Não entendo quase nada de futebol americano. Sou daquelas que sabe algumas jogadas básicas e ponto final. Mas ontem confesso que motivada pelo filho (que entende muito), me sentei à frente da TV com um pote de sorvete na mão para assistir à final do Super Bowl entre Tampa Bay Buccaneers e o favorito Kansas City Chiefs.
Um jogo com apostas certas, afinal o favorito era o campeão da temporada passada e tinha o jogador Patrick Mahomes que aos 25 anos demonstrava estar em plena forma para levar o bicampeonato. Mas não foi isso que aconteceu. Aí pensei: o que o “underdog” Buccaneers tinha de tão especial?
Bom, para começar contratou o experiente Tom Brady que deixou New England Patriots, onde havia conquistado seis Super Bowls, pois muitos entendiam que, aos 43 anos, ele não teria mais a vitalidade para continuar como líder de um time multicampeão.
Segundo, Tom Brady deve ter convencido os donos do Tampa Bay a contratar Rob Gronkowski, seu grande parceiro no Patriots. Juntos puderam brilhar nas jogadas, com direito a dois touchdowns. Uma dupla que fez barulho.
Por fim, para liderar o time, o Buccaneers contratou Bruce Arians, treinador que estava aposentado e que não trabalhava em nenhum time desde 2017. Aos 68 anos, ele chegou para comandar um time de 50 atletas com idade entre 22 e 43 anos, além de mais de 200 pessoas da equipe de apoio.
Resultado: uma final esmagadora com uma vitória de 31 a 9 sobre o favorito Kansas City Chiefs. Fazia 20 anos que o Buccaneers não ganhava um título. Sem falar que foi a primeira vez que o próprio time disputou uma final em seu estádio, em Tampa. Para nós, seria como se um time da segunda divisão ganhasse o Brasileirão.
Sou apaixonada por histórias de turnarounds, por pessoas que não desistem nunca, por times que sabem mesclar a ousadia com o bom senso, energia com experiência, talento com maturidade.
Olhando este jogo, fiz um paralelo com tantas startups que já mentorei e que, na sua grande maioria, não tem profissionais com mais de 50, 60 anos em seus times. Consideram que isso é custo pois enxergam pouco valor. Acreditam que o profissional experiente é ultrapassado e acham que a tecnologia resolve todos os desafios na empresa.
Mais aqui fica uma reflexão, quanto custa saber o atalho, saber quais os erros que podem ser mitigados e ter repertório para olhar uma situação sob diferentes prismas?
Há dois anos, decidi deixar a posição de presidente de uma multinacional para me tornar conselheira e mentora. Foi quando fiz 50 anos e inúmeras pessoas me perguntaram se eu estava me aposentando.
Tentei explicar que só estava começando uma nova jornada, com novos times, novos líderes e muito energizada. Por isso, quando assisti à vitória dos “aposentados” no mundo tão competitivo como o do esporte comemorei como uma cheerleader.
Agora para quem é rotulado como aposentado, é fundamental se abrir para o novo, se arriscar, buscar atualização constante através de livros, cursos, interações multimídia, mas principalmente ter a capacidade de aprender com os jovens. Numa relação de troca genuína entre profissionais maduros e jovens, todos crescem, todos ganham.
Fui dormir feliz pela vitória do improvável, mas antes de pegar no sono, li mais um capítulo do meu atual livro de cabeceira “The 100-year Life”, de Lynda Gratton & Andrew Scott, pois muito em breve será normal viver até os 100 anos. Viva la Vida!
*Anna Chaia é conselheira do Burguer King, do Espaço Laser, da PuraVida e da Vivara. É também mentora da Endeavor