Depois de passar cinco anos revolucionando os bastidores da Forbes, Meredith Kopit Levien poderia muito bem estampar a capa da revista – comumente reservada a profissionais de destaque.

É que a comunicadora de 49 anos  está prestes a se tornar a pessoa mais jovem a comandar o The New York Times (NYT), um dos jornais de maior prestígio mundial.

Kopit Levien, que era COO do NYT, assume a vaga deixada por Mark Thompson, que se aposentou no fim de julho, ao completar 63 anos.

"Escolhi esse momento para me desligar da empresa porque consegui atingir tudo que me propus quando entrei para a Times Company, dois anos atrás", declarou Thompson em entrevista ao The Wall Street Journal

O executivo foi quem capitaneou a bem-sucedida guinada virtual da empresa de mídia, desenvolvendo seu modelo de assinatura digital para combater o declínio da receita proveniente da publicidade clássica no jornal impresso.

Hoje, com seis milhões de assinantes, o NYT deve fechar 2020 com números ainda melhores que os de 2019, quando atingiu uma receita online de US$ 800 milhões, o que representa 45% de seu faturamento de US$ 1,8 bilhão. 

Esses bons indicadores não são "uma mera herança" deixada para Kopit Levien. A executiva tem mérito nessa jornada de sucesso. Desde que entrou para a organização, em 2013, ela chefiou o departamento de publicidade e serviu como chief revenue officer, cuidando das vendas e assinaturas.

Em 2017, a executiva assumiu o cargo de COO. Ali, ela se encarregou de acompanhar e desenvolver os produtos digitais da casa. 

Uma de suas "marcas-registradas" foi ter mudado o modelo de publicidade de "pague por esse espaço" por outros mais flexíveis e lucrativos, buscando mais parceiros do que anunciantes, o que contribuiu para o crescimento online e offline da marca.

Com uma ampla visão da companhia que está prestes a assumir e do mercado, Kopit Levien só enxerga otimismo. "Há um mercado enorme de pessoas dispostas a pagar por um jornalismo de qualidade", disse, confirmando sua crença de que o NYT deve bater sua meta de 10 milhões de assinantes até 2025. 

Além das reportagens e colaboradores exclusivos, a nova CEO deve explorar outros produtos, como podcasts e publicações nichadas, focando em segmentos como o de culinária.

Todos esses objetivos dependem de como Kopit Levien deve gerir as crises do jornal, que passou por fortes turbulências nas últimas semanas.

O jornalista James Bennet abdicou se deu posto de editor da primeira página no começo de junho, depois que aceitou publicar um artigo opinativo assinado pelo senador republicano Tom Cotton.

Sob o título "Mande as Tropas", o texto de Cotton defendia a intervenção militar para controlar os protestos contra a morte do americano George Floyd, que reacendeu o debate racial nos Estados Unidos. 

Pouco depois, foi a vez de Bari Weiss também fazer uso da porta de saída do NYT. A jornalista, que editava a seção de opinião, publicou um longo desabafo em seu site pessoal e revelou ter sofrido bullying de seus colegas. Weiss criticou a falta de pluralidade de visões e posições políticas nos artigos publicados pela empresa.

"O New York Times sempre teve e continua tendo a intenção de ser um fórum para o debate de ideias importantes. Não há outro caminho. Estamos vivendo tempos polarizados e muito do que é dito sobre o jornal e outras organizações de mídia é um reflexo disso", declarou Kopit Levien.

Pouco após tomar o bastão, a gestora terá de encarar, no comando do maior jornal do país, a eleição presidencial americana, que acontece em novembro.

Além do nervosismo típico da época e ocasião, a escolha do novo presidente do Estados Unidos, este ano, tem se mostrado particularmente tensa – sobretudo porque Donald Trump, que tenta a reeleição, é um ferrenho opositor da imprensa profissional. 

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