Em 2024, a BYD engatou uma marcha acelerada até ultrapassar, neste ano, a Tesla, e alcançar o posto de maior fabricante global de carros elétricos. Entretanto, no circuito mais recente dessa corrida, a companhia chinesa deu sinais de que pode estar perdendo tração.

O que trouxe esse alerta foi o balanço do segundo trimestre da empresa, divulgado na sexta-feira, 29 de agosto, que trouxe números aquém do esperado. O principal deles, um lucro líquido de 6,36 bilhões de yuans (cerca de US$ 887 milhões), uma queda de aproximadamente 30% na comparação anual.

A cifra em questão veio bem abaixo das estimativas de mercado, que apontaram para um montante da ordem de 11,9 bilhões de yuans (cerca de US$ 1,65 bilhão). E deu a partida a um recuo das ações da companhia – negociadas na Bolsa de Hong Kong – no pregão de segunda-feira, 1º de setembro.

Depois de chegarem a cair 8%, os papéis da BYD encerraram o pregão de hoje com queda de 5,24%, cotadas a 108,4 dólares de Hong Kong, dando à empresa um valor de mercado de 1,03 trilhão de dólares de Hong Kong (cerca de US$ 133,2 bilhões). No ano, as ações têm, porém, alta de 21,9%.

Em seu balanço, a fabricante deu a pista sobre o que impactou sua última linha do balanço, entre outros indicadores. O grupo citou que a guerra de preços e as estratégias excessivas de marketing no setor de carros elétricos na China exerceram um “impacto periódico adverso no desenvolvimento da indústria”.

Alguns números traduzem parte dessa conta. Um relatório recente da Nomura Research Institute, os preços da categoria no mercado chinês caíram cerca de 19% nos últimos dois anos, para cerca de 165 mil yuans (US$ 22,9 mil).

Assim como aconteceu em outros segmentos, entre eles, o de delivery, a guerra de preços dos carros elétricos no mercado chinês fez com que, em maio, as autoridades locais alertassem sobre possíveis punições às montadoras, caso seguissem nessa direção.

“Algumas empresas adotaram uma estratégia de preços ultrabaixos, chegando a vender abaixo do custo”, afirmou, na época, Li Chao, porta-voz da Comissão de Desenvolvimento da China, principal agência nacional de planejamento econômico.

Ele acrescentou: “Essas práticas ultrapassam os limites da concorrência de mercado, distorcem os mecanismos de mercado e interrompem a concorrência leal, o que exige medidas corretivas”, observou.

Na época, nessa mesma linha, os investidores ressaltaram a preocupação sobre como essas práticas traziam um risco elevado, dado que os descontos por unidade vendida poderiam avançar justamente sobre a margem de lucro dessas empresas.

Agora, a partir dos números recentes da BYD, quem acendeu o alerta foi o Jefferies. Em relatório, o banco de investimentos ressaltou que a ofensiva regulatória prejudica o “manual histórico” da empresa, centrado em alavancar suas vantagens na cadeia de fornecedores para cortar preços agressivamente.

“Em resumo, o ‘trem a alegria’ da BYD – impulsionado por escala, cortes de custos e liderança tecnológica – perdeu velocidade. Até que recupere o ímpeto, o desempenho abaixo do esperado parece provável”, escreveram analistas do Jefferies no domingo.