Temos vivido uma deterioração contínua da qualidade creditícia corporativa. Ela é resultante de um cenário persistente de inflação, juros altos, spreads crescentes, redução no poder de consumo dos clientes e da capacidade de suprimento de insumos por seus fornecedores.
As incertezas quanto aos rumos da economia passam pela escassez, encarecimento e inadequação do capital. Esse ambiente cria um ciclo vicioso que aumenta o risco de inadimplência e insolvência das empresas.
A necessidade de reestruturação da dívida existente com bancos e fornecedores se torna necessária e urgente para tentar controlar o incêndio num primeiro momento. Mas e depois?
Se as fontes de capital bancária e do mercado de capitais se tornam cada vez mais avessos a riscos e é premente a necessidade de captação de novos recursos por conta do aumento das necessidades financeiras deste ciclo, como resolver essa questão? A resposta está numa troca de gestores, tipos de capital e fontes de capital.
Frequentemente, gestores corporativos de tempos de paz e crescimento não são os melhores e mais desejados para tempos de crise, principalmente se esses períodos são acentuados e longos. Profissionais habituados à gestão operacional espartana, tática e flexível para movimentos rápidos são os que melhor podem gerir as empresas.
Comandantes experientes de navios em meio a terríveis tempestades e intempéries são ótimos e necessários para que as empresas não só sobrevivam, mas, ao final do ciclo, saiam mais fortes para o bem de acionistas, clientes, fornecedores, bancos e da sociedade como um todo. Afinal, o navio tem de chegar com suas cargas e passageiros ao porto seguro.
Mas a parte operacional é só uma fração do problema. Uma nova estrutura de capital mitigadora de riscos, em volume, garantias, amortização, custos e prazos adequados, feita sob medida, é imperativa. Sem capital, não existe operação.
Gestores corporativos de tempos de paz e crescimento não são os melhores e mais desejados para tempos de crise
Profissionais com uma ampla e sofisticada experiência financeira, capazes de renegociar dívidas com bancos e fornecedores, bem como procurar, originar, discutir e estruturar operações complexas com novos investidores e credores nacionais e estrangeiros especializados em ativos alternativos, estrutura de mezaninos e soluções completas de capital serão vitais.
Esses profissionais são hot commodities e não há muitos. Sócios, investidores e boards têm que correr com senso de urgência para contratar os escassos e necessários comandantes. O navio vai zarpar e o tempo não é bom.
* Leandro Miranda acumula 30 anos de experiência no mercado financeiro. Foi membro da diretoria executiva do Bradesco, managing director e head do Bradesco BBI, managing director de ativos alternativos do Credit Suisse Asset Management, sócio e managing director do BTG Pactual e presidente da Principal Partners Capital Group