Na semana passada, a Apple causou um leve alvoroço após o anúncio dos óculos Vision Pro, na WWDC. Com direito a Trending Topics e memes infinitos – fazendo referência à estética mais parecida a uma máscara de ski e à ficção científica de “Black Mirror” – a empresa entrará pela primeira vez no mercado de realidade virtual aumentada a partir de 2024.
Embora eu seja entusiasta de tecnologia e procure estar atento às tendências, confesso ter ficado surpreso com o anúncio. Primeiro porque a Apple está, aparentemente, indo na contramão de todas as grandes empresas de tecnologia ao lançar um gadget de realidade virtual aumentada depois de um desempenho frustrante dos produtos de suas concorrentes.
Até cheguei a escrever sobre isso quando estive no SXSW deste ano. O que havia sido apresentado como tendência há 10 anos, tinha sumido das mesas antes mesmo de vingar. Um breve histórico: lá em 2014, o Google lançou o Google Glass, sua grande aposta no setor de AR. Descontinuou o projeto.
Em meio aos investimentos das big techs em projetos no metaverso, em 2022 a Meta apresentou o Quest Pro, um upgrade do Quest 2 anunciado em 2020; a Microsoft lançou, em 2023, o HoloLens 2; e o Google até tentou novamente com uma versão atualizada, o Enterprise Edition 2, mas, dessa vez, com o objetivo de melhorar dinâmicas de trabalho como engenharia e design. Até agora, nenhum deles estourou. O grande público sequer ficou sabendo do lançamento.
O questionamento é: assim como o mercado de celulares se transformou, em 2007 com o lançamento do iPhone, será que essa novidade vai impulsionar o setor do metaverso desta vez? O Vision Pro vai ter o mesmo fim do Google Glass? Ou são novos tempos?
Trazendo algumas reflexões sobre as perguntas: primeiro, o cenário não parece oportuno. O mercado de óculos de realidade virtual teve uma queda de 54% nas vendas globais no ano passado, de acordo com a International Data Corporation.
Outro ponto importantíssimo a ser levado em consideração é que quem quiser um terá de desembolsar nada menos do que US$ 3.999,00. Fazendo uma conta rápida, são R$ 20 mil, R$ 15 mil a mais do que o do principal concorrente, a Meta.
Segundo dados do IBGE, 1% da população brasileira ganha mais que R$ 20 mil por mês. 90% dos brasileiros têm renda inferior a R$ 3,5 mil por mês. Dizer que será sucesso no Brasil me soa distorcido da realidade.
Agora, trazendo um contraponto, a Apple parece ter fôlego quando lança seus produtos. O próprio Apple Watch, lançado em 2015, no seu primeiro dia de pré-venda, recebeu cerca de 1 milhão de pedidos e, apesar do lançamento inicial promissor, houve alguma incerteza sobre o sucesso do dispositivo.
Tudo indica que eles têm encontrado rotas alternativas, visto que o produto já está na sua 8ª versão e longe de ser "moda passageira". Para quem ficou até o fim esperando algum tipo de previsão, até para os gurus e futuristas o negócio está difícil. Como eu disse antes, sou só um entusiasta e estudioso da tecnologia e, para mim, é muito cedo para ter uma visão clara do que pode acontecer.
*Hugo Rodrigues é Chairman do McCann Worldgroup para WMcCann, Craft Brasil e Aldeiah