Não foi por falta de aviso: em 2015, no palco do TED Talks, uma série de conferências liderada por profissionais de destaque, o empresário e filantropo Bill Gates usou seu espaço para explicar por "A mais B" porque o mundo deveria se preocupar mais com um vírus infeccioso do que com uma guerra nuclear.
Cinco anos depois e com quase 700 mil mortes pela Covid-19, o cofundador da Microsoft carrega um único arrependimento em relação a isso: não ter feito mais. Em entrevista ao The Wall Street Journal, em maio deste ano, o fundador da Microsoft disse que "queria ter chamado mais atenção a esse perigo".
Mas o magnata parece ter aprendido com o próprio "erro" e tem explorado sua exposição midiática e seu blog para fazer um novo alerta, abordando as ameaças que a mudança climática impõe à civilização.
"Por mais trágico que a Covid-19 seja, os efeitos da mudança climática podem ser muito piores", escreveu Gates em seu site, o Gates Notes.
O bilionário apresentou uma série de números que sustentam sua previsão. De acordo com ele, o novo coronavírus mata 14 pessoas a cada 100 mil habitantes, mas o aumento da temperatura mundial pode ter a mesma taxa de mortalidade nos próximos 40 anos.
Até o fim deste século, segundo os cálculos de Gates, se não mudarmos nossos hábitos de consumo e consciência ambiental, serão 73 mais mortes a cada 100 mil habitantes.
"Em outras palavras, até 2060, a mudança climática vai ser tão mortífera quanto a Covid-19. Até 2100, o aumento da temperatura pode ser até cinco vezes mais fatal que essa pandemia", prevê.
Paralelamente a isso, Gates também alerta para o fato de que, mesmo com a economia praticamente paralisada, conseguimos reduzir pouco a emissão de gases poluentes, a principal causa do efeito estufa e da mudança climática.
"A Agência Internacional de Energia calcula que a diminuição de gases poluentes gira em torno de 8%. Em termos reais, isso significa que nossa emissão agora é de 47 bilhões de toneladas de carbono, em vez de 51 bilhões", diz Gates.
Gates admite que essa redução seria significativa se conseguíssemos manter o ritmo ano a ano, "mas, infelizmente, é impossível: o tráfego de carros registrado em abril deste ano foi a metade do registrado em abril de 2019. Por meses, o tráfego aéreo foi quase nulo. Milhões de pessoas ficaram em casa e a economia parou", afirma Gates.
Ciente de que não é viável continuar levando a vida desta maneira, o filantropo propõe, então, que aprendamos com essa pandemia para agirmos com mais assertividade e rapidez na questão da mudança climática.
A sugestão de Gates se divide em três partes. A primeira é abrir o caminho para que a ciência e a inovação liderem a próxima revolução. Da mesma maneira que foi preciso novos testes e vacina para combater essa crise que se vive hoje, é necessário outras ferramentas para enfrentar o aquecimento global.
Depois, é importante democratizar as soluções encontradas, para que elas funcionem em países mais pobres também. "Ainda não sabemos exatamente qual vai ser o impacto da Covid-19 na população mais vulnerável, mas me preocupa que eles podem experimentar o pior dessa pandemia. O mesmo vale para a mudança climática: ela provavelmente vai ser mais dura para os mais pobres", diz.
Por fim, o empresário defende ações imediatas. Diferentemente da pandemia, cujo "prazo de validade" está atrelado a uma vacina, que deve chegar ao mercado em alguns meses, a mudança climática não tem uma solução rápida e certeira. Na melhor das hipóteses, Gates acredita que vai demorar décadas para resolver esse problema.
"Especialistas na área da saúde falaram que uma pandemia seria inevitável e o mundo não se preparou para isso. Agora corremos atrás do prejuízo. Essa nota é um aviso cautelar sobre o perigo da mudança climática, para que não repitamos o mesmo erro."
Procurada pelo NeoFeed, a instituição Bill & Melinda Gates Foundation, da qual o bilionário ainda é chairman, confirmou que o foco da organização continua sendo justiça social, e que não há planos para abarcar projetos que combatam a mudança climática.
"Apesar disso, nosso programa de desenvolvimento agrícola está cada vez mais empenhado em ajudar fazendeiros da África subsariana e do sudeste asiático a se adaptar aos estresses das mudanças climáticas, que já afetaram suas plantações e criações", explicou a instituição, por email.
A mensagem diz ainda que os esforços pessoais de Bill Gates para minimizar os os efeitos colaterais do aumento da temperatura global são feitos através do grupo Breakthrough Energy, uma organização independente da fundação.
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