lá.
Hoje, o emirado já abriga nove hotéis dos nichos premium e luxo, de um total de 48 propriedades e 7.369 quartos de distintos perfis - incluindo marcas como Waldorf Astoria, Ritz-Carlton, InterContinental, Mövenpick, Hilton e Radisson.
A maioria dos hotéis e resorts de luxo está localizado à beira das águas turquesas do Golfo Pérsico (ali chamado de Golfo Árabe) e até 2025 novas propriedades de marcas como Wynn Resorts, Nobu Hotels, Anantara e Sofitel chegam por ali.
De perfil econômico diversificado, mas ainda dominado pela manufatura (que hoje representa cerca de 26% do PIB), RAK tem PIB de US$ 11 bilhões para uma população fixa de cerca de 400 mil habitantes, majoritariamente expatriados - uma renda per capita de US$ 28.500.
O longo histórico de estabilidade política e social (agências internacionais como Fitch e Standard & Poor's há mais de uma década classificam o destino com distinção "A"), Ras Al Khaimah oferece a investidores estrangeiros 100% de propriedade, 100% de repatriação de capital e lucros e custos operacionais mais baixos do que a média regional. Os investimentos em turismo também estão recebendo todos esses benefícios.
"O Wynn Resorts, que será inaugurado em 2027, é o maior investimento estrangeiro direto desse tipo até o momento, com aporte de US$ 3,9 bilhões. Também planejamos dobrar o número de acomodações em Ras Al Khaimah nos próximos anos, com a adição de mais de sete mil novos quartos", explicou Phillips ao NeoFeed.
"O emirado da natureza"
Com topografia diversificada, da cordilheira Hajar a seus desertos, manguezais e 64 km de praias no Golfo Pérsico, RAK utiliza frequentemente o aposto "o emirado da natureza" em sua promoção internacional.
Jebel Jais, pico mais alto dos Emirados, a 1934 m. de altitude, viu no lançamento da Jebel Jais Flight, em 2018, um dos principais marcos para o turismo do emirado. Trata-se da mais longa tirolesa do mundo, com quase três quilômetros de extensão e que pode chegar 160 km/h de velocidade.
O local conta ainda com percurso suspenso semelhante a arvorismo, outra tirolesa mais curta, um acampamento estilo "sobrevivência", o tobogã mais longo da região e o mais alto restaurante dos Emirados Árabes, o 1484 by Puro, a 1484m. de altitude.
Além disso, abriga o camping mais alto dos Emirados Árabes Unidos, o Camp 1770, e deve ganhar ainda um lodge de luxo com 47 acomodações, 65 quilômetros de trilhas para hiking e mountain biking e experiência de paragliding a partir do seu cume.
A decisão de se promover internacionalmente como "o emirado da natureza" ajuda também o destino a funcionar como complemento de viagem a outros emirados internacionalmente mais famosos, como Dubai e Abu Dhabi.
Centro cultural do Oriente Médio
Em adição às suas belezas naturais, o destino quer se estabelecer como um centro de experiência cultural no Oriente Médio. Com registros de mais de sete mil anos de história (já foi conhecido como Julfar, Majan ou Al Seer em outros tempos), tem mais de 100 sítios arqueológicos e históricos (mais que qualquer outro emirado), incluindo ruínas e fortes como Julfar, Shimal, Al Jazeera Al Hamra e Dhayah Fort - todos na lista tentativa para se tornarem Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.
Suwaidi Pearls, a única fazenda de cultivo de pérolas nos emirados, oferece aos visitantes um vislumbre do que indústria de pérolas representou no passado do emirado, quando foi por séculos sua principal força econômica. Idealizada pelo neto de um dos últimos mergulhadores de pérolas de RAK, é hoje uma das atrações turísticas mais visitadas do emirado.
Estão restaurando também Al Jazirah Al Hamra, considerada a vila de pescadores mais bem preservada do Golfo Pérsico - construída em pedras de coral e abandonada pelos moradores no final da década de 1960. O Museu Nacional de Ras Al Khaimah, antiga residência da família governante, foi hoje convertido em um espaço para resgatar e valorizar a história e a cultura locais.
Segundo Phillips, “o desenvolvimento sustentável é chave para sustentar nosso crescimento”. Em 2021, o investimento foi de "US$ 135 milhões para mais de vinte projetos de turismo orientados a melhorar o ambiente natural."
A reserva de Al Wadi, por exemplo, trouxe de volta ao emirado os antílopes órix-das-arábias, ameaçados de extinção. O projeto tocado em parceria com o hotel The Ritz Carlton Ras Al Khaimah Al Wadi Desert transformou os nove órix que viviam no local em quase 80 e a reserva já ganhou cinco vezes mais área no deserto.
Existem atualmente outras 27 iniciativas de sustentabilidade em andamento, incluindo a reserva natural Khor Mazahmi, lar de flamingos e tartarugas verde ameaçadas de extinção.
Isso não impede que os empreendimentos imobiliários gigantescos à beira mar também estejam a todo vapor por ali, é claro. Al Hamra Village tem 7,1 milhões de metros quadrados, marina, hotéis e um campo de golfe profissional de 18 buracos.
Mina Al Arab tem 4 milhões de metros quadrados (dos quais 2 milhões são pântanos costeiros protegidos) com vilas e apartamentos de luxo.
Na ilha artificialmente criada de Al Marjan, são 23 quilômetros de orla e 2,7 milhões de metros quadrados de terra recuperada com lotes residenciais e comerciais e cinco grandes resorts.
As autoridades garantem, contudo, que mesmo com todos esses planos de crescimento acelerado a curto prazo, a ideia é manter RAK como um destino de experiências autênticas para o turista que quer fugir das multidões e do overtourism. É ver para crer.