Na operação de 22 unidades no Brasil (a maior parte em São Paulo), a rede Blue Tree Hotels chegará a 30 empreendimentos no País em dois anos. No plano de expansão, está o retorno para a cidade do Rio de Janeiro, onde a empresa manteve um hotel até 2019, um pouco antes da pandemia da Covid-19.
Mas, para a fundadora e CEO da Blue Tree, Chieko Aoki, há um desafio que precisa ser superado para cumprir essa jornada e que afeta, de certa forma, todo o turismo brasileiro: a crise de segurança no município fluminense.
“O que aconteceu no Rio de Janeiro arranha a imagem do Brasil no exterior. De alguma forma, afeta o turismo. Quem vai para lá quer saber quais as medidas que serão tomadas para garantir a tranquilidade do morador e do turista”, diz Aoki, em entrevista ao NeoFeed.
A empresária refere-se ao episódio envolvendo uma megaoperação policial contra o crime organizado, realizada em 29 de outubro, nos complexos do Alemão e da Penha, e que resultou em 121 mortes, incluindo quatro policiais.
No entanto, ela acredita que, dada a gravidade da situação e da enorme repercussão nacional e internacional do caso, inclusive com iniciativas para mudança na legislação, não há outro caminho agora a não ser resolver de frente a questão e encontrar saídas definitivas para o problema.
“O governo federal precisa ter muita consciência disso e redobrar o investimento na imagem do Brasil. Também acho que o setor precisa contribuir com isso. É nossa obrigação também contar as iniciativas que serão tomadas para conter esse problema”, afirma Aoki.
“Tenho falado sobre isso a investidores. Digo que demora, não é de um dia para o outro, mas afirmo que eles podem seguir apostando no Brasil. Os empresários ficam preocupados, mas o País tem muito a mostrar. E as ações do governo importam demais”, complementa.
Na visão dela, é importante que haja uma força-tarefa para realizar as mudanças e, na sequência, apresentar à sociedade. A empresária é vice-presidente da São Paulo Convention Bureau, entidade que congrega empresas e associações para fomentar o mercado de turismo na cidade e no País.
A importância em garantir a percepção de que há segurança no Brasil, principalmente nas principais rotas turísticas brasileiras, como o Rio de Janeiro, está ancorada no crescimento do volume de passageiros do exterior que desembarcam em solo brasileiro.
Dados da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) mostram que, de janeiro a outubro deste ano, o País registrou a vinda de 7,68 milhões de turistas internacionais, um aumento de 42,2% sobre o mesmo período de 2024.
Com isso, a perspectiva é de que as cidades brasileiras recebam, até o fim do ano, cerca de 9 milhões de turistas estrangeiros. Em 2024, foram 6,7 milhões.
Questão de segurança à parte, Aoki enxerga que o momento econômico é bom para o retorno ao Rio de Janeiro. “Saímos por uma decisão de negócios naquela época. Hoje o cenário é outro, com a volta de grandes eventos. Além do Rio de Janeiro, já temos vários locais em negociação. Há muitas oportunidades no Brasil”, diz.
Ela não revela quais os outros destinos que receberão os hotéis da Blue Tree.
A força do turismo corporativo
De qualquer forma, a rede liderada por Aoki ainda aposta no turismo corporativo e de eventos, que, de certa forma, está relacionado diretamente à capacidade hoteleira para garantir a presença do público nas cidades. E a preferência faz sentido.
Levantamento realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), em parceria com a Associação Latino-Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev) mostra que, entre janeiro e agosto de 2025, o mercado de viagens corporativas movimentou R$ 93 bilhões, alta de 7% sobre a mesma base de 2024 (R$ 86,9 bilhões).
“As empresas voltaram a realizar eventos, como congressos médicos. Grandes ações de entretenimento em São Paulo, como a Fórmula-1 e festivais de música como o The Town, também são fundamentais para o turismo. E para isso é necessário que o Brasil esteja atrativo”, afirma Aoki.
Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Prefeitura de São Paulo, o impacto econômico da etapa brasileira do campeonato de automobilismo, no fim de semana de 7 a 9 de novembro, chegou a R$ 2,3 bilhões, crescimento de 9,7% sobre a corrida de 2024.
Do volume de público que frequenta os hotéis da Rede Blue Tree no País, 60% vêm do segmento corporativo, que inclui a procura de hóspedes em períodos dos grandes eventos.
“Quem vem para um evento, volta depois com a família e vira um turista de fato. O turismo é transversal e é uma indústria que ajuda a fomentar a economia do Brasil”, afirma a empresária.
“E a gente acaba garantindo mais visibilidade e desenvolvimento para as cidades, como Lins, por exemplo, em que a nossa rede tem um hotel. Essa atividade é estratégica. E o governo precisa estar consciente disso”, complementa.
Nesse sentido, a partir da importância da visão do governo para a força do turismo, em especial sobre a hotelaria, a fundadora da Blue Tree entende que a decisão do Ministério da Fazenda em encerrar, em abril, o incentivo ao setor por meio do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), foi equivocado.
Para ela, o ideal teria sido rever quais os segmentos prioritários que precisariam seguir com o benefício fiscal e manter para uma parcela do setor, do que eliminar o programa de vez, que foi criado durante a pandemia justamente para apoiar durante o auge da crise sanitária.
“Precisava ter feito uma seleção melhor, porque entrou muito setor que não tinha uma relação direta com a indústria do turismo. Muitos países garantem essa isenção para fomentar o setor. Agora, o Brasil ficou sem esse apoio”, conta Aoki.
A empresa não revela o faturamento, mas a perspectiva é de registrar um crescimento de 15% em 2025. No ano passado, o grupo acumulou 12% de alta na receita bruta. A inauguração de novos hotéis ajuda a sustentar esse plano.
Em setembro deste ano, a Blue Tree abriu a unidade de Sorriso (MT), focada no agronegócio e para o público corporativo. Em maio, inaugurou hotel em Ribeirão Claro (PR), que funciona como um resort.
Dos 22 hotéis, sete estão na capital e Grande São Paulo, cinco no interior paulista, cinco na Região Sul (um no Paraná, dois em Santa Catarina e dois no Rio Grande do Sul), três no Nordeste (um no Ceará, um no Piauí e um no Maranhão), um em Manaus (AM) e outro no Mato Grosso.