Há quase um ano, em 2 de março de 2022, a empresa canadense GHGSat, de dados ambientais, detectou, a partir de imagens de satélite, uma nuvem de metano sobre a região central da Califórnia, nos Estados Unidos.
Uma das fontes mais importantes para o aquecimento global, o gás vinha de fazendas de gado, localizadas no Vale de San Joaquin. Aquele foi o primeiro registro a relacionar o CH4 à produção agropecuária, a partir de informações vindas do espaço.
Medições semelhantes já haviam flagrado vazamentos de gases de efeito estufa (GEE) em plataformas de petróleo em alto mar, como a ocorrida em dezembro de 2021, no Golfo do México, por exemplo. É por alertas como esses que as tecnologias de satélites vêm sendo apontadas como uma importante ferramenta para a mitigação climática.
Em relatório recém-lançado, analistas do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) são categóricos: se adotada em larga escala, a última geração de satélites pode levar a economia global a atingir o patamar de carbono zero em 2040, dez anos antes do previsto.
“Embora isso não sugira que o espaço seja a principal solução para enfrentar as mudanças climáticas, nosso estudo mostrou que seu potencial é significativamente subestimado”, escrevem os cientistas, no relatório 5 Ways Satellite Technologies Can Help Reduce Emissions.
O trabalho do WEF é o primeiro a quantificar a quantidade de carbono que deixaria de ser lançada anualmente na atmosfera, graças aos satélites. Foram avaliados cinco setores da economia, responsáveis por 60% das emissões globais de GEE. Entre a aviação, energia e transporte marítimo, rodoviário e ferroviário, a agricultura é uma das áreas que mais têm a se beneficiar com os serviços espaciais.
Do modo com o qual a cadeia agroalimentar opera atualmente, a tecnologia já permite evitar ou sequestrar 0,3 gigatonelada de carbono. “Com a adoção universal de satélites, esse volume pode aumentar para 1,9 gigatonelada”, lê-se no artigo do WEF. A título de comparação, essa é quantidade de GEE despejados no ar pelo Brasil, ao longo de 2018.
As vantagens do uso de satélites no campo vai além da contagem da poluição, o que já seria muito, sobretudo em países como o Brasil, escassos em dados. Captados em tempo real e transformados em imagens de alta resolução, os dados vindo espaço permitem aos fazendeiros controle total sobre suas lavouras e criações. Eles ganham rapidez e precisão. Uma praga começou a atacar a plantação? Imediatamente, o agricultor é avisado. Com isso, a produção agropecuária torna-se mais sustentável, rentosa e resiliente.
Associados a sistemas baseados em internet das coisas (IoT, em inglês), inteligência artificial e ciência de dados, esses pequenos grandes irmãos espaciais ajudam a determinar a qualidade do solo, poupar recursos naturais, em especial a água, e até diminuir o uso de insumos agrícolas. Os satélites tornam as operações com tratores autônomos e drones automatizados para o monitoramento das colheitas mais seguras e eficientes.
Fotos espaciais, combinadas com um algoritmo projetado para a função, determinam o estágio de desenvolvimento e crescimento de cada pé da lavoura. Mapas, criados a partir do Índice de Vegetação de Diferença Normalizada (NDVI, em inglês), indicam a saúde de uma cultura com base no modo como a planta reflete a luz solar.
“Algumas dessas tecnologias são mais simples de implementar do que outras. Mas as barreiras à adoção não são tecnológicas”, dizem os especialistas do WEF. “O desafio é a falta de investimento econômico e integração das tecnologias espaciais. É hora dos governos e das lideranças corporativas olharem para o espaço como uma opção da vida real para enfrentar as mudanças climáticas.”