Na fauna financeira americana, os porquinhos estão ameaçados de extinção. Bancos, supermercados e lojistas já sentem o impacto da "queda" dos centavos, que são pouco expressivos em valores, mas importantes para atividades corriqueiras, como lavar a roupa, o carro, comprar produtos em máquinas de vendas e, claro, dar ou receber troco. 

O sumiço das moedas começou em 15 de junho, quando o Fed, o Banco Central americano, deu início à racionalização da oferta dos centavos como "medida temporária" contra o avanço do novo coronavírus.

Segundo Rachel Graham, epidemiologista da Universidade da Carolina do Norte, as moedas são mais perigosas que as notas de dinheiro na transmissão do coronavírus. Mas as medidas de restrição talvez sejam exageradas. "A regra básica deveria ser considerar dinheiro sujo, seja ele em nota ou moeda", diz Graham. 

Ainda assim, a estratégia governamental foi implementada e tem causado uma série de contratempos. Como, em pleno século 21, em que o dinheiro digital cada vez se torna uma realidade, poderíamos pensar que sentiríamos falta de moedas?

Mas as moedas seguem em uso em uma série de atividades da economia americana. Na quarta-feira à noite, por exemplo, minha vizinha me ligou pedindo moedas. Como as máquinas de lavar e de secar do prédio, na lavanderia comunitária, aceitam apenas essa forma de pagamento, mantenho um estoque em casa. Dei a ela oito moedas, totalizando US$ 2, o suficiente para o ciclo completo em uma das máquinas.

Dois dias depois, o caixa do supermercado me negou, de maneira inédita, o famoso "rolo" de quarters. Praticamente toda semana, ao fazer compras, troco uma nota de US$ 10 por um pequeno pacotinho de notas de US$ 0,25, justamente por conta da lavanderia do prédio, algo muito comum nos Estados Unidos. 

Embora algumas lavanderias já tenham abraçado a revolução digital e adotado máquinas que funcionam por aplicativo, muitas não se atualizaram e seguem faturando dessa maneira analógica e arcaica. O mesmo vale para alguns lava-rápidos, parquímetros, máquinas de vendas e até chuveiros de acampamento.

Na iminência de escassez de quarters, fui até o banco local buscar o "tesouro" direto da fonte. A atendente não me negou as moedas, mas disse que as novas regras impedem que uma pessoa pegue mais que um rolo – ou US$ 10 em moedas de US$ 0,25. 

Americanos trocam nota de US$ 10 por rolos de moedas de US$ 0,25, os famosos quarters

Observo também que, no supermercado ao lado, alguns dos computadores de auto-atendimento trazem comunicados sobre a possível falta de troco, encorajando seus clientes a optarem pelo pagamento em cartão de crédito. 

De fato, transações online e por cartão de crédito estão em alta. Ainda mais em tempos de pandemia, quando muita gente prefere não sair de casa e faz o possível para minimizar a troca de qualquer material.

Ainda assim, a circulação de dinheiro nos Estados Unidos continua em crescendo. Até o dia 8 de julho, o governo calculava US$ 1,93 trilhão em notas e moedas circulavam na economia americana. No mesmo período no ano passado, era US$ 1,2 trilhão.

O Mint, a Casa da Moeda americana, agora corre contra o relógio para aumentar a produção de moedas e informou que vai produzir 1,35 bilhão de moedas todos os meses até o fim de 2020. A partir dali, a produção voltaria ao nível "normal", de 1 bilhão de moedas mensais. 

"Estamos cientes do que está acontecendo e trabalhamos com o Mint para aumentar a oferta e aplicá-la onde é mais necessário", declarou Jerome H. Powell, chefe do Fed, ao jornal The New York Times

O secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin, declarou em comunicado oficial que a escassez de moedas seria solucionada em breve. Para que todas as atividades voltem ao "normal", porém, é necessário que o comércio também faça sua parte e coloque esses metais para circular.

"Com as atividades econômicas sendo retomadas, esperamos que o cotidiano se regularize à medida em que os americanos voltem aos bancos para trocar suas moedas e as use para compras, pequenos pagamentos e afins. A falta de moedas foi mais causada pela falta de circulação das mesmas do que pelo declínio da produção", disse o Mint, em comunicado ao NeoFeed.

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