O ano de 2022 terminou com muitos desafios a serem endereçados pelas novas e novos governantes eleitos no Brasil para destravar nosso desenvolvimento econômico. Nosso país caminha, em paralelo ao contexto global, em um cenário delicado.
Nos últimos anos, temos visto crises de todas as ordens e o agravamento de problemas emergentes como o desemprego, a fome e a urgência climática - o que impacta o modo como os governos, negócios e as pessoas tomam decisões.
Linda Rottenberg, fundadora da Endeavor, costuma dizer que “when economies go down, entrepreneurs look up”, ou seja, em momentos de baixa, empreendedoras e empreendedores de alto impacto olham para cima.
Assim, pouco a pouco o Brasil se tornou um celeiro de empresas inovadoras, que buscam soluções para problemas cada vez mais complexos e sistêmicos, gerando empregos de qualidade, competitividade, inovação e desenvolvimento econômico.
Em 2021, as empresas apoiadas pela Endeavor empregaram diretamente mais de 79 mil pessoas e somaram R$ 24 bilhões em receitas. São negócios que estão revolucionando indústrias como as do setor financeiro, saúde e de soluções para empresas, entregando alternativas sustentáveis e, ainda mais, promovendo espaços de trabalho cada vez mais diversos.
Mas, quando avaliamos o ambiente de negócios brasileiro, infelizmente ele segue sendo um dos piores do mundo para quem deseja empreender. Segundo o Índice de Competitividade do Fórum Econômico Mundial, estamos na 71º posição entre 141 países, atrás de Chile, Colômbia, África do Sul e México.
Essa também é uma percepção da população - um levantamento realizado pelo Instituto Ipsos neste ano, revelou que somente 27% das brasileiras e brasileiros acreditam que o governo tem feito um bom trabalho para fomentar o empreendedorismo. Mudar esse cenário depende de esforços conjuntos do setor público, do nosso ecossistema e de toda a sociedade.
Para inserir o Brasil no mapa da inovação, precisamos criar condições para o empreendedorismo no país, e isso passa por endereçar questões que afetam o desenvolvimento de empresas inovadoras e de alto impacto - as startups e as scale-ups.
Por isso, este ano elaboramos a agenda de eleições da Endeavor, com os principais desafios do ecossistema de empreendedorismo e propostas a serem endereçados pelos eleitos ao executivo e legislativo.
O primeiro grande desafio diz respeito à reforma tributária. Um bom sistema tributário é base para as políticas econômicas e sociais, sendo essencial para destravar a inovação, crescimento e competitividade de um país. Contudo, o Brasil está firmado em uma base frágil.
Para termos dimensão, somos o país mais caro do mundo para se manter em dia com leis e obrigações, dentre elas as tributárias, segundo o Fórum Econômico Mundial. Com isso, empreendedoras e empreendedores deixam de investir recursos para a geração de empregos e de renda e no desenvolvimento de soluções inovadoras para gastá-los com a conformidade tributária de suas empresas.
Em linha com outros 170 países, é prioritária a unificação dos tributos federais, estaduais e municipais sobre o consumo em um imposto sobre valor agregado. Essa unificação reduziria em 68% o tempo gasto pelas empresas para pagar tributos, aumentaria em 25% os investimentos privados no país e geraria 11,9 milhões de empregos.
Além dos impactos econômicos, a reforma tributária também produz como efeito a redução de desigualdades regionais e o maior investimento público em pessoas de baixa renda.
No topo dos desafios para o crescimento e inovação das empresas também está a escassez de talentos em tecnologia. Segundo a Brasscom, 530 mil vagas de tecnologia não serão preenchidas no Brasil até 2025. O problema é que formamos pouco e formamos mal.
Apenas 18% das pessoas formadas no Brasil são da área de STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática), em contraponto a 33% nos países da OCDE. Além disso, os cursos estão desconectados do mercado de trabalho, dificultando a aprendizagem prática e o desenvolvimento de habilidades transversais.
Por isso, propomos aumentar a atratividade, oferta e retenção de cursos técnicos e superiores de tecnologia e STEM, assim como aumentar a colaboração entre os cursos e as empresas. 97 milhões de empregos serão gerados no mundo até 2025 em decorrência das novas tecnologias - o futuro e a inovação do país dependem de pessoas que possam construí-lo.
Além de desafios estruturais do país, os grupos minorizados também enfrentam inúmeras dificuldades dentro do ecossistema, e para que de fato possamos dizer que temos um ecossistema inovador, ele precisa ser muito mais diverso e inclusivo.
Somente 9,4% das scale-ups são lideradas por mulheres, segundo o estudo Female Founders, e apenas 5,8% das empreendedoras e empreendedores são pessoas negras, segundo a ABStartups. E, além de sub-representados, os grupos minorizados simplesmente não conseguem acessar capital. Em 2020, só 0,04% do capital de risco foi destinado a empresas lideradas por mulheres.
Os impactos de mais diversidade já são conhecidos: aumenta o poder de inovação e performance das empresas e, acima de tudo, gera mobilidade social e reduz desigualdades. Por isso, defendemos que esteja na agenda dos próximos governos iniciativas de apoio e acesso a capital focados em mulheres e pessoas negras.
Estes desafios mostram que há muito o que ser feito para construir o futuro do empreendedorismo e da inovação no país. Percorrer esse caminho é responsabilidade de governos, empreendedoras, empreendedores, e sociedade. Por isso, convidamos às eleitas e eleitos para construir soluções estruturais que transformem de fato o nosso país por meio do empreendedorismo.
Camilla Junqueira é diretora-geral da Endeavor no Brasil