Na semana passada, a empresa britânica de chips Arm registrou a maior oferta pública inicial de ações do ano nos Estados Unidos, ao levantar US$ 4,8 bilhões e abrir caminho para o tão esperado reaquecimento no mercado de IPOs.
Já na segunda-feira, 18 de setembro, a Instacart ajudou a pavimentar essa recuperação ao fixar o preço da sua oferta no topo da faixa, em US$ 30 por ação, e captar US$ 600 milhões. A startup de entregas de supermercados captou US$ 600 milhões e foi avaliada em US$ 9,9 bilhões.
As duas empresas escolheram o mesmo balcão para os seus IPOs. E, de quebra, ao tocarem o sino na Nasdaq, reacenderam uma disputa entre a bolsa de valores mais conhecida por sua pegada em tecnologia e a Bolsa de Nova York (Nyse), sua “conterrânea”.
Com esses IPOs, a Nasdaq voltou à liderança em meio à corrida pela dianteira na retomada do mercado. É o que mostra um levantamento realizado pela consultoria americana Dealogic e o jornal britânico Financial Times.
De acordo com os dados compilados, a Nasdaq contabiliza US$ 9,3 bilhões captados em ofertas no seu balcão, em 2023. Nesse mesmo intervalo, a Nyse registra um volume total de US$ 8 bilhões arrecadados.
Até então, a Bolsa de Nova York estava na dianteira ao sediar o IPO de US$ 4,3 bilhões da Kenvue, divisão de marcas de consumo da Johnson & Johnson, em março. Levando-se em conta os últimos 20 anos, a Nyse esteve, em boa parte do tempo, à frente nesse embate.
Com o boom de IPOs registrado antes de o mercado restringir suas ofertas, a Nasdaq atraiu, porém, o maior volume de ofertas nos últimos quatro anos. A agenda à frente de ofertas mostra, no entanto, que esse jogo está em aberto.
Nos próximos capítulos dessa competição, a Klaviyo, startup americana de marketing digital, deve precificar seu IPO na Nyse ainda nesta semana. A expectativa é de que a empresa levante mais de US$ 500 milhões em sua oferta.
A “conta” da Bolsa de Nova York também deve ser reforçada com o IPO da Birkenstock, fabricante de calçados alemã, cuja oferta pública inicial de ações, prevista para as próximas semanas, pode chegar a até US$ 1 bilhão.
Nessa disputa, um dos componentes de peso para atrair potenciais ofertas são os custos de listagem. Na Nasdaq, a taxa é de US$ 270 mil, contra US$ 295 mil na Bolsa de Nova York. Nos dois casos, há encargos que dependem de fatores como o número de ações em circulação.
O perfil associado a cada uma das bolsas é mais um fator essencial nesses processos. Mesmo depois de a Nyse remover restrições para ofertas de tecnologia nos últimos anos, a Nasdaq segue sendo a preferida do setor para concretizar esse trajeto.
Com sua tradição e histórico mais longo no mercado de capitais dos Estados Unidos, a Bolsa de Nova York continua tendo, no entanto, mais relevância quando a abertura de capital é o norte de outros segmentos da economia.
Isso não significa que não existam mudanças nesse cenário. Inclusive, após a realização dos IPOs. Segundo o levantamento, 11 empresas inicialmente listadas na Nyse transferiram suas ações para Nasdaq, em 2023. Entre elas, a DoorDash, que, em 2020, registrou o segundo maior IPO da Nyse.
O mesmo caminho já havia sido trilhado por 14 empresas no ano passado. Em contrapartida, 34 companhias fizeram o caminho inverso em 2022, enquanto, nesse ano, o número daquelas que migraram da Nasdaq para a Nyse é de 14 players.