Tido como vilão do aquecimento global, o carbono, nas quantidades ideias, é essencial para a manutenção da vida no planeta. Em uma das etapas do ciclo natural do gás, por meio da fotossíntese, as plantas retiram o CO² da atmosfera e o depositam no solo.

Lá, os microrganismos convertem a substância em material orgânico. E, um solo “bem alimentado” facilita a infiltração e a retenção de água — consequentemente as lavouras crescem mais robustas e saudáveis.

Do modo como a agricultura é praticada hoje, com o uso intensivo de máquinas pesadas e excesso de fertilizantes e pesticidas sintéticos, o solo empobrece e perde a capacidade de capturar CO².

Na busca por sistemas agroalimentares mais sustentáveis, resilientes às mudanças climáticas e produtivos, várias empresas do ecossistema de inovação agtech surgem com novas propostas para aumentar o poder de absorção de carbono pelo solo.

Em Macclesfield, cidade do condado de Cheshire, no noroeste da Inglaterra, Wayne e Ross Mulhall, pai e filho, inventaram de usar micróbios na fabricação de um biomaterial à base de CO², capaz de melhorar a retenção de água junto às raízes das plantas. Até agora, a ideia vem agradando os capitalistas de risco.

A CroBio, fundada em 2019, por eles, acaba de levantar cerca de US$ 1,6 milhão, em uma rodada seed capitaneada por um grupo de financiadores dos Estados Unidos, incluindo a Fundação Grantham para Proteção do Meio Ambiente (TGF, na sigla em inglês).

Sediada em Boston, a entidade foi criada em 1997 por Jeremy e Hannelore Grantham — ele, fundador da GMO LLC, empresa de gestão de investimentos, com US$ 61 bilhões sob administração. Também participaram do aporte a SOSV e Ponderosa Ventures, com apoio do Grupo Catapult Ventures.

Com os cheques de agora, o total arrecadado pela startup de Macclesfield sobe para US$ 2,7 milhões, conforme a plataforma Crunchbase.

Executivo do setor de energia, tendo passado por companhias como Rolls Royce e Siemens, Wayne ocupa o cargo de CEO da CroBio. PhD em química, com especialização em biomateriais, Ross, o de CSO.

Sob o comando dos Mulhall, a equipe de P&D da startup desenvolveu uma cepa de bactérias geneticamente modificadas para atuar nos líquidos eliminados naturalmente pelas raízes das plantas, durante o processo de conversão de carbono em nutrientes.

O esgotamento das terras agrícolas leva a uma perda de US$ 400 bilhões, por ano

Executivo do setor de energia, Wayne Mulhall é o CEO da CroBio. PhD em química, Ross ocupa o cargo de CSO (Crédito: Reprodução LinkedIn)

Graças aos avanços da biotecnologia, os microrganismos são programados para transformar esses compostos (“exsudados”, no jargão científico) em celulose -, elemento responsável pelo formato, rigidez e sustentação da parede das células vegetais.

No processo desenvolvido nos laboratórios da CroBio, a celulose funciona como uma esponja retendo a água e, por tabela, o carbono no solo, impedindo, assim, que o gás se dissipe na atmosfera.

“As secas são um ciclo de feedback criticamente negligenciado que agrava as alterações climáticas. Estamos entusiasmados por apoiar a missão da CroBio de melhorar a resiliência da agricultura”, diz Sam Lefkofsky, da Fundação Grantham para a Proteção do Meio Ambiente, em comunicado.

Segundo maior depositário de carbono na natureza, depois dos oceanos, o solo é um ecossistema com grande biodiversidade. É impossível pensar o futuro da alimentação sem considerar a urgência de recuperação da saúde da terra.

Metade da área agrícola global, no entanto, está esgotada, o que leva a uma perda de produtividade da ordem de US$ 400 bilhões anuais, alertam os analistas do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês).

Adotadas até 2030 em larga escala, práticas que combinem a produção de alimentos com a restauração e fortalecimento do solo, como as propostas pela agricultura regenerativa, pode gerar negócios de US$ 1,4 trilhão, por ano, e criar 62 milhões de novos postos de trabalho.

Tecnologias, como as desenvolvidas pela CroBio, podem ser uma ferramenta importante rumo a um futuro mais verde.