A L Brands está em busca de um comprador para a Victoria´s Secret. Não é a primeira vez que o controlador da marca americana, que ficou mundialmente conhecida pelas modelos em lingeries com asas, chamadas de angels, busca um sócio.

Há pouco mais de um ano, a empresa quase concretizou a negociação com o fundo de private equity Sycamore Partners, que concordou em comprar uma fatia de 55% da empresa por US$ 525 milhões, que avaliava a Victoria´s Secret em US$ 1,1 bilhão. Mas a transação naufragou em meio a uma série de acusações de ambas as partes.

Dessa vez, no entanto, a empresa está pedindo ainda mais dinheiro. A companhia busca uma avaliação entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões. O CFO da companhia, Stuart Burgdoerfer, afirmou ainda que a L Brands avalia separar a operação da Victoria's Secret. "O conselho está comprometido em encontrar a opção que trará o maior valor para os acionistas", disse Burgdoerfer à Bloomberg.

A busca por uma avaliação maior pela marca vem na esteira de mudanças feitas pela companhia para tentar reverter uma série de problemas que enfrentava, incluindo escândalos sexuais, misoginia e queda nas vendas.

Os tropeços começaram em 2018, quando o então CMO da L Brands, Ed Razek, disse à revista Vogue que a marca não devia lançar modelos trans ou plus size. Por conta da pressão que sofreu, o executivo pediu demissão no ano seguinte, mas o impacto na imagem da companhia foi duradouro.

Antes disso, no entanto, a marca já enfrentava problemas, pois não soube rever a sua régua para definir o que é uma mulher bonita e sensual. Suas modelos, que se transformaram em sex symbols, reinaram durante décadas como padrões de beleza. Mas, agora, o novo padrão envolve os mais variados tipos estéticos e formatos de corpos .

Por conta disso, as vendas caíram e a empresa precisou fechar lojas e reduzir o quadro de funcionários. Em 2019, a Victoria´s Secret contava com 1.091 lojas nos Estados Unidos. Agora, são 933.

Ao mesmo tempo, o bilionário Les Wexner, de 83 anos, que durante cinco décadas comandou a L Brands, renunciou ao cargo de CEO e chairman no começo de 2020.

A sua renúncia aconteceu na esteira de escândalo envolvendo sua relação pessoal e profissional com o investidor Jeffrey Epstein, preso em julho de 2019 sob acusações de estupro, agressão e tráfico sexual e que se suicidou na prisão meses depois.

Por fim, o grupo Model Alliance, uma organização sem fins lucrativos que advoga por modelos, divulgou uma carta com mais de 100 assinaturas exigindo que a Victoria’s Secret colocasse um ponto final em sua cultura de abuso e assédio.

Para tentar mudar essa imagem, a companhia  contratou modelos trans e plus size. Em meio à pandemia, fortaleceu seu e-commerce. E os resultados positivos vieram.

Em 2020, o faturamento da L Brands atingiu US$ 11,8 bilhões, alta de 21%. O lucro de US$ 844,5 milhões representou um avanço de 130%.

Na Bolsa de Nova York, as ações da L Brands, que é dona também das marcas PINK e Bath & Body Works, se valorizam 77,7% em 2021. Hoje, a empresa é avaliada em US$ 18 bilhões. Em 2015, quando as ações atingiram seu patamar máximo, a companhia chegou a valer quase US$ 30 bilhões.

No fim de março deste ano, a L Brands divulgou uma nota em que diz esperar lucro de 85 centavos a US$ 1 por ação no período até abril, número bastante acima dos 52 centavos que analistas estimavam apenas semanas antes.

Esse desempenho tem feito com que bancos, como o Wells Fargo e o Credit Suisse, apostem também na recuperação da Victoria's Secret. Relatórios feitos por analistas das duas instituições apontam que a marca de lingerie poderia valer US$ 4 bilhões dos atuais US$ 18 bilhões do grupo.

Em fevereiro deste ano, outro relatório do Citigroup foi ainda mais longe e afirmou que é possível que a avaliação supere US$ 5 bilhões.