Luis Stuhlberger é um gestor que dispensa apresentações. Ele fez história no mercado com a Hedging-Griffo, comprada pelo Credit Suisse, e depois na Verde Asset, a sua gestora que tem R$ 26,9 bilhões sob gestão.

Mas o que poucos sabem é que ele também lidera um projeto de filantropia desde 2003: o Instituto Hedging-Griffo, que apoia soluções escaláveis e de alto impacto. Até 2021, o instituto tinha apenas dois mantenedores, a Verde e o Credit Suisse. No ano seguinte, a organização passou a se chamar Ambikira e foi ampliada.

Agora, Stuhlberger está arregaçando as mangas e vai sair em uma nova "captação". E não é para seus fundos da Verde Asset, mas sim para a Ambikira, que vai aumentar o seu budget em 2023.

“Sabemos que os ajustes de curva da economia vão acontecer, mas também acreditamos que é nessa hora que a preocupação social pode se consolidar como cultura”, diz Stuhlberger ao NeoFeed. “Passaremos por diferentes ciclos econômicos que podem impactar o volume de doações e precisamos levar isso em consideração em nossa estratégia de crescimento e também no compromisso que assumimos com as organizações sociais.”

No ano passado, o orçamento do Ambikira - que em tupi quer dizer broto, renovo - foi de R$ 7,7 milhões. A projeção para 2023 é de R$ 9,1 milhões, um crescimento de pouco mais de 18% sobre o ano anterior. Desde que foi criado, há 20 anos, o instituto investiu R$ 90 milhões em mais de 200 organizações.

A ambição do Ambikira é ser como a Robin Hood Foundation, o instituto criado em Nova York no fim dos anos 1980 pelo gestor de fundos hedge Paul Tudor. No ano passado, fundação investiu US$ 132,2 milhões em 300 organizações sem fins lucrativos.

“Desde o lançamento, temos percebido uma recepção muito positiva do setor financeiro”, diz Isabel Aché Pillar, superintendente do Ambikira. “Hoje, parte do nosso desafio é aumentar o conhecimento sobre o trabalho do instituto, chegando a um número maior de potenciais doadores, e esclarecer a nossa visão de filantropia profissional baseada em indicadores, rigor técnico e proximidade com as organizações sociais.”

isabel pillar ambikira
Isabel Aché Pillar, superintendente do Ambikira

Para atrair mais investidores, o instituto acertou no fim de março uma parceria com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Com 901 gestoras registradas em sua base, o objetivo da entidade é estimular e fazer a ponte entre os dois lados. Estão programadas ações específicas nos próximos meses para incentivar os gestores a aderir ao Ambikira.

Além da Verde e do Credit Suisse, outras 21 gestoras passaram a ser investidoras, como Gávea, de Armínio Fraga; Ibiúna, de Rodrigo Azevedo; JGP, de André Jakurski; SPX, de Rogério Xavier; RPS, de Paolo di Sora; Vinland, de André Laport, entre outras. A neófita é a Alphatree Capital, de Rodrigo Jolig e Jonas Doi, uma gestora que foi criada em 2021 e decidiu unir esforços (e capital) a esse grupo.

“O mercado financeiro tem de apoiar mais, para dar mais tração para um projeto que precisa e merece”, diz Gustavo Perles, diretor de relações com investidores da Alphatree. “Apoiar projetos bem estruturados, com uma governança incrível como a do Ambikira, é obrigatório para qualquer gestora e qualquer empresa.”

Com 24 projetos apoiados, o Ambikira atua de maneira integrada às instituições. A instituição entra na gestão em busca de soluções e não para ser um financiador distante que faz depósitos isolados. Como é praxe no mercado financeiro, na filantropia também se busca resultados acima da média.

“A filantropia precisa passar a ser vista de forma estratégica e não apenas como tendo um caráter assistencialista, ou seja, como um instrumento efetivo para o desenvolvimento socioeconômico do País e para a redução das desigualdades”, diz Laport, da Vinland.

De todo o investimento realizado no ano passado, 79% foram direcionados para educação. Os apoios vão desde a educação profissional, com os institutos Proa e Aliança, até a educação pública, com o Todos pela Educação e o Crescer Sempre.

Um dos projetos apoiados recentemente é o Afesu, que busca transformar a vida das mulheres em situação de vulnerabilidade social. Crianças e adolescentes de 8 a 13 anos recebem educação complementar no contraturno escolar.

Os outros 21% de investimento do Ambikira foram direcionados para projetos ligados à assistência social, capacitação e gestão profissional.

Um exemplo é o Banco da Providência, que trabalha nas regiões periféricas do Rio de Janeiro ajudando mulheres a consolidar pequenos negócios e conseguir gerar renda no longo prazo por meio de capacitação profissional, com técnicas de gestão, e apoio socioemocional.

“A proximidade com os investidores têm promovido uma troca muito rica e saudável entre o Ambikira e as assets”, afirma Isabel, da Ambikira. “O interesse das assets em contribuir não tem sido só com o recurso financeiro, mas também com recurso humano e tempo para os projetos.”