Quanto você pagaria por um supercarro esportivo italiano do final dos anos 1980 que foi vítima de maus tratos por parte de seu dono, que o ralou, amassou, destruiu? Bem, se o carro em questão for um dos Lamborghini Countach usados (um deles destruído) por Leonardo DiCaprio no filme “O Lobo de Wall Street” (2013), prepare-se para gastar muito, muito dinheiro.
O Lamborghini branco, modelo 1989, vai ser leiloado pela RM Sotheby's no dia 8 de dezembro, em Nova York, e os lances devem chegar a US$ 2 milhões. Os organizadores não esperam que seja arrematado por menos de US$ 1,5 milhão. O carro que vai a leilão é o que ficou intacto (não há notícia do paradeiro do outro, que é fundamental nessa história).
Mas, por que um carro assim chega a essa quantia se o seu preço no mercado de usados é de “apenas” US$ 700 mil? O mito em torno deste Lamborghini foi construído em apenas 10 minutos das três horas que duram o filme dirigido por Martin Scorsese. O diretor usou dois carros iguais para as filmagens.
Um dos carros foi destruído pelo personagem central, Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio), entre 1h57min e 2h07min de filme. Ao contrário do que muitos pensam, o extravagante Belfort não estava bêbado nem havia se drogado – cenas comuns em “O Lobo de Wall Street”.
Ele estava fortemente dopado, sim, mas sem saber, por culpa de seu amigo e sócio Donnie Azoff (Jonah Hill), que havia complicado a situação jurídica de ambos e estava com medo de encará-lo.
As cenas mostram primeiro DiCaprio estacionando o Lamborghini intacto (o que será leiloado). Depois, já sob efeito da droga que havia ingerido sem saber, rolou por uma escada e rastejou aos pés do carro, como um consumidor submisso perante o objeto desejado.
DiCaprio conseguiu entrar no veículo de forma atabalhoada e, milagrosamente, dirigi-lo até sua casa sem colocar em risco o carrão esportivo. Esta é a cena que todos veem num primeiro momento.
Só uns 10 minutos depois, quando a polícia bate à sua porta e Belfort observa o estado lamentável em que o carro chegou, Scorsese enfim mostra as cenas do Lambo branco sendo destruído, batendo em tudo que encontrava pelo caminho.
No imaginário de Jordan Belfort, ele era um exímio motorista mesmo quando dirigia um carro-esporte sob forte efeito de drogas.
O valor deste carro começa a ser fabricado no imaginário do público bem no início do filme, quando Belfort ficou rico e decidiu comprar um modelo da Ferrari na cor branca. Um outro Lamborghini (amarelo) ainda apareceu no filme, mas não foi usado por DiCaprio.
O valor do Lambo de DiCaprio aumentou porque Scorsese não quis utilizar réplicas no filme. Para dar mais veracidade à cena, o diretor decidiu usar dois exemplares verdadeiros da versão.
A história do carro
O Lamborghini Countach em questão é ainda mais raro do que outros modelos da marca criada por Ferruccio Lamborghini em 1966, após se desentender com Enzo Ferrari. Ele faz parte da série especial 25th Anniversary Edition.
Enquanto o Countach original teve cerca de 2 mil exemplares produzidos no total, a edição especial contou com 658 unidades feitas entre 1988 e 1990, quando o Countach foi substituído pelo Lamborghini Diablo.
Além disso, apenas 12 unidades chegaram aos Estados Unidos com a especificação exata do modelo utilizado no filme, que traz a combinação de carroceria branca (Bianco Polo) com o interior revestido em couro branco.
Encontrado pela concessionária Curated em Miami, o Countach foi entregue para o dono de uma revenda da Lamborghini em Nova Jersey no dia 12 de julho de 1989. Ele foi alugado pela produtora do filme em 2012 e tem o chassi KLA12722. Instalado em posição central-traseira, o motor 5.2 V12 aspirado tem 455 cavalos de potência.
O câmbio é manual de 5 marchas, enquanto a tração é traseira. A edição especial de 25 anos era a mais rápida do Lamborghini Countach. Acelerava de 0 a 100 km/h em apenas 4,5 segundos e atingia 295 km/h, um número impressionante até hoje.
Visualmente, a versão de 25 anos desenhada por Horacio Pagani trazia entradas de ar maiores na dianteira e na traseira, além de saias laterais, novas lanternas e um aerofólio. As rodas aro 15 contavam com pneus de perfil 345/35, os mais largos entre os carros de produção em 1988.
Como todo carro vendido nos Estados Unidos na época, ele conta com algumas modificações exclusivas para o mercado americano, como os piscas laterais em laranja e os polêmicos para-choques avantajados, que são capazes de absorver impactos de até 8 km/h. Essa era uma exigência do Departamento de Transportes dos EUA entre os anos 1970 e 1990.
Outros carros famosos do cinema
Além do Lamborghini Countach de “O Lobo de Wall Street”, outros carros famosos do cinema já bateram recordes em leilões recentes.
É o caso do Nissan Skyline GT-R 2000 utilizado por Paul Walker em “Velozes e Furiosos 4” (2009), que foi arrematado em maio deste ano por US$ 1,357 milhão, mais de 10 vezes o valor do veículo original. A franquia de “Velozes e Furiosos” também teve o icônico Toyota Supra do primeiro filme vendido por US$ 550 mil.
No entanto, o valor do Countach ainda fica distante de modelos como a réplica do Aston Martin DB5 utilizado no filme “007 - Sem Tempo Para Morrer” (2021), que chegou a US$ 3,175 milhões em 2022, ou o primeiro Batmóvel da série televisiva (1966), vendido em 2013 por US$ 4,6 milhões.
Será que vale tudo isso para ter na garagem um sucesso de bilheteria? Pelo valor de uso, jamais. Pelo valor de troca, também não. Mas, pelo valor fabricado no imaginário, o céu é o limite.