Em 2002, quando relançou a marca Mandic como um provedor de e-mail, o empresário Aleksandar Mandic mandou confeccionar um cartão de visitas que estampava seu nome de forma bem grande com o endereço do e-mail logo abaixo: odono@mandic.com.br.
À primeira vista, a atitude podia parecer arrogante. Mas Mandic era tudo, menos isso. Bonachão e irreverente, era uma figura que adorava conversar e sempre ligava aos amigos mais próximos nas datas de aniversário.
Usava o telefone para dar parabéns, mas seu legado está intimamente associado a outra tecnologia. Poucos sobrenomes são tão identificados à internet brasileira quanto o de Mandic. Pode-se dizer que esteve em todas as fases da web brasileira – mesmo quando ela nem existia – e foi um dos primeiros a ganhar dinheiro com ela.
Em 1990, criou o Mandic BBS, uma espécie de sistema de comunicação da pré-história da rede mundial de computadores, que se transformou em um provedor de internet batizado com seu sobrenome. Sete anos depois, ele vendeu o provedor para os argentinos do El Sitio por aproximadamente R$ 40 milhões, um bom dinheiro para a época.
Mas não pense que pendurou as chuteiras. Logo depois, Mandic cofundou o portal iG, dando início a era dos provedores de internet gratuita. Ficou pouco tempo na operação, que tinha investimentos do banco Opportunity e da GP Investments.
Saiu de lá para criar o Mandic Mail, um serviço de e-mail que evoluiu para a oferta de produtos de computação em nuvem – mais um vez foi precursor nessa tendência que hoje é uma unanimidade.
Nessa ocasião, Mandic mostrou mais uma vez toda sua irreverência. Além do cartão, o slogan da empresa era “Mandic, a internet em pessoa.”
Quem visitava a sede da empresa, em São Paulo, se deparava também com uma placa, que está até hoje lá, que mostra os seus princípios na prestação de serviço.
“Por que se perde um cliente?” E as respostas vinham logo abaixo: “1% por falecimento; 5% por mudança de endereço; 5% por amizades comerciais; 10% por vantagens em outras organizações; 14% por reclamações não atendidas; e 65% por indiferença pessoal.”
Por esse motivo, um de seus lemas era: “Se for mal atendido, reclame! Se for por falta de qualidade, reclame! Se for por indiferença, reclame!”.
Em 2012, ele vendeu o Mandic para o fundo de investimento americano Riverwood Capital por R$ 100 milhões – manteve apenas uma pequena participação e passou a atuar no conselho de administração, afastando-se do dia a dia.
Tentou empreender mais uma vez, entrando na era dos aplicativos. Criou o aplicativo WiFi Magic, que reúne senhas de diversas de redes sem fio públicas ao redor do mundo. O negócio nunca decolou.
Apesar de milionário, tinha uma vida simples. Gostava de se locomover por São Paulo de bicicleta ou em seu Fusca. Mas tinha também alguns luxos. Era dono de um avião, que usava para, entre outras viagens, ir para Portugal, onde havia fixado residência.
Hoje, o Fusca está com seu filho Axel. O avião foi vendido. Em festas ou mesmo em eventos sociais corporativos, gostava de usar fantasias. Não raro era visto com a camisa do Super-Homem.
Em abril, a Mandic foi vendida para a Claranet – Mandic, então, se desfez das poucas ações que ainda mantinha na companhia. Foi seu último ato. Era o fim de um ciclo.
Nesta quinta-feira, 6 de maio, seu filho Axel informou, pelas redes sociais, que Mandic, aos 66 anos, havia morrido. A causa da morte não foi informada. No ano passado, Mandic ficou 38 dias internado em uma UTI em Portugal por conta da Covid-19, mas conseguiu se recuperar. A internet brasileira perde hoje um de seus pioneiros.