Muito além dos dois assentos no board do Carrefour Brasil e das duas cadeiras no conselho de administração global do grupo francês, Abilio Diniz e a Península Participações têm, cada vez mais, voz ativa na definição dos rumos da rede de varejo alimentar.

Em mais uma prova dessa relevância, o empresário foi o escolhido para a abertura do Investor Morning, evento que está sendo realizado pelo Carrefour Brasil na terça-feira, 28 de novembro. E destacou o fato de que, somando Brasil e França, a gestora é hoje a principal acionista global da companhia.

Com fatias de 7,3% no Carrefour Brasil e de 8,43% na operação global (o maior acionista na França é a Galfa, veículo ligado à família Moulin,  com  13,73%), Abilio ressaltou, no entanto, que foi preciso trilhar um bom caminho e vencer alguns obstáculos para que ele e a Península ocupassem esse espaço.

“O lado ruim é que nós, da Península, levamos pouco mais de cinco anos para realmente conquistar a confiança do novo management da França”, afirmou o empresário, no início da sua participação. “O lado bom é que nós acreditamos que, agora, nós conseguimos.”

O período em questão teve como marco inicial a nomeação de Alexandre Bompard como CEO global do grupo, em julho de 2017. Na época, Abilio foi um dos principais defensores da substituição de Georges Plassat, cuja gestão vinha sendo marcada por resultados que minaram a confiança dos investidores.

Agora, em um novo estágio dessa relação, Diniz fez questão de ressaltar que tanto a gestão global como as lideranças na operação brasileira têm “total confiança” e apoio da Península. E que a gestora, por sua vez, está “absolutamente alinhada e comprometida” com a matriz.

“Hoje, eles pedem que a gente ajude o management no Brasil”, observou. “Mas não temos intenção nem braço para atuar aqui dentro. Somos poucos, mas somos bons. Acreditamos que com a interação que temos com a gestão aqui conseguiremos ajudar a colocar o Carrefour Brasil no lugar correto.”

Apesar de minimizar o papel da Península no dia a dia da operação, Abilio disse que conversa com Stéphane Maquaire, CEO do Carrefour Brasil, “de manhã, de tarde e de noite”. E ressaltou que a empresa tem outras três pessoas dedicadas a essa interação, “sem atrapalhar ninguém”, com a rede varejista.

“Estamos conseguindo diminuir pouco a pouco a burocracia da França em outros países”, afirmou ele. “Temos colocado isso lá no conselho. Vejam como as multinacionais fazem o seu controle no Brasil. Não é qualquer coisa que tem que ser decidida pela matriz.”

Sob esses termos, Abilio também deixou claro quais são as prioridades no horizonte estratégico da operação brasileira, ao eleger o retorno aos acionistas como um dos focos e destacar os formatos que receberão mais atenção do grupo no País, além da análise, loja por loja, do retorno de cada unidade.

“Nossa concentração vai ser fundamentalmente no Atacadão, no Sam’s Club e no formato Express, além de tirar proveito do nosso negócio imobiliário”, observou. “E temos que estar mais perto do mercado. Dar um pouco mais de guidance e uma ideia do que vai acontecer. Eu sempre fui favorável a isso.”

Nessa direção, o Carrefour Brasil divulgou um fato relevante na manhã de terça, 28, com uma série de projeções para o período de 2024 a 2026. Para o ano que vem, por exemplo, o grupo projeta um capex entre R$ 2,3 bilhões e R$ 2,6 bilhões.

Já nos próximos dois anos, o plano é converter cerca de 40 hipermercados em lojas do Atacadão e do Sam’s Club, com aproximadamente 20% dessas migrações acontecendo em 2024. No próximo ano, a empresa prevê abrir entre 10 e 12 lojas do Atacadão e entre 7 e 9 lojas do Sam’s Club.

Em contrapartida, o Carrefour citou as mudanças no ambiente macro para retirar o guidance divulgado há dois anos, onde projetava alcançar R$ 100 bilhões em vendas brutas no Atacadão em 2024. Ao mesmo tempo, a companhia prevê o avanço dessa unidade e do Sam’s Club em sua receita total.

“Nos próximos três anos, a ideia é que o Atacadão passe de 65% para 70% das vendas totais do grupo, e que o Sam’s Club saia de 8% para 12%”, afirmou Pablo Lorenzo, COO do Carrefour Brasil. “E que os hipermercados reduzam de 26% para 18% das vendas.”

As ações do Carrefour Brasil estavam sendo negociadas com alta de 1,32% por volta das 10h40 na B3, cotadas a R$ 11,55. Em 2023, os papéis do grupo, avaliado em R$ 24,3 bilhões, registram uma desvalorização de 21,8%.