A conta da pandemia chegou e, para pagar o déficit de US$ 54,3 bilhões, o maior de sua história, a Califórnia estuda sobretaxar grandes fortunas. Embora ainda esteja em discussão, a medida já tem levado alguns milionários a buscar novos endereços residenciais.
A alíquota atual da Califórnia é de 13,3%, mas a nova proposta quer aumentar esse percentual. Quem ganha mais de US$ 1 milhão por ano, pagaria mais um ponto percentual. Se o ganho for superior a US$ 2 milhões anuais, o adicional seria de três pontos percentuais. Aqueles com vencimentos superiores a US$ 5 milhões por ano, pagariam três pontos e meio percentuais a mais.
Com as novas alíquotas, o imposto máximo cobrada na Califórnia passaria de 13,3% para 16,8%. Caso o projeto seja aprovado, os moradores da Califórnia poderiam pagar 53,8% de impostos – isso porque, além dos 16,8% da nova proposta, ainda desembolsam 37% de imposto federal.
Para fins de comparação, um dos impostos mais altos do mundo, segundo o portal Trading Economics, é praticado pela Suécia, que cobra 57,2% sobre a renda de seus cidadãos.
Apresentada por um grupo de deputados liderados pelos democratas Miguel Santiago e Wendy Carillo, a nova cobrança traria mais de US$ 6 bilhões ao ano aos cofres públicos. O dinheiro seria usado para cobrir parte do rombo deixado no orçamento por conta da Covid-19.
A proposta afetaria apenas 0,5% dos contribuintes da Califórnia. Mas esse pequeno grupo é responsável por 40% da receita fiscal do Estado, de acordo com o Franchise Tax Board da Califórnia.
Embora muitos bilionários, como o fundador da Salesforce, Marc Benioff, e o criador da Microsoft, Bill Gates, defendam publicamente o aumento das taxas aplicadas aos grandes empresários, outros não concordam em nada com a proposta.
Joe Rogan, que é idealizador e apresentador de um dos podcasts mais ouvidos do mundo, o "The Joe Rogan Experience", afirmou em julho que deixaria a ensolarada Los Angeles pelo Texas.
Curiosamente, essa mudança do artista acontece meses depois de o Spotify desembolsar US$ 100 milhões para ter exclusividade ao conteúdo produzido pelo artista. Pelos termos do contrato, em 1º de setembro, todo o catálogo do podcast de Rogan, bem como os novos episódios, estarão disponíveis exclusivamente no Spotify.
Publicamente, Rogan justifica sua mudança dizendo que está cansado da densidade populacional da Califórnia. "Só quero ir para algum lugar no centro do país, um lugar onde seja mais fácil viajar para as duas costas americanas e um lugar onde você tenha um pouco mais de liberdade", falou Rogan em seu podcast.
Pelas regras atuais da Califórnia, Rogan teria de pagar de impostos US$ 13,3 milhões. Se as novas alíquotas forem aprovadas, o valor chegaria a US$ 16,8 milhões.
O Texas, para onde Rogan está se mudando, é um dos sete estados americanos que renunciam ao imposto de renda individual. Isso significa que o podcaster não teria de arcar com um imposto de, pelo menos, US$ 13,3 milhões.
Quem também fez as malas da Califórnia foi Alex Karp, cofundador e CEO da Palantir. Há anos o empresário fala abertamente sobre a possibilidade de mudanças.
Mas foi apenas em agosto deste ano que as páginas da empresa e as redes sociais da Palantir indicaram que a sede da empresa deixou de ser o Vale do Silício para abraçar a pequena Denver, no Colorado. Na nova casa, Karp deve pagar "apenas" 4,68% de imposto pessoal.
Depois de discutir e se queixar publicamente das regras aplicadas pelo estado da Califórnia, Elon Musk pode ser o próximo a deixar o estado mais populoso do país.
O bilionário, que têm uma fábrica no Texas, cogita mudar o escritório central de suas operações para o mesmo lugar, mas também estuda a possibilidade de levá-lo para Nevada, que cobra, no máximo, 6,85% de imposto pessoal.
Até celebridades, como o cantor Kanye West, estão trilhando caminhos parecidos. O rapper, que "causou" depois de se lançar como candidato à presidência dos Estados Unidos, está trabalhando para levar sua marca de roupas Yeezy para o estado de Wyoming, onde comprou uma mansão e paga 4% de imposto pessoal.
De acordo com uma pesquisa conduzida pela agência Hired, focada em recursos humanos, 42% dos trabalhadores da área de tecnologia no Vale do Silício, região com os salários maios altos do estado, estavam dispostos a se mudar para regiões mais baratas se pudessem trabalhar remotamente.
O advogado tributário Dennis Brager disse, em entrevista à Fox News, que muitos de seus clientes milionários já entraram em contato para pedir orientação de como cortar relações com a Califórnia. A procura por Brager aumentou depois que outra proposta que tenta taxar os mais riscos do estado começou a ser debatida. Trata-se da AB 2088, do deputado democrata Rob Bonta.
De acordo com o projeto de Bonta, que ainda é avaliado pelos colegas, um novo imposto de 0,4% seria aplicado aos residentes da Califórnia cuja fortuna for superior a US$ 30 milhões. Na proposta do deputado, a alíquota seria cobrada anualmente, por 10 anos, mesmo que os cidadãos deixem a Califórnia.
"Esse projeto cobra imposto sobre a fortuna, então você teria de pagar de acordo com os seus ativos, e não com a sua renda. Se você tiver, digamos, uma casa em Paris, isso estaria incluído em sua riqueza”, disse Brager. Segundo ele, a medida vai "expulsar" cada vez mais milionários e bilionários da Califórnia.
Bonta, por sua vez, justifica seu projeto dizendo que ele afetaria 0,15% da população da Califórnia, apenas 30 mil pessoas. Além disso, segundo o deputado democrata, essa cobrança seria crucial para o estado enfrentar a desigualdade social.
A Califórnia tem uma das mais altas taxas de pobreza do país, cravada em 12,8%. Para o estado, uma família cuja renda familiar anual seja igual ou menor a US$ 25,5 mil é considerada pobre.
No sentindo inverso à Califórnia, o presidente Donaldo Trump, do Partido Republicano, aprovou uma grande redução de impostos para empresas e grandes fortunas em 2017, uma de suas promessas de campanha. O imposto empresarial caiu de 35% para 21%. A alíquota mínima para rendas mais elevadas encolheu de 39% para 37%.
Siga o NeoFeed nas redes sociais. Estamos no Facebook, no LinkedIn, no Twitter e no Instagram. Assista aos nossos vídeos no canal do YouTube e assine a nossa newsletter para receber notícias diariamente.