Batizada de fruta-dos-monges, a luo han guo é uma das promessas da ciência na busca por adoçantes naturais. Até 250 vezes mais doce do que o açúcar de mesa, é zero calórica e não deixa aquele retrogosto amargo na boca, como acontece com a maioria dos edulcorantes disponíveis no mercado hoje em dia.
Pioneira no trabalho com a fruta-dos-monges, a americana Elo Life Systems acaba de levantar US$ 24,5 milhões, em uma rodada de investimentos de série A, liderada pela AccelIR8, Novo Holdings e DCVC Bio. A empresa de biotecnologia conseguiu resolver um dos maiores entraves à comercialização de adoçantes à base da fruta-dos-monges: a produção em larga escala.
Como o acesso à fruta é difícil, tudo o que vem dela é caro – 454 gramas do adoçante não saem por menos de R$ 230. Mas, usando as tecnologias de edição gênica, os cientistas da Elo Life Systems conseguiram transformar uma fruta, digamos, "mais vulgar", como a melancia, em “fábrica” de açúcar da fruta-dos-monges.
Para tanto, eles identificaram a “genética superdoce” do alimento chinês e a incorporam ao DNA dos outros alimentos. Atualmente, o portfólio de culturas testadas já conta com cerca de 20 novos vegetais, como sorgo, beterraba, tomates e até verduras.
Além do cultivo de espécies diferentes, os pesquisadores da Elo Life Systems estudam a criação de adoçantes de diferentes intensidades. Para se ter ideia do poder edulcorante da fruta-dos-monges, entre 4 e 10 gramas do adoçante chinês equivalem a um quilo de açúcar, segundo o Conselho Internacional de Informação Alimentar.
O objetivo, segundo Todd Rands, CEO da Elo Life Systems, é lançar o primeiro adoçante até 2025. “Todo o setor alimentar tem interesse em um produto desse gênero”, diz o executivo. “Estamos trabalhando para produzir um ingrediente estável e acessível.”
A Elo Life Systems nasceu como subsidiária da farmacêutica Precision BioScience, de desenvolvimento de terapias gênicas. Fundada em 2006, a companhia está avaliada em US$ 124,3 milhões. Em 2021, as duas se separaram. De um lado, a Precision BioScience, dedicada à terapêutica humana. Do outro, a empresa de biotecnologia, focada em agricultura e destinada ao produção de novos alimentos.
“Crescemos cerca de 60% no ano passado”, comemora Radds. “Dobramos nosso espaço de laboratório e escritório. Além disso, estamos em processo de crescimento, o que nos permite fazer mais e ir mais rápido.”
A inovação da empresa de Durham pode vir a se transformar em uma importante ferramenta de combate à epidemia de açúcar que assola o mundo. O uso exagerado do carboidrato está associado a uma série de doenças crônicas – obesidade, diabetes, distúrbios cardiovasculares e até alguns tipos de câncer.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de açúcar não deve ultrapassar 5% do total calórico. Em uma dieta de 2 mil calorias, isso equivale 25 gramas por dia; cerca de cinco colheres de chá – o brasileira ingere o dobro disso.
Mas, atenção! Essa quantidade abrange tanto os açúcares adicionados pela indústria quanto por nós no preparo dos alimentos e/ou à mesa. A título de ilustração, uma lata de refrigerante à base de cola tem 37 gramas de açúcar.
Um adoçante natural, como o da fruta-dos-monges, que não engorda, não deixa gosto ruim na boca e não provoca cárie tem tudo para atrair um mercado global avaliado em cerca de US$ 3,2 bilhões. E em franca expansão, previsto para atingir quase US$ 6 bilhões, em 2028,a uma taxa de crescimento anual composta de 9,4%, segundo a consultoria Market Research.