Aprovada com restrições pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) na quarta-feira, 10 de dezembro, após 16 meses de idas e vindas e reclamações sobre possível concentração de mercado, a fusão entre as gigantes do setor pet Petz e Cobasi vai esmagar o pequeno pet shop que não mudar o foco e adotar o modelo de prestação de serviços, como banho e tosa, como prioridade no negócio.

A avaliação é de Rodrigo Albuquerque, CEO e fundador da rede Petland no Brasil, que tem como acionista a família Jereissati, com 28% de participação. Com 150 lojas no País, a rede é o terceiro player no mercado nacional em unidades, atrás apenas das duas que acabam de se unir e que somam mais de 500 unidades.

A Petcamp, rede com forte presença do interior de São Paulo, é a quarta maior do Brasil, com pouco mais de 100 lojas. A Petlove, que integrou o processo no Cade como parte interessada, tem uma grande força no mercado online.

Para o CEO da Petland, que tem o segmento de serviços como uma das principais alavancas do negócio, além do conceito de "loja de bairro", a nova configuração vai representar a grande mudança para o setor daqui em diante, que já vinha enfrentando concorrência de redes farmacêuticas e supermercados.

“As lojas de bairro estão sofrendo muito com margens de vendas de produtos e ainda são altamente dependentes do mercado de ração e medicamentos. Por isso que a fusão vai esmagar o pequeno lojista se ele não mudar o foco do seu negócio”, diz Albuquerque, em entrevista ao NeoFeed.

“Para esse pequeno negócio que não sabe oferecer serviços, a vida vai ficar difícil. Esse empreendedor, que está estabelecido há algum tempo, precisa entender que uma gestão bem-feita é baseada em dados e personalização. Ele precisa deixar de ser comerciante para ser um gestor", completa.

Segundo o empresário, o conceito dessas pequenas lojas precisa estar muito conectado ao relacionamento com o cliente, que, em tese, está mais próximo, enquanto as megastores representam mais o modelo unicamente de transação no negócio.

Dados da Associação Brasileira das Empresas do Setor de Animais de Estimação (Abempet) mostram que o mercado pet no Brasil é extremamente pulverizado.

O segmento de pequenos e médios pet shops responde por cerca de 50% do setor no Brasil, que tem um faturamento total de R$ 77 bilhões ao ano. As megalojas, onde estão Petz e Cobasi, não alcançam 10%.

O País tem hoje cerca de 200 mil estabelecimentos ligados ao varejo pet, incluindo unidades de todos os tamanhos e até hospitais veterinários. Tudo isso para atender a demanda de um universo de 170 milhões de pets no Brasil, sendo 66,3 milhões de cachorros (39%) e 32,3 milhões de gatos (19%).

Até por conta disso, a Petland deve crescer em 2026 focado neste segmento de prestação de serviços. Das 30 lojas previstas para serem abertas no ano que vem no Brasil, metade delas será no modelo studio, de até 50 metros quadrados (m²), apenas para realizar atividades como banho e tosa.

“Esse modelo de loja não terá produto. Será menor e muito focado na experiência do consumidor. A jornada já vai começar online, com o agendamento do serviço. Também vamos fazer lojas só com produtos de conveniência, com mais acessórios e petiscos. Dessa forma, nós também estamos nos adaptando a esta nova configuração do setor”, afirma o CEO.

As primeiras unidades neste novo formato devem ser inauguradas em abril de 2026, principalmente em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A partir do próprio anúncio da fusão, segundo o CEO, aumentou a procura de empreendedores para converter lojas para a rede Petland.

A empresa tem adotado modelo de pacotes de assinaturas de serviço, que garantem uma maior rentabilidade. Segundo Albuquerque, o segmento de serviços na Petland, que representava 25% no faturamento da rede há dois anos, hoje está em 45%. E, até 2027, alcançará 60%.

“Se o lojista tiver base para avançar nesses serviços, ele terá pista para correr no mercado pet a partir deste novo momento. Vamos seguir caminhando em uma avenida diferente da Petz e da Cobasi”, afirma Albuquerque.

Na decisão que aprovou a fusão, o Cade determinou a venda de 26 lojas de Petz e Cobasi no estado de São Paulo, a maior parte na capital. Mas Albuquerque afirma não tem interesse nos ativos, justamente pelo tamanho dessas lojas que, segundo ele, têm perdido espaço na atenção do consumidor.

Segundo o empresário, é legítimo o interesse da Petlove em pleitear no processo a venda de lojas das duas redes, pois o e-commerce já vinha sofrendo com diminuição de margens. A empresa deve ficar com boa parte dessas unidades. “De certa forma, o desfecho apara as demandas de ambos os lados”, afirma.

Para ele, Petz e Cobasi irão se concentrar, nos próximos dois anos, em captar a sinergia da fusão, para, a partir daí, iniciar um novo ciclo de abertura de lojas, só que em um formato reduzido.

“Eles já entenderam isso e têm inaugurado lojas de 200 m². Essas unidades de 2 mil m² não cabem mais. Não faz mais sentido, porque o e-commerce já cumpre a função de estoque. E o bairro ganhou protagonismo nesse segmento”, completa Albuquerque.

Segundo informações das duas empresas, as unidades que serão vendidas representam 3,3% do faturamento combinado da nova companhia em 12 meses. Juntas, Petz e Cobasi têm hoje 515 lojas (264 da Petz e 251 da Cobasi).

Pelo acordo definido, os acionistas da Cobasi terão 47,4% da nova empresa, enquanto os da Petz ficarão com 52,6%, além de receber R$ 400 milhões. O faturamento anual combinado da nova "superpet" ficará em cerca de R$ 7 bilhões.