Chegamos às vésperas de mais uma eleição presidencial diante de desafios já bem conhecidos pela sociedade brasileira. Desta vez, no entanto, temos à frente uma janela de oportunidades impensável em 2018, que embora tenha sido aberta por eventos com efeitos globais devastadores, como a pandemia da Covid-19 e a guerra da Rússia contra a Ucrânia, pode ser aplicada a favor do desenvolvimento do país.

O que está em jogo, portanto, é se nós, sociedade, governo e legislativo, conseguiremos criar as condições necessárias para alcançar este objetivo.

Redistribuição geográfica da cadeia de suprimentos

Estas oportunidades estão ligadas principalmente à redistribuição geográfica que deve acontecer nos investimentos em novas plantas industriais para produção dos insumos demandados no mundo inteiro.

Isto porque tanto a guerra quanto a pandemia e seus “lockdowns” quebraram cadeias essenciais de suprimento de componentes, fizeram explodir os custos dos fretes marítimos para o Brasil em até 300% e produziram espirais de inflação sistêmica em praticamente todos os países.

Isso não significa, porém, que se deixará de importar componentes do Oriente, mas sim que a forte concentração dos fornecedores em apenas uma região como vimos até agora será reduzida.

Ambiente favorável para investimentos

Acredito que este movimento tende a se acelerar nos próximos quatro a cinco anos, justamente ao longo do mandato do governo que será eleito em outubro. É neste período que reside nossa grande oportunidade e nosso principal desafio, mas confio que o Brasil tem capacidade para aproveitar a chance e atrair boa parte destes investimentos.

Desde, é claro, que finalmente consiga eliminar entraves macroeconômicos que há anos limitam nosso crescimento e se credencie como um destino de fato atraente e competitivo aos olhos de empresas globais que contam com inúmeras alternativas ao redor do mundo para alocar seu capital.

Não há bala de prata, sendo que algumas iniciativas para que isto aconteça são indispensáveis. Em primeiro lugar, é preciso construir um ambiente amigável para os investidores, com segurança jurídica e uma reforma tributária que efetivamente simplifique e reduza a carga de impostos no país.

Também é fundamental promover uma reforma administrativa para tornar o Estado mais ágil e eficiente, assim como ampliar os investimentos em infraestrutura, impulsionar as parcerias público-privadas e manter-se dentro das regras da Organização para o Crescimento e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Participação ativa da sociedade civil

Mas para que uma agenda de transformações estruturais como estas tenha condições de prosperar no Brasil, a sociedade civil tem um papel importantíssimo a cumprir. Todos nós devemos cobrar dos candidatos à Presidência da República a apresentação de pautas efetivamente programáticas durante a campanha eleitoral.

Depois disto, precisamos permanecer atentos e atuantes para que tanto o novo governo quanto o Congresso Nacional eleito de fato promovam e avancem nas reformas urgentes para o desenvolvimento social e econômico do país.

Somente desta forma, teremos um ambiente institucional seguro, estável e atrativo aos investimentos, capaz de proporcionar dignidade, bem-estar e prosperidade aos brasileiros. Desenvolvimento social não é bandeira de esquerda ou direita, mas de toda a sociedade.

* João Carlos Brega é presidente do Conselho de Administração da Whirlpool S/A e vice-presidente executivo da Whirlpool Corporation