Quatro meses após a adesão compulsória do trabalho remoto, o sonho de muitos trabalhadores se tornou um verdadeiro pesadelo. Uma pesquisa conduzida pela equipe da Microsoft e publicada na Harvard Business Review mostrou que o home office não é lá o paraíso que se supunha.

Usando uma combinação de ferramentas do Workplace Analyst para medir a produtividade da equipe e questionários anônimos, a gigante de tecnologia começa a entender quais são os principais desafios de quem trabalha em casa.

Lembrando que boa parte dos indivíduos avaliados estão nos Estados Unidos, a pesquisa revelou que as jornadas de trabalho aumentaram consideravelmente: os funcionários têm passado, em média, quatro horas a mais por semana "no batente".

"Os colaboradores relataram que estavam 'desembolsando' horas úteis de trabalho para dedicar ao cuidado dos filhos, se exercitar, passear o cachorro ou simplesmente tomar um ar. Para acomodar tantas pausas, é necessário esticar o dia, entrando mais cedo e saindo mais tarde do trabalho", diz o estudo assinado por Natalie Singer-Velush, Kevin Sherman e Erik Anderson.

Paralelo a isso, uma outra investigação, também organizada pela Microsoft, sugere que o trabalho remoto estimula ondas cerebrais associadas ao estresse e exaustão, e talvez explique porque tantos colaboradores relatam sentir efeitos da chamada síndrome do burnout, como dores de cabeça, baixa produtividade e queda de performance. 

Uma ressalva importante, porém, é que o estudo mostra que essas ondas cerebrais são identificadas apenas quando as relações que existiam no ambiente de trabalho passam a ser exclusivamente virtuais, mas os mesmos sinais não existem quando as relações nascem digitais. Ou seja, da mesma maneira como empresas e funcionários "brigam" para se ajustar ao home office, pode ser que dores semelhantes sejam sentidas na retomada do trabalho presencial. 

Mas enquanto todos continuam fazendo da sala de estar espaço de socialização familiar e escritório, borrando as linhas profissionais e pessoais, a Microsoft percebe que o número de reuniões virtuais de até 30 minutos disparou 22%. "Não podemos mais ter pequenas conversas no corredor ou na cafeteria, então tentamos preservar essas conexões online, com breves reuniões semanais", explicam.

Mesmo com as tentativas, 60% dos entrevistados relatam se sentir menos conectados com seus colegas de trabalho, embora um número considerável de participantes confirme que a ferramenta seja eficaz para combater o isolamento.  Ainda assim, todas e tantas reuniões podem ser um risco para a comunicação organizacional, se o conteúdo discutido não for compartilhado com equipes de outros departamentos. 

Esses desafios todos do home office serviram, ao menos, para estimular a empatia: 62% dos indivíduos que participaram do estudo se declararam mais solidários aos seus colegas agora que puderam ver suas casas e 52% se sentiram mais valorizados por estarem incluídos nas reuniões virtuais. 

O estudo concluiu ainda que 82% das pessoas esperam que as regras para o trabalho remoto sejam flexibilizadas, enquanto 71% expressaram o desejo de continuar com o home office por pelo menos parte da jornada – o que pode ser um verdadeiro "alívio" para a Microsoft, que, apesar dos resultados agridoce sobre o trabalho remoto, segue investindo no seu Teams.

Com ferramentas colaborativas de vídeo e chat, feito pela empresa justamente para o home office, o Teams viu seu número de usuários diários disparar 75% durante a crise do novo coronavírus, chegando em abril a 75 milhões de acessos por dia.

Se depender da analista de sistema Thais Queiroz, esse volume deve crescer ainda mais. Desde que passou a ser parte de uma empresa de tecnologia em Toronto, no Canadá, essa é a primeira vez que ela trabalha remotamente – mas, certamente, não será a última.

"Eu entendo algumas das queixas de quem trabalha de casa. Muita gente se sente pressionada a render mais, porque os chefes desconfiam da produtividade alheia. Mas o meu caso é diferente: meu gerente sabe exatamente quando estou trabalhando, então cumpro minha jornada normalmente. Aliás, sou até mais produtiva, porque não tenho distrações", disse a jovem de 30 anos ao NeoFeed.

Já a empreendedora Nicole Burgman, em Los Angeles, pensa diferente. Com dois filhos e o marido em casa, fica difícil para ela encontrar um ambiente pacífico para desempenhar suas funções sem interferência externa. "Meu trabalho é também criativo, e eu entendi que algumas das minhas inspirações vêm das trocas rápidas com outros profissionais, enquanto se toma um café, fuma um cigarro ou espera pelo elevador", relata.

Adepta dos escritórios compartilhados, que continuam fechados por conta da pandemia, se viu obrigada a antecipar os planos de se mudar para uma casa maior. "Estava realmente difícil dividir a mesa da sala com o meu marido, que entrava em consecutivas reuniões, e com os filhos adolescentes. Agora, com mais espaço, cada um pode ficar em um ambiente diferente, respeitando a individualidade alheia", afirma. 

Nicole reconhece, porém, que sua solução é um privilégio para poucos: nem todo mundo tem condições financeiras ou emocionais para encarar uma mudança agora, mas os esforços valem a pena para que o lar doce lar não fique amargo por demais.

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