Poucas empresas estão observando seus papéis subirem na Bolsa em meio a crise global por conta da pandemia do coronavírus. E uma delas é a Zoom. A certa e a errada.
Explica-se. Há duas empresas chamadas Zoom na bolsa. A mais conhecida, e valiosa, é a Zoom Video Communications, que abriu o capital na Nasdaq, no ano passado, e é dona de um aplicativo de videoconferência.
A outra é a Zoom Technologies, baseada em Pequim, que produz componentes para celulares e chegou a fazer parte da Nasdaq. Hoje seus papéis são negociados no que é conhecido como OTC Market, ou seja, mercado de balcão fora das bolsas de valores.
Na ânsia de comprar ações de uma empresa de videoconferência, que deve lucrar com essa crise, os investidores estão apostando na empresa errada.
Além de separadas por bilhões de dólares em valor de mercado (a Zoom Video Communications vale US$ 30,4 bilhões e a Zoom Technologies, US$ 850 milhões), as duas empresas tem tíquetes semelhantes. O que aumenta a confusão.
Para comprar a Zoom, de videoconferência, é preciso digitar o tíquete ZM. Já a Zoom, de componentes para celulares, conta com a sigla ZOOM.
As ações da empresa americana Zoom subiram 43% desde fevereiro, quando a crise do coronavírus começou a se espalhar pelo mundo. Faz sentido. Por conta de mais pessoas fazendo home office, seus serviços devem ser usados de forma intensa. O que significa mais lucros.
A Zoom errada, por sua vez, teve um desempenho ainda melhor. No mesmo período, as suas ações saltaram incríveis 273,4%. Mas nada justifica essa valorização a não ser investidores afoitos que estão apostando na ação errada.
Essa não é a primeira vez que essa confusão dos investidores encheu os cofres da Zoom errada. Em março de 2019, um mês antes da Zoom Video Communications estrear na bolsa de valores, as ações da pequena chinesa homônima tinham valor em US$ 0,06. No debute da xará, no dia 18, suas papéis saltaram 56 vezes e chegaram a bater US$ 3,4. Hoje, estão acima de US$ 8.
Da China ao Vale do Silício
A Zoom Video Communications foi fundada pelo chinês Eric Yuan, que chegou aos EUA, em 1997, aos 27 anos, sem dominar a idioma.
Ainda em sua terra natal, na província de Shandong, Yuan foi profundamente impactado por uma palestra do todo-poderoso Bill Gates, fundador da Microsoft, que falava, há mais de 30 anos, sobre poder da internet.
Decidido a fazer parte do Vale do Silício, o programador passou dois anos tentando abrir caminhos em solo americano, mas teve o visto negado. Não foi uma, nem duas. Foram oito vezes.
Na nona tentativa, a porta se abriu. Com o documento em mãos, Yuan garantiu uma vaga de programador na Webex, uma empresa que trabalhava com soluções de videoconferência e colaboração em tempo real.
Ali, Yuan pacientemente escalou a escada hierárquica até chegar à liderança do time de engenharia – e permaneceu no cargo mesmo após a aquisição da Webex pelo grupo Cisco, em 2007, por US$ 3,2 bilhões.
Yuan queria repaginar o produto. Seus chefes não deixaram. Por um ano, ele insistiu com seus superiores para que lhe deixassem reconstruir a plataforma, mas todas suas tentativas foram frustradas.
Então, em 2011, ele resolveu que não brigaria mais pelo que acreditava. Se a Webex estava decidida a manter as coisas do mesmo jeito, ele faria diferente – em outro lugar. Foi assim que surgiu a Zoom.
Sua carreira “solo” começou sob muitas suspeitas, já que o mercado estava cheio de grandes competidores, como Google, Skype, GoToMeeting e tantas outras alternativas gratuitas – mas que eram todas instáveis.
E, aos poucos, ele foi ganhando espaço. Hoje, a ferramenta acumula mais de 5 bilhões de minutos mensais em reuniões. O Zoom é, por exemplo, o provedor de videoconferência para companhias como Uber, Wells Fargo, ServiceNow e GAP.
Apesar de ter uma modalidade básica, oferecida gratuitamente, com um limite de 40 minutos por chamada em grupo, a Zoom extrai seu lucro da mensalidade de assinantes. Em tempos de coronavírus, nada mais apropriado aos investidores que querem lucrar com essa crise. Só falta apostar na empresa certa.
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