No início deste ano, a Allied deu o pontapé oficial na sua subsidiária de Miami (EUA), em sua primeira incursão internacional. Em 21 de março, a distribuidora e varejista de eletrônicos divulgou a projeção de faturar R$ 600 milhões no primeiro ano dessa operação, centrada no mercado da América Latina.
Passados exatos 50 dias desse guidance e apenas quatro meses após carimbar seu passaporte, a empresa já dobrou essa aposta. Em fato relevante na noite de quarta-feira, 10 de maio, a companhia informou que, agora, prevê faturar entre R$ 1 bilhão e R$ 1,2 bilhão com o novo negócio neste ano.
A revisão dessas projeções veio acompanhada da divulgação dos resultados no primeiro trimestre de 2023. No período, a operação da Allied Miami registrou uma receita bruta de R$ 302 milhões, metade do que estava previsto para todo o ano de 2023.
“A ideia era introduzir a Apple e outras marcas logo de cara. Mas não conseguimos”, diz Silvio Stagni, CEO da Allied, ao NeoFeed. “Fomos rapidamente aceitos e atropelados, positivamente, pela evolução da operação.”
Nesses três primeiros meses, a subsidiária apurou um lucro bruto de R$ 7 milhões e uma margem bruta de 2,3%. Essa carteira já soma vendas para 16 países da América Latina, com um portfólio que, nesse primeiro momento, envolve apenas produtos da Apple – iPhone, MacBook, iPod e Apple Watch. Em breve, o iPad será adicionado a essa lista.
Alguns fatores explicam essa rápida escalada. No primeiro deles, a Allied ocupou o espaço deixado pela americana Brightstar, que compunha o trio de distribuidores da Apple nos países da América Latina em que a empresa não tem subsidiária. Ou seja, nos mercados além de Brasil, México, Colômbia e Chile.
Nos últimos anos, a Brightstar começou a deixar o mercado de distribuição e outros segmentos para se concentrar em serviços. Essa estratégia passou, por exemplo, pelo fim da sua operação no Brasil, em 2020, quando Trocafone assumiu seus contratos no País, e pela mudança de nome da companhia, para Likewise, em 2021.
Outro impulso está relacionado a já tradicional data de lançamento do iPhone, que acontece, todos os anos, em setembro. Assim, as vendas do produto, carro-chefe da Apple, costumam ser mais fortes nos seis meses seguintes, o que se refletiu no resultado da Allied Miami no primeiro trimestre.
Esse mesmo calendário traz boas perspectivas no quarto trimestre de 2023. Em contrapartida, essa agenda também passa por um costumeiro recuo na demanda pelos iPhones no segundo e no terceiro trimestre.
A Allied já tem desenhada, porém, a estratégia para superar a barreira da sazonalidade e concretizar o guidance da sua operação internacional. Um dos caminhos é a extensão das vendas para novos mercados da região.
“A América Latina tem mais de 40 mercados a serem explorados”, ressalta Stagni. Ele cita os países do Caribe e da América Central como possíveis novos pontos a serem adicionados a esse mapa. Há outro percurso, porém, além dessa expansão geográfica.
“Vemos mais oportunidades com a inclusão de outras marcas, fornecedores e produtos”, explica. “Ainda não temos nada concreto nessa direção, mas estamos olhando o que os clientes estão comprando e de quem compram para identificarmos essas oportunidades.”
A Allied Miami faturou R$ 302 milhões no primeiro trimestre de 2023
Em uma terceira via, ainda em fase embrionária e seguindo um roteiro inverso, a Allied enxerga boas perspectivas na importação, a partir de Miami, de produtos para o mercado brasileiro.
“Não faremos isso para celulares, computadores e outros segmentos dominados por marcas como Samsung, LG e Motorola”, diz Stagni. “Mas podemos trazer produtos de nicho, de marcas conhecidas, que os brasileiros compram lá fora, em categorias como câmeras e fones.”
Em meio a esses planos, uma das vantagens ressaltadas é o modelo asset light da subsidiária. Com dois executivos comerciais e a área operacional terceirizada, o braço tem o apoio da estrutura no Brasil. Dos US$ 8 milhões aplicados até o momento, boa parte foi destinada ao capital de giro da operação.
Balanço da Allied e Americanas
Enquanto traça esses planos, o executivo contabiliza os resultados da Allied entre janeiro e março de 2023. No período, o lucro líquido ajustado recuou 13%, na comparação com o mesmo intervalo, um ano antes, para R$ 16,3 milhões.
A receita líquida teve ligeira queda de 0,5%, para R$ 1,36 bilhão. No varejo digital, houve um salto de 9,4%, para R$ 220,8 milhões. Já no segmento de distribuição, a queda foi de 2,2%, para R$ 996,4 milhões. No varejo físico, a receita líquida caiu 1,9%, para R$ 144,8 milhões.
O Ebitda ajustado recou 12,4%, para R$ 66,9 milhões, enquanto a margem Ebitda ajustada caiu 0,7 ponto percentual, para 4,9%. A dívida líquida ficou em R$ 342,5 milhões e a relação dívida líquida/Ebitda foi de 1,3 vezes, contra 1,8 vezes no quarto trimestre de 2022.
“Foi um trimestre duro, mas as perspectivas são melhores para o ano, porque nossas principais datas de venda – Dia das Mães, Black Friday e Natal – ainda estão por vir”, diz Stagni. “E, no mercado, todos os fabricantes enxergam um ciclo de troca dos equipamentos comprados no boom da pandemia.”
Nessa agenda, a Allied teve uma boa notícia na semana passada, quando informou que recebeu a quitação, por meio da seguradora Atradius Crédito y Caución, do valor de R$ 78,7 milhões referente a créditos a receber da Americanas.
“A Americanas era um cliente de R$ 100 milhões na nossa operação e, de um dia para outro, isso desapareceu. Esse foi o maior impacto no trimestre”, afirma. “Mas a situação está voltando ao normal. Já retomamos as vendas com eles, agora, à vista, enquanto não aprovam a recuperação judicial.”
Por volta das 16h20, as ações da Allied estavam sendo negociadas com ligeira alta de 0,62%, a R$ 4,86. No ano, os papéis acumulam uma desvalorização de 18,5%. A companhia está avaliada em R$ 453 milhões.