Dor de cabeça, enjoo, sede, confusão mental e cansaço; não à toa, há os que definem a ressaca como “uma lembrança de nosso organismo de como somos idiotas”. Do ponto de vista fisiológico, a estupidez se traduz em moléculas de acetaldeído, acumuladas no trato intestinal inferior. Subproduto do metabolismo do álcool, a substância é a responsável pelo indefectível mal-estar depois de uma noite de excessos etílicos.
PhD em microbiologia e imunologia, o americano Zack Abbott promete ter descoberto uma forma de degradar o acetaldeído e, assim, nos livrar da penúria física e o constrangimento moral. Em parceria com Stephen Lamb, em 2017, ele fundou a Zbiotics.
De olho em um mercado de US$ 2 bilhões globais e previsto para chegar a US$ 6 bilhões, em 2030, a biotech desenvolveu o primeiro probiótico antirressaca do mundo. A inovação rendeu aos cofres da startup cerca de US$ 14 milhões em investimentos, vindos de Y Combinator, Indiegogo, Plug and Play Accelerator, Greenhouse Accelerator e Oyster Ventures. Com receitas em torno de US$ 5 milhões, há cinco meses, a Zbiotics atingiu o breakeven.
Batizado B. subtilis ZB183, o novo produto consiste em microrganismos geneticamente modificados. Depois de quatros anos enfurnados no laboratório da empresa, em São Francisco Abbott e Lamb conseguiram transformar a Bacillus subtilis, uma bactéria do bem, encontrada no trato intestinal humano, em minifábricas de ALDH, a enzima responsável pela degradação de acetaldeído.
Diferentemente da maioria dos inovadores do ecossistema biotech, Abbott e Lamb optaram por engarrafar e vender os microrganismos vivos, em vez da enzima já pronta. Com o aval das autoridades sanitárias americanas quanto à segurança do produto, o ZB183 é vendido em garrafinhas de 45 milímetros, a cerca de US$ 10. O ideal, conforme a bula, é consumi-lo duas horas antes de beber.
A maior parte do álcool é metabolizado no fígado - a um ritmo de processamento de 75 mililitros de bebida por hora; o equivalente a um quarto de uma garrafa de cerveja. Se a quantidade de bebida é maior ou a ingestão, mais acelerada, uma parte do álcool fica retida na porção inferior do trato intestinal, que não foi programada para lidar com uísque, cerveja ou vinho. Bate a ressaca.
Com o ZB183, quando o álcool chega ao intestino, uma porção de moléculas de ADHL está lá, à sua espera. A partir desse momento, as moléculas de etanol são quebradas pela enzima até que se transformem em gás carbônico e água e sejam, naturalmente eliminadas pelo organismo.
Estudos in vitro conduzidos pela Zbiotics mostram que, meia hora depois de algumas doses de álcool, sem o probiótico, a concentração de acetaldeído é 55% maior. Apesar dos resultados promissores, o ZB 183 não é um "liberou geral" para a bebedeira. As bactérias são ótimas, mas não são fábricas de produção ilimitada de enzima. Bom senso segue a melhor estratégia contra os estragos da bebedeira.