Um CEO de uma conhecida empresa brasileira marcou um café com seu CTO. O assunto era pouco digestivo: aquele profissional estava massacrando o time e seus pares, reclamando do legado dos sistemas e por que tudo andava tão devagar.
Na conversa, o CEO fez uma pergunta ao CTO que o deixou paralisado e reflexivo. “Se você tivesse um AVC amanhã e ficasse incapacitado de trabalhar daqui pra frente, você diria que foi feliz nesse último ano?”
Sempre fui um obcecado em estudar a felicidade. Não do ponto de vista religioso, mas sobre como a ciência pode nos ensinar a sermos mais felizes. Fiz vários cursos, vivências e variadas leituras sobre esse tema tão importante para mim.
Assim que recebi um convite da Anna, minha esposa que é alumini da Harvard, para assistir uma conversa de Arthur C. Brooks e a apresentadora Oprah Winfrey sobre felicidade limpei a agenda e topei na hora.
Brooks é um dos mais respeitados pesquisadores sobre felicidade dos nossos tempos. É professor de Harvard, escritor e palestrante. Conheci seu trabalho por sua coluna na revista The Atlantic.
Curiosamente, foi lendo a The Atlantic e os artigos de Brooks que Oprah resolveu escrever um livro com ele que acabou de ser lançado: Build the Life You Want - The Art and the Science of Getting Happier (Construa a vida que você quer – a arte e a ciência de ser mais feliz, em tradução livre)
É sobre esse livro e algumas lições que ele traz que resolvi compartilhar aqui.
Como aumentar sua felicidade
Ao contrário do que muita gente pensa, que quanto mais se tem mais feliz se é, os autores defendem que a melhor fórmula para ser feliz e dividir tudo o que você tem por tudo aquilo que deseja.
Para o resultado ser cada vez maior, o segredo é desejar menos. Até porque segundo eles, quanto mais você tem mais quer. Os prazeres do ter são imediatos, mas duram pouco, o que aumenta a nossa necessidade de continuar a querer ter mais.
Essa corrida traz efeitos colaterais complexos em várias áreas da vida, principalmente família e amigos. Acredito que todo mundo conhece alguém que tem um desejo insaciável em ter e como essa pessoa afeta a todos ao redor.
Combata a inveja
Nunca tinha pensado nisso dessa forma. Mas, segundo o livro, isso é fato. E, lógico, que as redes sociais mostram apenas uma pequena fração do que acreditamos ser a vida das outras pessoas. Isso contribui muito para esse sentimento de comparação e inferioridade.
Um teste interessante que fiz com um cliente que se digladiava com o sucesso de outro empresário foi olhar seu próprio clipping e redes sociais como se fosse de uma outra pessoa e avaliar sem estar emocionantemente conectado.
Interessante que essa avaliação foi muito mais generosa do que a autoavaliação e depreciação que ele tinha feito na sessão anterior.
Tenha fé
É nos momentos mais difíceis que relembramos a importância de acreditar em algo maior. Os autores destacam que entendendo e valorizando isso, independentemente da sua crença religiosa, move o nosso egocentrismo e nos ajuda e entender que somos pequenos perante o todo.
Isso também diminui o papel de vítima e traz relatividade aos nossos desafios, além de alimentar a esperança que contribui para uma mente mais serena e mais feliz.
Abrace as dificuldades
Ele era um CEO de uma operação ominichannel presente em vários países. Tudo ia muito bem até a pandemia afetar brutalmente a operação, o caixa e as métricas operacionais. Justamente quando ele se preparava para o próximo round.
Após falar com mais de 40 fundos, a rodada simplesmente não aconteceu. Para “ajudar”, sua esposa, grávida do primeiro filho, cobrava sua presença na relação. Uma situação que o deixava sem dormir e o fazia ter crises de choro compulsivas.
Ainda não tinha lido o livro, mas já pensava como Brooks e Oprah. Abraçamos essas dificuldades como gatilhos para mudanças. O que precisa acontecer? O que você tem de fazer, falar ou endereçar que está postergando ou ruminando?
Criamos um plano de ação em várias dimensões com ações específicas e métricas claras. Depois de três meses, refletimos o quanto aquela situação foi benéfica para a empresa e para aquele CEO.
Tudo tinha evoluído na direção certa em todas dimensões da sua vida. Ele tinha certeza que isso só aconteceu pois realmente fez do limão a limonada.
Pratique metacognição
Metacognição é a capacidade de pensar sobre o que pensamos, monitorar o que sentimos e criar um espaço entre liderar nossos pensamentos em vez de ser liderado por eles.
Essa competência é destacada por Brooks como um grande potencializador da felicidade. Para conseguir escapar das emoções geradas pela parte límbica e primal do nosso cérebro, entra em cena a meditação, o mindfulness e suas variadas técnicas.
Um coach que respeito, Peter Bregman, em seu livro “4 Segundos” destaca que esse é o tempo que precisamos para criar a janela de oportunidade e não ser governado pelos primeiros sentimentos. O tempo de uma respiração bem profunda.
Pensar e trabalhar na sua felicidade é muito mais importante do que você pensa. Líderes infelizes tem muito menos energia e capacidade de motivar seus times na execução e a superar desafios.
Cuidar da sua felicidade e dedicar tempo em aprender como ter mais momentos felizes vai ajudar você, seus colaboradores e os resultados da sua empresa.
Se você ficou animado em seguir essa trilha, recomendo, além desse livro, dois autores que vão expandir sua consciência sobre a necessidade de sermos mais felizes: Martin Seligman e Jonathan Haidt.
Aliás, desejo que seja mais que expansão. Que seja o um acelerador para uma vida mais feliz. Lembre-se de que a felicidade não é um luxo, mas sim um fator crítico para liderar equipes de maneira inspiradora.
Líderes verdadeiramente felizes têm uma energia contagiante, uma capacidade notável de engajar suas equipes e mentalidade resiliente para enfrentar os perrengues que certamente irão surgir.
Ao incorporar os princípios da felicidade em sua liderança, você não só se tornará um líder mais feliz. Acredite: isso vai se traduzir em resultados para seu time e sua empresa.
Procure inserir esses princípios na sua vida e veja o que acontece. Menos feliz você não vai ser. É a chance de você responder aquela pergunta feita ao CTO no início deste artigo de forma diferente e significativa.
* Sergio Chaia atua como coach de CEOs, empreendedores e atletas de alto rendimento. Foi chairman da Óticas Carol e CEO da Nextel. Atua como conselheiro da Daus e da Ri Happy. É também conselheiro e educador do Instituto Ser + , uma ONG voltada à recuperação de jovens em situação social de risco preparando sua inserção no mercado de trabalho. Autor do livro “Será que é possível?”