Uma conhecida máxima do mundo de negócios diz que não se deve desperdiçar por nada uma crise. No competitivo xadrez digital entre as empresas da economia tradicional, os chamados incumbentes, e as startups disruptivas, parece que todo dia é dia - para ambos os lados.
A Covid-19 não altera a lógica per se mas acelera processos cujos impactos abrem incríveis janelas de oportunidades. E, de novo, tem para todo mundo. É só saber observar o movimento e aproveitar o momento.
POR UM LADO, a pandemia eleva as incertezas no horizonte e faz com que fundos de venture capital desacelerem decisões de investimentos. Num cenário de falta de capital disponível, mesmo startups com modelos de negócios comprovados podem ser duramente impactadas.
Sem dinheiro na praça, a calo aperta e bons ativos podem ficar mais baratos. Para as incumbentes, cujo acesso à capital é facilitado, abre-se uma incrível janela de M&A. Se feitos com inteligência, processos como este podem ser um divisor de água na criação de vantagens competitivas futuras.
Neste sentido, o anúncio recente do Walmart em relação à descontinuidade da marca Jet.com é emblemático. Menos pela lógica de aquisição barata (afinal, foram US$ 3 bilhões) e mais pela lógica do papel da startup no ecossistema da incumbente.
O Walmart não ganha escala com a aquisição da Jet.com, mas ela teve, segundo os próprios executivos da companhia, papel relevante no processo de Transformação Digital.
A empresa aparentemente já começa a colher os frutos, as vendas do comércio eletrônico subiram 74% no último trimestre. Ou seja, na xepa das startups, vai ganhar quem souber comprar bem e acoplar estrategicamente.
POR OUTRO LADO, a pandemia tem um impacto bastante visível no mercado de consumo à medida que altera padrões de maneira significativa.
Por mais que sejam capazes de identificar essas novas tendências, as grandes empresas são lentas para aproveitá-las. E é aí que a agilidade das startups tem muito valor.
Startups são significativamente mais velozes e eficientes na dinâmica de testar hipóteses para resolução de problemas. Elas experimentam, aprendem e corrigem, conseguindo, portanto, avançar mais rapidamente.
A história mostra o impacto de crises no surgimento de novos e vitoriosos negócios. E esta é exatamente a oportunidade na perspectiva das pequenas. Novos problemas, novos negócios.
De certo, só sabemos que a Covid-19 passará mas deixará suas cicatrizes no mundo dos negócios. Como sempre, ganha o jogo quem se adapta mais rapidamente aos novos cenários. Entre a musculatura das grandes empresas e a flexibilidade das startups, queria poder ficar com as duas.
*Renato Mendes é investidor, professor na pós- graduação do Insper, mentor na Endeavor Brasil e autor do livro “Mude ou Morra”, finalista do Prêmio Jabuti 2019.
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