Os drones e os robôs estão ganhando cada vez mais espaço na indústria minerária por conta de unirem eficiência, produtividade, sustentabilidade e segurança.
Os veículos aéreos não tripulados (VANTs), por exemplo, permitem a coleta de dados em tempo real, tornam o mapeamento de um projeto mais preciso, facilitam o monitoramento de áreas extensas, podem fazer a detecção precoce de problemas. Os robôs, controlados por humanos à distância, se encarregam das tarefas mais perigosas e insalubres.
Prova da urgência na adoção das novas tecnologias é o avanço do mercado global de automação minerária. Avaliado hoje em US$ 3,6 bilhões, em apenas seis anos o setor deve saltar para US$ 5,1 bilhões, conforme dados da consultoria Research and Markets.
Para não perder o curso da transição energética (e dos negócios), algumas companhias mineradoras vêm modernizando seus processos e operações.
A Vale, por exemplo. Em 2010, a empresa criou o Instituto Tecnológico Vale-Mineração (ITV-M), e desde então tem uma célula de robótica dedicada ao desenvolvimento de robôs, drones e soluções de inteligência artificial (IA).
“A necessidade de implementar robôs nas operações da Vale surgiu da busca constante por aumentar a segurança dos empregados e otimizar processos operacionais”, diz Gustavo Pessin, pesquisador titular da área de controle e robótica do Instituto Tecnológico Vale (ITV), em entrevista ao NeoFeed.
De acordo com ele, a Vale tem investido em diferentes modelos de robôs que auxiliam os empregados em tarefas de manutenção, retirando-os de situações de risco.
Graças a uma parceria entre a área de espeleologia da companhia e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), desde 2015, a Vale trabalha no desenvolvimento do EspeleoRobô.
Operada de forma remota e equipada com câmeras e sistemas de iluminação, a máquina foi projetada inicialmente para auxiliar na exploração de cavernas. Com facilidade de circular por terrenos acidentados e ambientes confinados, de difícil acesso, dois anos depois, a máquina teve seu uso ampliado.
Uma espécie de carrinho, o robô já inspecionou tubulações, galerias e drenos. Realizou serviços também em equipamentos de usina, como no mapeamento de moinhos de bolas, as máquinas que reduzem o tamanho dos materiais minerados por meio de impacto e atrito; e de dentes de britador, responsáveis pelo trituramento de minérios e rochas.
O "pet minerador"
A Vale não fica restrita aos limites de seus laboratórios de pesquisa. A empresa tem um olhar atento para inovações, criadas mundo afora. Em 2021, a mineradora comprou o Anymal, um cão-robô criado pela empresa suíça Anybotics.
“Os testes do Anymal, realizados na usina de Cauê, em Itabira, Minas Gerais, foram um sucesso, o que levou a Vale a adquirir uma unidade do robô”, diz Pessin.
Com o “pet”, a empresa pretende tirar seus funcionários dos locais de risco, permitindo a inspeção dos ativos da companhia de forma remota. Ganham-se segurança, tempo e assertividade nas tomadas de decisão. Por outro lado, ações mais precisas permitem a prevenção e/ou a detecção precoce de problemas. Ou seja, o Anymal ajuda a Vale reduzir custos com manutenção e os gastos com a parada das atividades.
Se os robôs facilitam o trabalho dentro da terra, os drones trazem informações valiosas do céu. Fundada em 2010, a empresa gaúcha Skydrones é uma das pioneiras no desenvolvimento de veículos aéreos não tripulados (VANT), contribuindo inclusive para o processo de regulamentação do uso desses equipamentos no Brasil. E hoje atua em parcerias para criação de produtos em áreas como agricultura, segurança pública e mineração.
Os primeiros cases da empresa no setor foram em 2014, com a utilização de um drone de asa fixa, o chamado zangão, para mapeamento de áreas. “Fizemos trabalhos em Mossoró, no Rio Grande do Norte, como provas de conceito, e para volumetria e topografia”, afirma Daniel Bandeira, CFO da Skydrones, em conversa com o NeoFeed.
A startup gaúcha atua, desde 2017, em parceria com a empresa Radaz, de São José dos Campos, no interior paulista, para uso de radares de monitoramento em drones. “Em uma floresta, é possível verificar o topo de árvore, solo e ainda penetra nas áreas”, exemplifica o executivo. “Na mineração, o equipamento enxerga umidade, tubulação enterrada e deslocamento de solo em barragens.”
Recentemente, a empresa tem trabalhado com uma multinacional de tecnologia de mineração no desenvolvimento de uma solução de drone aplicada à perfuração e desmonte. “Eles vão embarcar um sensor em um drone nosso, para detectar movimentação de terra. Estamos na fase final de validação do produto, que deve estar concluído no primeiro trimestre do ano que vem”, diz Bandeira.
Um drone minerário custa entre R$ 100 mil e R$ 300 mil. No caso de um equipamento com o radar integrado, por exemplo, pode alcançar R$ 1 milhão.
A Skydrones tem ainda um projeto com a empresa de maquinários geofísicos Hasageo para a instalação nos VANTs de espectômetros (para analisar amostrar de minérios) e magnetômetros (para medir a intensidade, direção e variação do campo magnético de uma área). “Esses equipamentos garantem segurança aos funcionários, que não precisam estar em áreas de risco”, afirma o CFO.
Como o ecossistema de inovação minerária está em evolução constante, novas pesquisas são deflagradas a todo momento. O ITV serve de paradigma para a ampliação do uso das tecnologias emergentes.
“O instituto está atuando em colaboração com o time da Estrada de Ferro Carajás no desenvolvimento e ajustes de um robô para inspeção de dutos de ferrovias”, diz Pessin. “Em outra operação, no Pará, o ITV está colaborando no desenvolvimento de robôs para inspeções de espaços confinados.”
Ainda no Pará, a mineradora tem trabalhado na adaptação de um robô desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para inspeção das correias transportadoras, máquinas que fazem o transporte do minério, da extração ao processamento.