Uma das primeiras visitas que o cientista alemão Albert Einstein (1879-1955) fez ao chegar a Londres, no fim de julho de 1933, foi ao Parlamento britânico. Ao assinar o livro de visitantes da instituição, escreveu no espaço destinado a informar seu endereço: “Sem local definido.”

Apesar de vencedor do prêmio Nobel de Física em 1921 e grande celebridade científica de seu tempo, Einstein havia se tornado um perseguido político. Ele viajava a convite do deputado e jornalista Oliver Locker-Lampson, que lhe acenou com um asilo e defenderia o pedido em um discurso na Câmara dos Comuns.

Einstein sabia que não poderia mais voltar à Alemanha, sua terra natal, onde fizera a carreira e a fama. Em fevereiro de 1933, soldados da Gestapo, a guarda pretoriana de Adolf Hitler (que seria oficialmente empossado chanceler em 23 de março), começou a rondar o apartamento da família de Einstein em Berlim.

Cinco dias após a subida ao poder de Hitler, Einstein e a mulher, Elsa, fugiram para a Antuérpia. Ali, entregaram os passaportes e renunciaram à cidadania alemã. Nesse meio tempo, os nazistas confiscaram seus bens.

O convite de Locker-Lampson soava como um alívio. Einstein, com seu terno de linho branco, assistiu ao discurso de seu anfitrião no Parlamento. O político lançava um projeto de lei para oferecer cidadania a judeus.

“A Alemanha está no processo de destruir sua cultura e ameaçar a segurança de seus maiores pensadores”, discursou Locker-Lampson. “O país se voltou contra seu cidadão mais glorioso, Albert Einstein.”

A aparição pública do cientista foi providenciada pelo Conselho de Assistência Acadêmica, que alugou o Royal Albert Hall para a ocasião. Einstein denunciou o nazismo na condição de “bom europeu e como judeu”.

“Se quisermos resistir às forças que ameaçam eliminar a liberdade intelectual e individual, precisaremos manter claramente diante dos olhos o que está em jogo e o que devemos à liberdade que nossos ancestrais conquistaram para nós com lutas árduas. Sem essa liberdade, não teriam existido um Shakespeare, um Goethe, um Newton, um Faraday, um Pasteur ou um Lister.”

Também não haveria Einstein. Mesmo com o discurso eloquente, ele não comoveu o governo britânico, não obteve o asilo e se viu mais uma vez sem rumo. Terminaria acolhido pelos Estados Unidos, onde viveria até o fim.

A sua luta é o fio condutor do livro Aqui quem fala é Albert Einstein, do escritor e professor inglês R.J. Gadney (1941-2018), pulicado pela Intrínseca (R$ 49,90 na versão em papel e R$ 31,41 na digital), lançado agora no Brasil, que mistura trechos factuais com pinceladas de ficção da vida de Einstein.

O livro se tornou campeão de vendas em língua inglesa porque mostra que a vida de Einstein esteve visceralmente ligada às condições políticas de uma das épocas mais violentas da história.

Gadney reporta não apenas as preocupações de Einstein diante da imprevisibilidade das guerras mundiais como aspectos menos conhecidos de sua formação pessoal e profissional.

Nascido em uma família asquenaze, desde cedo professou a fé judaica. Menino prodígio, aprendeu violino aos cinco anos e se apaixonou pelas composições de Mozart. Dedicou-se a executar partituras de Mozart pela vida inteira. Aos sete anos, deduziu o teorema de Pitágoras por conta própria.

O livro é também repleto imagens pouco divulgadas, inclusive de seus amores: retratos da infância em Ulm, Munique e Pavia (Itália), das instalações da usina elétrica do pai, Josef Einstein, em Pavia, e das cidades que visitou.

Namoradas e esposas não faltam à lista de imagens. Sua primeira mulher, a física sérvia Mileva Maric, posa com os filhos, mas não há fotografias dela em sala de aula.

Durante o casamento com Mileva, manteve por nove anos um relacionamento com a prima, Elsa Löwenthal. Nesse tempo, Elsa tinha o hábito de enviar ao amante cartões-postais de mulheres nuas – algo que seria impensável na era dos nudes.

“Sou um democrata convicto. Sou tão adversário do bolchevismo quanto do fascismo. Sou contra todas as ditaduras”, disse Einstein

Um tema que naturalmente atravessa sua vida e obra é a atividade acadêmica. Ela foi marcada por descobertas que ficaram célebres, como a Lei do Movimento Browniano, a Teoria da Relatividade e os efeitos da célula fotoelétrica.

Mas a carreira universitária também contou com momentos ruins, como perseguições que sofreu nas universidades em que lecionou e pesquisou – tanto por inveja de colegas como principalmente por antissemitismo. Embora tenha conquistado cátedras renomadas em Zurique e Praga, também foi excluído em tantas outras.

As cartas que ele trocava com cientistas comprovam suas inquietações. Nelas, confessava frustações e revelava descobertas. Em uma carta à química polonesa Marie Curie, em 1911, conta seus progressos na detecção de leis estatísticas de moléculas subatômicas. Sua carreira acadêmica dependia desses contatos, e Curie o indicaria a cátedras no futuro.

Quando emigrou em definitivo para os Estados Unidos, onde se estabeleceu na universidade Princeton, Einstein não encontrou o paraíso. Ao contrário, também amargou mais intimidações. O chefe da CIA, J. Edgar Hoover, acusou-o de atividades subversivas e pró-soviéticas. Na realidade, Einstein atuou como pacifista e humanista.

“Sou um democrata convicto”, declarou em entrevista ao jornal New York Telegram. “É por isso que não vou para a Rússia, apesar de haver recebido convites cordiais. Uma viagem minha a Moscou certamente seria explorada pelos governantes soviéticos para beneficiar seus objetivos políticos. Ora, sou tão adversário do bolchevismo quanto do fascismo. Sou contra todas as ditaduras.”