Fundado em agosto de 2003, muito antes do Zoom e de outros players que ganharam popularidade, principalmente, na pandemia, o Skype ajudou a redefinir a maneira como as pessoas se comunicavam. A empresa foi uma das primeiras a desbravar o até então inexplorado universo das videochamadas.

Prestes a completar 22 anos, a plataforma tem, no entanto, pouco a comemorar. Dona do serviço de chamadas de áudio e vídeo, a Microsoft anunciou na sexta-feira, 28 de fevereiro, que vai aposentar o Skype em maio, marcando um triste fim para uma pioneira que mudou a indústria de comunicação

O fim da linha para o Skype encerra uma conexão iniciada em maio de 2011. Na época, a Microsoft venceu uma disputa com o Google e o Facebook após desembolsar US$ 8,5 bilhões pela empresa, até então, sua maior aquisição. E que ainda não dava lucro.

“O Skype tem sido parte integrante da formação das comunicações modernas e da viabilização de inúmeros momentos significativos, e estamos honrados por termos feito parte dessa jornada”, afirmou, em nota, Jeff Teper, presidente da Microsoft 365 Collaborative Apps + Platforms.

O Skype já acumulava muitas ligações antes de chamar a atenção da Microsoft. O serviço foi lançado na Estônia por cinco europeus. Entre eles, o dinamarquês Janus Friis e o sueco Niklas Zennström, que já haviam criado o Kazaa, programa gratuito de compartilhamento de arquivos que ganhou fama nos anos 2000 e provocou abalos sísmicos na indústria fonográfica.

Essa era também a tese inicial do Skype. A plataforma surgiu como uma ferramenta para as pessoas fazerem ligações online gratuitamente - dessa vez, os calafrios vieram das empresas de telefonia. O nome de batismo, inclusive, significava “sky peer to peer”, em uma referência a esse modelo.

O formato ganhou escala rapidamente. E, com a popularidade entre os usuários, veio o interesse de outros gigantes de tecnologia. Em 2005, o eBay arrematou o Skype em um lance de US$ 2,6 bilhões, quando o serviço já contabilizava 54 milhões de usuários.

CEO do eBay na época, Meg Whitman entendia que, ao conectar vendedores e compradores, o Skype poderia agilizar as transações na plataforma. Entretanto, quando a executiva deixou a companhia, em 2008, o serviço, que chegou a ter planos anunciados para um IPO, foi perdendo espaço.

Com o eBay em crise, a decisão foi pela venda do Skype para um grupo de investidores liderado pela gestora americana de private equity Silver Lake, em um negócio de US$ 2,75 bilhões, firmado no fim de 2009.

Os novos sócios chegaram a protocolar um plano de abertura de abertura de capital do Skype, que, novamente, não se concretizou. E, dois anos depois, o serviço mudou novamente de mãos ao ser adquirido pela Microsoft.

Na época, o Skype tinha mais de 170 milhões de usuários e havia registrado 207 bilhões de minutos de conversas de vídeo e de voz em 2010. A Microsoft ressaltou que os planos passavam pela integração da oferta a diversos produtos e serviços do seu portfólio. Entre eles, o Messenger e o Outlook.

“O Skype é um produto e uma marca fenomenal, adorado por centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo”, afirmou Steve Ballmer, CEO da Microsoft na época, em um comunicado divulgado naquela oportunidade.

Nos anos seguintes, porém, o Skype passou a enfrentar a ascensão de outros serviços, que apostavam nas mesmas premissas, mas já centradas em dispositivos móveis. Entre eles, o WhatsApp, comprado pelo Facebook, em 2014, e, na Ásia, o WeChat, da não menos gigante Tencent.

O Skype, por sua vez, enfrentou críticas e teve dificuldades de fazer a transição dos PCs e encontrar seu espaço nos smartphones, em linha com o próprio desafio da Microsoft de reduzir a dependência do seu carro-chefe, o sistema operacional Windows, e se estabelecer no mundo da mobilidade.

Já em 2016, o Skype ganhou um “concorrente” interno, quando a Microsoft promoveu o lançamento do Teams. E, um ano depois, recebeu sua última menção do CEO Satya Nadella em uma teleconferência de resultados trimestrais com analistas.

Essa competição se tornou ainda mais acirrada na pandemia, a partir de 2020, quando o Teams ganhou de vez o status de prioridade dentro da Microsoft. Ao mesmo tempo, outros serviços, como Zoom e Slack, tornaram-se populares entre as empresas, que eram uma base importante do Skype.

No saldo dessa equação, em 2023, quando a pandemia já havia sido controlada, o número de usuários do Skype havia caído para 36 milhões de usuários ativos. No mesmo ano, o Teams chegou a 320 milhões de usuários.

O fato é que, mesmo após essa trajetória acidentada sob o guarda-chuva da Microsoft, o Skype ainda ocupa uma posição relevante no que diz respeito ao histórico de aquisições da companhia. O acordo fica atrás apenas das compras da Activision Blizzard, do LinkedIn e da Nuance.

Agora, em sua última chamada, a gigante de Redmond informou que vai concentrar seus esforços na Teams. E que os usuários do Skype poderão fazer um login nessa plataforma gratuitamente, utilizando seus dados cadastrados no antigo serviço. Todas as suas conversas e contatos migrarão automaticamente para a nova plataforma.