Instalado no 4º Distrito, em Porto Alegre, o imóvel de 33 mil metros quadrados que já abrigou operações como a fábrica Tecidos Guahyba foi arrematado em um leilão, em 2019, por R$ 6,9 milhões. Desde então, o autor do lance vencedor é guardado a sete chaves e as portas do local seguem fechadas.

Agora, após esse silêncio de mais de quatro anos, o prédio acaba de ganhar um novo inquilino. Quem vai reocupar o lugar é o seu “vizinho” do outro lado da rua: o Instituto Caldeira, hub de inovação criado em 2019 por um grupo de 42 empresas gaúchas. Entre elas, Agibank, Renner, Banrisul, Panvel e SLC.

Ao conectar os dois imóveis, o Caldeira vai ampliar sua área total de 22 mil para 55 mil metros quadrados, com um aporte de R$ 120 milhões. E as novidades não se esgotam nessa expansão. O instituto também quer estender seus limites com o lançamento de um fundo de investimento.

“Esse passo que estamos dando nos aproxima da materialização do sonho que tínhamos, lá no início, de consolidar, muito além de um hub, um distrito de inovação”, diz Pedro Valério, diretor-executivo do Instituto Caldeira, em entrevista ao NeoFeed.

No caminho para dar esse salto, o instituto antecipou algumas etapas. Em março de 2021, ao abrir oficialmente suas portas, a projeção era ocupar 100% dos 22 mil metros quadrados iniciais num prazo de oito a dez anos. A projeção se transformou em realidade em menos de três anos.

Atualmente, 130 companhias dividem o espaço físico do hub, entre médias e grandes empresas, como a Vulcabras, até startups. O local abriga ainda estruturas de nomes como Sebrae e Detran, e de órgãos como o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e as secretarias da Fazenda da capital e do estado.

Além desses residentes, um total de 480 empresas estão conectadas ao ecossistema do Caldeira, por meio de eventos e iniciativas como programas de aceleração e de inovação. E, segundo a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, hoje, cerca de 15% do PIB gaúcho já têm relação direta com o hub.

Agora, boa parte da expansão será financiada justamente por essa comunidade. Como entidade sem fins lucrativos, o instituto, que faturou R$ 25 milhões em 2023, reinveste tudo na operação. E, nesse caso, irá custear as instalações compartilhadas por startups que ainda têm poucos recursos.

Na outra ponta, o Caldeira tem um acordo com os donos do imóvel, agora revelados - a família Bianchini, da Plasbil Revestimentos – para que, à medida que o prédio for sendo ocupado, as receitas obtidas sejam compartilhadas entre as duas partes. A conta exata nessa divisão não foi divulgada.

Renovável, o contrato com o clã Bianchini é válido por 20 anos e a projeção é alcançar a ocupação total em cerca de sete anos. Nesse calendário, a expansão será feita em algumas etapas. Com obras já iniciadas, a primeira envolverá uma área de 3,5 mil metros quadrados e um aporte de R$ 10 milhões.

Em fase de assinatura de contratos, Valério não divulga os nomes das empresas que irão financiar essa etapa inicial. Ele ressalta, porém, que a previsão é começar a receber os novos residentes no primeiro trimestre de 2025 e traz um termômetro de como está a demanda para preencher esses espaços.

Pedro Valério, diretor-executivo do Instituto Caldeira

“Nós temos cartas de intenção com oito startups, uma instituição financeira, duas empresas de tecnologia e uma instituição de ensino”, afirma. “Além de uma lista com cerca de 25 companhias que já demonstraram interesse em vir para o instituto.”

A chegada da instituição de ensino se conecta com uma das tantas iniciativas do hub, o Geração Caldeira, programa de capacitação para alunos da rede pública. Com o apoio de nomes como Amazon, Microsoft e Google, a iniciativa inclui vagas de emprego em empresas como Agibank, Renner e iFood.

Há outros metros quadrados já reservados na nova estrutura. Parte deles será ocupada por três Startups Village, como são chamados os espaços compartilhados por empreendedores e startups ainda em estágio inicial. Hoje, o hub já tem três centros desse porte em sua instalação original.

O reforço na estrutura disponível para eventos é mais um exemplo. Atualmente, o Caldeira tem quatro espaços com essa finalidade e o maior deles abriga cerca de 150 pessoas. Nessa expansão, está prevista a construção de ao menos uma área para receber aproximadamente 700 pessoas.

Em 2023, entre iniciativas do próprio Caldeira ou de empresas e instituições, residentes ou não, o hub foi o palco de 450 eventos. Em média, cerca de 2 mil pessoas circulam diariamente pelo local. “Com essa expansão, a previsão é chegar a 5 mil já no fim de 2025”, diz Valério.

Fundo de investimento e novas fronteiras

Um outro número já está no radar do instituto. Em uma aproximação com gestoras de todo o País, o Caldeira já articula a criação de um fundo de investimento próprio. Ainda em gestação, o projeto tem previsão de lançamento nesse primeiro semestre de 2024.

“Estamos conversando com gestoras independentes em âmbito nacional, até porque tivemos uma demanda nessa direção”, afirma Valério. “Obviamente, o foco que estamos arquitetando é contribuir para o desenvolvimento de startups da região Sul.”

Enquanto isso, o Caldeira já está ampliando as iniciativas voltadas a essas startups. As mais recentes envolvem os programas KickStart, destinado a empreendedores em início de jornada e que estão tirando suas ideias do papel, e MVP, para empresas já em fase de teste e validação de seus projetos.

O Instituto Caldeira foi palco de 450 eventos em 2023

Ainda no escopo de estender suas conexões e domínios, o instituto promove o Go Global, programa de internacionalização de startups, por meio da participação de eventos e aberturas para parcerias no exterior.

Nesse contexto, o Caldeira já tem acordos firmados com hubs de inovação e empresas em países como Canadá, Portugal e Israel, país onde um dos parceiros é a IBM. Nesse mapa, a conexão mais recente foi feita em dezembro, com o Uruguay Innovation Hub.

De “volta” ao Brasil e em direção à consolidação do conceito de distrito de inovação, Valério chama atenção para o fato de que a paisagem do bairro Navegantes, onde está instalado o hub e, até pouco tempo, uma região degradada na capital gaúcha, não estar restrita ao Caldeira.

“Hoje, temos ainda um shopping que passou por uma grande reformulação e conta com mais de 20 operações de gastronomia, restaurantes e bares para essa comunidade”, diz. “Então, com essa expansão, o Distrito Caldeira vai chegar, de fato, a mais de 100 mil metros quadrados.”