O reuso da água tem sido uma importante fronteira em meio às mudanças climáticas e à necessidade de preservação dos recursos hídricos, menos para o consumo humano. Onde todos enxergam um copo vazio, a empresa americana Richard’s Rainwater viu um copo cheio de água da chuva.
Na quinta-feira, 12 de janeiro, a empresa anunciou a parceria com a cervejaria Faubourg Brewing Co., da Made By The Water, para a construção da maior instalação de captação de chuva do mundo. Previstos para coletar cerca de 8 milhões de litros, os tanques estão em Nova Orleans, uma das cidades onde mais chove dos Estados Unidos.
Os novos sistemas vêm se somar às duas outras plantas da Richard’s Rainwater. Em 2022, esses locais captaram 16 milhões de litros de água da chuva. Graças à tecnologia desenvolvida pela empresa, a água é coletada antes de chegar ao solo, o que permite à fabricante dispensar o uso de flúor ou cloro, entre outros compostos.
A última rodada de investimentos, em março do ano passado, elevou o total de aportes, segundo o portal Crunchbase, a quase US$ 20 milhões. Para 2023, a projeção é de uma receita de US$ 10 milhões.
A Richard’s Rainwater é vendida hoje em redes de supermercados como Whole Foods, Sprouts e Central Market. No site da empresa, o pacote com 24 garrafas de água da chuva de 354 mililitros cada custa cerca de US$ 35.
“Estamos em uma jornada de água mais limpa, coletada com responsabilidade, significativamente melhor do que a água fornecida pelos municípios ou engarrafada, de marcas sofisticadas, que viajam de uma única fonte no planeta para o resto do mundo, o que implica em alta pegada de carbono”, diz Taylor O’Neil, CEO da operação, em comunicado.
A demanda por produtos como os da Richard’s Rainwater aumenta no mesmo ritmo da preocupação dos consumidores com a origem dos alimentos e bebidas que ingerem. Além disso, a escassez hídrica que ameaça a segurança alimentar global impõe aos sistemas agroalimentares a busca por novas fontes de água. A de reuso, como é a da chuva, pode ser uma saída.
Até 2027, o mercado de captação de água da chuva deve avançar a uma taxa anual de crescimento composta de 4,3%, atingindo US$ 1,8 bilhão, nos cálculos da Research and Markets. Em 2021, o setor movimentou US$ 1,4 bilhão. Nessas contas estão incluídos os sistemas de coleta para uso doméstico, comercial, agrícola e para consumo humano.
Água mole, roupa dura
Em 1994, quando pouco se falava sobre as ameaças impostas pela escassez hídrica ao planeta e à humanidade, o empresário americano Richard Heinichen decidiu captar água da chuva para uso doméstico ao se mudar para o rancho da família em Dripping Springs, no Texas.
No entanto, ele logo perceberia que usar a água sem tratamento não daria certo. Por causa do cálcio, se usada para lavar roupas, deixava as calças, camisas e vestidos duros. O mesmo acontecia com o cabelo. “Sempre nos sentíamos pegajosos, depois do banho”, lembra ele.
Hippies, como o próprio Heinichen define a si e sua esposa, o casal decidiu estudar como purificar a água da chuva. “Depois de provar aquela água fedorenta, nossos esforços de pesquisa entraram em ação. Instalamos calhas freneticamente, compramos nosso tanque e levamos tubulações de cá para lá”, conta. Deu certo. “Nosso cabelo recuperou a maciez e conseguimos dobrar nossas roupas sem quebrá-las.”
Em agosto de 1998, o empresário fundou a Tank Town, empresa de venda e instalação de sistemas para captação de água da chuva. Mais algumas pesquisas e, quatro anos depois, com a aprovação da FDA, a rigorosa agência americana de controle de alimentos e remédios, Heinichen lançou a Richard’s Rainwater, pioneira no mercado de coleta, purificação, envasamento e venda de água da chuva para consumo humano.
Até 2017, Heinichen fazia da produção de água da chuva seu hobby. Contava com a ajuda de três funcionários, apenas três vezes por semana, e vendia cerca de US$ 100 mil por ano. Naquele ano, ele se aposentou e repassou a marca para O’Neil, o atual CEO, e outros investidores.
Com a profissionalização, o negócio explodiu. E, na torneira da Richard’s Rainwater, água da chuva é para beber.