Em tempos de emergência climática, alguns inovadores do sistema agtech se dedicam a acelerar processos que a natureza levaria muito tempo para concluir. Graças aos avanços da biotecnologia, eles oferecem as condições perfeitas para que as plantas sejam as melhores versões de si mesmas e se adaptem às configurações de um planeta ameaçado pelo aquecimento global.
Os americanos Maddie Hall e Patrick Mellor, por exemplo, resolveram aumentar o poder de captação de CO² das árvores. Em 2019, os californianos de São Francisco fundaram a Living Carbon, uma startup de aprimoramento de fotossíntese.
Na terça-feira, 17 de janeiro, a empresa recebeu US$ 21 milhões, em uma rodada de investimentos liderada pela Temasek, com a participação da Toyota Ventures, Lowercarbon Capital, Felicis Ventures e outros investidores-anjo. Com o aporte, o financiamento total da empresa sobe para US$ 36 milhões.
O sequestro de gás carbônico pelas plantas acontece durante a fotossíntese. No processo de produção de energia, as espécies captam o carbono da atmosfera e o transformam em glicose, produzindo assim o alimento necessário para seu crescimento e desenvolvimento.
Por meio da edição gênica, Maddie e Patrick modificaram o DNA do álamo e criaram uma versão, digamos, mais “gulosa” da árvore nativa das regiões úmidas, do hemisfério norte. As "superárvores" da Living Carbon crescem 50% mais rápido e absorvem 27% a mais de carbono, em comparação às mudas de controle.
Com o dinheiro dos venture capital, os fundadores da empresa pretendem produzir e plantar de 4 milhões a 5 milhões de álamos, nos estados americanos de Pensilvânia e Geórgia. Vão investir também no projeto de desenvolvimento de árvores que absorvam também níveis mais altos de metais, o que retardaria o apodrecimento das plantas.
O modelo de negócio idealizado por Maddie e Patrick prevê a venda de sementes para que as espécies geneticamente modificadas sejam incorporadas às lavouras, no sistema de agricultura regenerativa. Eles também planejam, a partir das plantações da empresa, comercializar créditos de carbono.
O aprimoramento da fotossíntese não é uma invenção da Living Carbon. Nos últimos anos, cientistas do mundo todo vêm estudando formas de tornar as espécies vegetais mais nutritivas, mais resistentes às intempéries e às pragas e mais duráveis. Para os especialistas, essa é uma frente de pesquisa promissora para garantir a segurança alimentar global, preservando e regenerando as já tão degradas terras agrícolas.
Tecnologia à venda
Em junho de 2022, a Chan Zuckerberg Initiative, organização do fundador da Meta, Mark Zuckerberg, e sua mulher Priscilla Chan, repassou US$ 11 milhões para o Innovative Genomics Institute (IGI), da bioquímica americana Jennifer Doudna, ganhadora do Prêmio Nobel de Química, de 2020.
Em parceria com a geneticista francesa Emmanuelle Charpentier, em 2012, Jennifer desenvolveu a CRISPR/Cas9, uma ferramenta de edição gênica mais precisa, eficiente, rápida e barata do que as oferecidas no mercado.
Batizada “tesoura genética”, a tecnologia permite cortar e excluir (ou substituir), com muita precisão, trechos específicos da fita do DNA e, assim, controlar a síntese de determinadas proteínas, para a criação de plantas economicamente desejáveis.
Sob o comando da bioquímica, os pesquisadores do IGI trabalham atualmente no desenvolvimento de um arroz mais adaptado a solos estéreis. Eles investigam também a criação de um tipo de sorgo, cereal usado na ração animal, que sequestre mais CO² do que suas contrapartes originais.
O mercado global de venda de tecnologias de edição genômica deve movimentar US$ 12,04 bilhões, em 2026, a uma taxa de crescimento anual de 14,4%. As estimativas da The Business Research Company incluem os negócios fechados também na saúde, e não apenas no setor agroalimentar.
Como sempre acontece quando se fala em modificação genética, as tecnologias de melhoramento da fotossíntese desperta a crítica dos ativistas ambientais. Já existe até uma organização dedicada ao tema, a The Campaign Stop Genetically Modified Trees.
“Nossa missão é proteger as florestas e a biodiversidade e fornecer apoio às comunidades ameaçadas pela perigosa liberação ambiental de árvores geneticamente modificadas”, lê-se no manifesto do grupo americano. “O impacto na natureza é imprevisível, incontrolável e irreversível.”
Os cientistas, no entanto, argumentam que as técnicas mais modernas de edição gênica em nada lembram a transgenia. As novas tecnologias não usam DNA exógeno, mas trabalham com variações genéticas da própria espécie. O que eles fazem é dar uma mãozinha para a natureza.