Minha primeira sessão deste ano com um CEO de uma empresa de tecnologia foi interessante. Triatleta amador, superdisciplinado e querendo sempre melhorar, ele me perguntou que nota eu daria para ele pelo ano que passou. Devolvi a pergunta possibilitando a ele um espaço de autorreflexão, tão rara na correria do nosso dia a dia. Ele se deu nota 7.
As justificativas para a nota: a empresa entregou o plano, trouxemos bons talentos, investidores animados com o futuro, mas ele acredita que poderia ter impactado mais. “Acho que perdi muito tempo com coisas não prioritárias”, disse ele.
Concordei com o 7 da sua avaliação, mas provoquei dizendo que ele deveria usar mais a disciplina e foco que já tem no triatlo para seu dia a dia profissional.
Percebo que vários CEOs são obsessivos em treinar e melhorar seus tempos e movimentos no esporte, mas não repetem isso na empresa. Eles não treinam para evoluir como CEO, assim como diariamente treinam para melhorar como atleta. Um CEO para mim é um atleta corporativo.
Ele entendeu a metáfora. Então, partimos para elaborar sua planilha de treinos para 2024. O caminho para quem quer evoluir é recheado de escolhas. As que nos tiram da zona de conforto são aquelas que proporcionam maior evolução.
Indo nesse conceito, elaborei junto com aquele CEO uma rotina diária pautada em três escolhas que, se forem bem executadas, irão elevar sua performance neste ano.
1 - Escolha do que você se alimenta diariamente
Tudo começa com aquilo que deixamos entrar no nosso corpo e mente todos os dias. Uma alimentação equilibrada traz impactos na nossa energia e disposição. Recentemente, conheci o trabalho da Jessie Inchauspe, bioquímica e autora do livro “Revolução da Glicose”, que traz dicas interessantes de como podemos reduzir nossos picos glicêmicos somente mudando a ordem do que comemos.
Agora, tão importante quanto são os alimentos emocionais que consumimos. Que tipo de notícias, redes sociais, informações, séries e relações absorvemos diariamente? Elas têm impacto nos nossos pensamentos e, consequentemente, atitudes e onde alocamos nosso tempo.
Por isso, combinamos um exercício: registrar diariamente que tipo de informação estava entrando na sua cabeça. O mais importante disso é aumentar a consciência dos alimentos emocionais interessantes e durante o dia consumi-los adequadamente.
Uma escolha foi evitar séries violentas antes de dormir, optando por documentários, comédias e leituras. Após algumas semanas, ele relatou uma melhora significativa no sono.
2 - Revise sua agenda e o percentual de trabalho pró-ativo
Um exercício que faço com vários CEOs é olhar suas agendas nos últimos três meses. E aí refletirmos como o tempo é alocado. Na grande maioria das vezes descobrimos grandes oportunidades de melhorar a produtividade, impacto e consequentemente resultados.
O caso dele não foi diferente. Percebemos que mais de 70% do tempo era alocado em resolver prioridades dos outros e não a dele. Nesse pacote, o tempo gasto em responder mensagens era gigante. Uma análise mais profunda revelou que a maioria das suas atividades era responsiva, ou seja, atendendo uma demanda de alguém.
Lógico que responder demandas dos clientes, investidores e colaboradores é importante. Mas investir quase todo o tempo nisso não traz o melhor retorno. É fundamental balancear a agenda entre trabalho pró-ativo e responsivo. É no pró-ativo que você gera demandas, traz ideias, motiva a organização e propõe e garante o ritmo da execução.
Naquele caso, descrevemos quais as atividades pró-ativas e responsivas deveriam ter sua atenção e terceirizamos ou deletamos várias coisas que ele fazia e que consumiam tempo, mas não geravam o valor correspondente.
3 - Dedique tempo para gerar insights
Quando analiso o que realmente move o ponteiro nos resultados que produzimos, percebo que nossos insights têm lugar relevante nesse ranking. Defino insights como a capacidade de analisar informações e experiências de diferentes fontes e produzir ideias, conclusões ou perspectivas únicas sobre um determinado tema.
Nas minhas conversas com CEOs, todos reconhecem isso, mas raros são aqueles que têm a disciplina de alocar tempo para gerar insights. Outro ponto importante: você já percebeu que grande parte dos seus insights de trabalho não são gerados no ambiente de trabalho?
Para gerar insights, aloque na sua agenda tempo para conversas com pessoas diferentes, trabalho voluntário, mentorias reversas, hobbies e contato com a natureza, especialmente em lugares inóspitos.
Muitos podem pensar que isso é férias. Mas, dedicar semanalmente um tempo para sair da rotina, para mim é trabalho. E que tem potencial de gerar um ótimo retorno sobre o investimento.
Oportunidades para se nutrir de insights ocorrem diariamente. Experimente pegar caminhos diferentes para ir ao trabalho, por exemplo. Nosso cérebro foi formatado para economizar energia. E isso acontece quando temos uma rotina muito precisa. Procure mexer na sua rotina no jeito como você vê e interage. E os insights irão aparecer.
Essas foram as três escolhas daquele CEO. Você não precisa fazer as mesmas dele. Mas aproveitar o embalo e construir sua planilha de treino para 2024 é um passo importante para um ano de mais impactos e resultados.
* Sergio Chaia atua como coach de CEOs, empreendedores e atletas de alto rendimento. Foi chairman da Óticas Carol e CEO da Nextel. Atua como conselheiro da Daus e da Ri Happy. É também conselheiro e educador do Instituto Ser + , uma ONG voltada à recuperação de jovens em situação social de risco preparando sua inserção no mercado de trabalho. Autor do livro “Será que é possível?”