As ações da farmacêutica Eli Lilly sobem perto de 2% nesta sexta-feira, 21 de novembro, em Nova York, negociadas na casa de US$ 1.060, fazendo a empresa chegar ao valor de mercado de US$ 1 trilhão pela primeira vez. No ano, os papéis já acumulam alta de mais de 36%, numa arrancada alimentada quase exclusivamente pelo boom dos remédios para emagrecimento baseados em GLP-1, como Mounjaro e Zepbound.
O valor de mercado da Lilly já é mais do que o dobro do de sua rival mais próxima no setor, a Johnson & Johnson, avaliada em cerca de US$ 490 bilhões. E bem acima da Novo Nordisk, com quem disputa o mercado de remédios para emagrecimento, que está avaliada em US$ 210 bilhões.
Sediada em Indianápolis, a farmacêutica se torna a décima empresa a superar a marca de US$ 1 trilhão. As outras são Nvidia, Apple, Microsoft, Alphabet, Amazon, Broadcom, Meta, Tesla e Berkshire Hathaway, segundo dados da Dow Jones Market Data.
O rali recente recoloca a companhia em um patamar de “queridinha” da bolsa americana, praticamente na mesma prateleira que as chamadas “Magnificent Seven”.
O motor dessa reprecificação é a tirzepatida, princípio ativo por trás de Mounjaro (diabetes tipo 2) e Zepbound (obesidade). Em pouco tempo, esses produtos transformaram a Lilly em uma potência no mercado de perda de peso: as vendas da tirzepatida já superaram Keytruda, da sua concorrente Merck, como o medicamento mais vendido do mundo.
A empresa também passou a rival dinamarquesa Novo Nordisk, dona de Ozempic e Wegovy, em número de prescrições nos Estados Unidos.
E o ganho de mercado aparece de forma direta na receita. No último trimestre reportado, a divisão de obesidade e diabetes da Lilly gerou mais de US$ 10 bilhões, algo em torno de 60% do faturamento total de US$ 17,6 bilhões.
Em paralelo, analistas projetam que o mercado de drogas para emagrecimento pode chegar a cerca de US$ 150 bilhões em vendas anuais até 2030, com Lilly e a Novo Nordisk dividindo a maior parte desse bolo. A leitura do mercado é de que a companhia conseguiu combinar eficácia clínica acima da média com execução industrial.
Enquanto o lançamento de Wegovy, da Novo Nordisk, enfrentou problemas de capacidade e gargalos de oferta, a Lilly acelerou a expansão das fábricas e da distribuição, o que permitiu capturar uma demanda que segue muito maior do que a oferta. Os dados de estudos clínicos também apontam para uma perda de peso mais robusta com a tirzepatida, o que reforça a preferência de médicos e pacientes.
Esse conjunto de fatores ajuda a explicar por que a ação passou a ser negociada com múltiplos típicos de empresa de tecnologia, e não de farmacêutica tradicional. Segundo dados compilados pela Reuters, a Lilly vale hoje cerca de 50 vezes o lucro estimado para os próximos 12 meses – uma das avaliações mais caras de toda a big pharma.
Na prática, parte dos investidores começa a olhar para a Lilly como uma espécie de alternativa às grandes histórias de IA da bolsa americana. James Shin, diretor de pesquisa em biotecnologia do Deutsche Bank, afirmou em relatório que a farmacêutica “volta a se parecer” com as sete Magníficas e pode ser vista como uma opção em um momento em que surgem dúvidas sobre a sustentabilidade do rali de algumas ações de tecnologia.
O marco de US$ 1 trilhão, porém, vem acompanhado de um nível de cobrança proporcional. A grande questão é se a empresa conseguirá sustentar esse crescimento à medida que os preços de Mounjaro e Zepbound forem pressionados e que o debate político em torno do custo dos medicamentos, em especial nos Estados Unidos, ganhar força.
A Lilly já fechou um acordo com o governo Trump, aceitando reduzir preços em troca de ampliar o acesso aos remédios por meio de programas públicos, o que abre um universo potencial de dezenas de milhões de pacientes, mas tende a comprimir margens no curto prazo.
Para lidar com essa equação, a farmacêutica aposta em escala e em pipeline. A companhia se prepara para lançar um comprimido oral para obesidade, o orforglipron, visto por casas de análise como o Citi como o próximo vetor de crescimento, “surfando” as portas abertas pelos injetáveis. Ao mesmo tempo, reforça o portfólio em áreas como oncologia e doenças neurodegenerativas, numa tentativa de mostrar que a história não se resume a um único blockbuster.
Do lado dos concorrentes, a Novo Nordisk corre para ampliar a capacidade produtiva e explorar novas indicações para seus próprios GLP-1, de doenças cardiovasculares à apneia do sono. A disputa entre as duas tende a definir não apenas a dinâmica de preços e margens desse mercado, mas também o ritmo de adoção dos remédios de emagrecimento como parte do tratamento padrão de obesidade e de condições associadas.