A lição de casa incompleta, do ponto de vista financeiro, apresentada pela Ânima Educação no segundo trimestre não foi bem aceita pelo mercado. No pregão de sexta-feira, 8 de julho, as ações da companhia de ensino na B3 vêm operando em baixa desde o início do dia. Por volta de 12h30, os papeis acumulavam desvalorização de 4,8%.
Um dos pontos-chave desse mau humor na bolsa tem relação com o fraco desempenho da receita líquida no período, em um movimento de desaceleração provocado pela redução no volume de matrículas na graduação nos formatos presencial e ensino à distância (EAD).
No Ânima Core, maior segmento da companhia, que abrange os principais cursos, com exceção, a queda na base de alunos entre abril e junho foi de 5,8%, em comparação com a mesma base de 2024. No total, a base de estudantes da dona da Anhembi Morumbi e São Judas, entre outras, caiu 1,5%.
“A base de alunos de graduação do Ensino a Distância caiu 5,3% ano a ano, principalmente devido a uma redução de 39% nas matrículas no trimestre, influenciada pela estratégia de precificação da empresa no segmento, focada em gerar valor e fortalecer a imagem da marca”, diz o relatório do Itaú BBA.
No documento, assinado pelos analistas Vinicius Figueiredo, Lucca General Marquezini e Felipe Amancio, o banco considera esse fator como uma das razões para a alta da dívida da companhia.
“A sazonalidade mais fraca do segundo trimestre levou a um aumento de R$ 67 milhões no endividamento líquido em relação ao trimestre anterior, dos quais R$ 41 milhões foram causados pelo pagamento de dividendos”, complementam.
Por outro lado, a empresa registrou aumento no tíquete médio das mensalidades nos cursos, o que compensou parte desse recuo. No caso do presencial, o valor ficou 5,3% acima do que o praticado no segundo trimestre de 2024. No EAD, a alta alcançou 15,6%.
“O Ebitda ajustado atingiu R$ 352 milhões, com margem de 35,0%, 0,4 ponto percentual acima de nossas estimativas e 0,5 ponto percentual maior que no ano anterior”, dizem os analistas do Itaú.
Para o BTG Pactual, a queda no volume de estudantes também foi um indicativo importante para que o faturamento da companhia registrasse uma desaceleração, ainda que com ligeira alta.
“A base de alunos do Core caiu 5% ano a ano, totalizando 215 mil alunos, o que fez a receita líquida ficar estável, pois o aumento de preços (+5% ano a ano) compensou a queda da base.”
No total, a Ânima terminou o primeiro semestre em todos os seus cursos com uma base total de 382,1 mil alunos, contra 387,6 mil estudantes que estavam matriculados nas instituições de ensino do grupo nos primeiros seis meses de 2024.
No trimestre, a companhia de educação apresentou fluxo de caixa operacional (após os recursos aportados no capex) de R$ 157 milhões, abaixo dos R$ 180 milhões registrados no período anterior, provocando justamente pelo aumento do volume de investimentos, voltando, assim, à média histórica de aportes de cerca de 5% da receita líquida.
O lucro líquido ajustado no segundo trimestre foi de R$ 29,2 milhões, 18,9% acima dos R$ 24,5 milhões registrados no mesmo período de 2024. A receita líquida reportada foi de R$ 1 bilhão, 2,9% superior aos R$ 977 milhões do segundo trimestre do ano anterior.
Com esse cenário, os analistas do BTG enxergam desafios do ponto de vista do endividamento da companhia. “Após o pagamento de R$ 41 milhões em dividendos, a dívida líquida aumentou R$ 65 milhões trimestre a trimestre, para R$ 3 bilhões, com alavancagem subindo para 2,66 vezes, ante 2,63 vezes no primeiro trimestre”, diz o documento. Em relação ao segundo trimestre de 2024, a relação dívida líquida versus Ebitda caiu 0,1 ponto percentual.
De qualquer forma, mesmo com o cenário adverso no mercado de ações, o banco desenha um cenário de crescimento para os próximos meses, provocado principalmente pela perspectiva futura de um ciclo de juros mais baixos. No fim de julho, o Conselho de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic a 15% ao ano. Com isso, a recomendação é de compra.
“Os resultados da Ânima mostraram ganhos de margem ano a ano, embora desacelerando em relação aos trimestres anteriores, o que significa que a desalavancagem da empresa deverá depender gradualmente mais do crescimento mais forte da receita, como evidenciado pela ausência de desalavancagem sequencial no segundo trimestre”, dizem os analistas.
O Itaú manteve a recomendação de outperform para a ação. No acumulado de 2025, as ações da Ânima na B3 registram valorização de 139,5%. A companhia está avaliada em R$ 1,5 bilhão.