A Mahle Metal Leve está parcialmente contornando o mau gosto inicial deixado na boca dos investidores com o anúncio feito, no começo do mês, de que realizaria um follow on. Para fazer os investidores “engrenar” na proposta, ela está recorrendo ao pagamento de dividendos.
Em fato relevante divulgado nesta terça-feira, dia 24 de outubro, a fabricante de peças automotivas anunciou uma oferta subsequente de ações primária e secundária que pode chegar a R$ 950 milhões, com os recursos da tranche primária sendo utilizados para pagar proventos aos acionistas de R$ 710,8 milhões.
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A decisão faz com que as ações da Mahle Metal Leve registrem forte alta no pregão. Por volta das 12h10, os papéis subiam 7,95%, a R$ 41,02. No ano, eles registram alta acumulada de 23,5% no ano, levando o valor de mercado a R$ 4,8 bilhões.
A tranche primária consiste, inicialmente, na distribuição inicial de 7.230.500 ações ordinárias, a serem emitidas pela companhia. Na secundária, 12.830.850 papéis serão colocados pelo controlador da companhia, o conglomerado alemão Mahle. A quantidade de ações poderá ser acrescida em até, aproximadamente, 45,87% do total inicialmente ofertado, ou seja, em até 9.202.079 ações ordinárias, dependendo da demanda.
Para emplacar a operação, depois da reação negativa inicial, a Mahle propôs o pagamento de R$ 710,8 milhões em dividendos, correspondentes a R$ 5,54 por ação, com parte sendo pago com os recursos da operação e o restante via o caixa da empresa. O pagamento está condicionado à aprovação do preço por ação da oferta pelo conselho de administração.
Esse ponto terá efeito sobre o preço por ação, uma vez que os R$ 5,54 serão deduzidos do valor final. Considerando a cotação em que as ações da Mahle Metal Leve fecharam o pregão de segunda-feira, 23 de outubro, de R$ 38, o preço por ação seria de R$ 32,46, resultando nos R$ 950 milhões, considerando a venda de todos os papéis.
“O mercado gostou dos dividendos, é um volume bem grande”, diz Mateus Haag, analista da Guide Investimentos. “Pelo visto quiseram fazer um anúncio forte, porque a oferta não foi bem recebida e poderia fazer com que o controlador vendesse as ações a um preço baixo.”
Quando a intenção de realizar uma operação foi anunciada, em 9 de outubro, as ações da Mahle caíram mais de 15%. A reação ocorreu a partir das poucas informações que se tinha a respeito da operação. “Não havia nenhum tipo de esclarecimento se era primária e secundária e seu motivo”, afirma Flavio Conde, analista da Levante Investimentos.
A avaliação era de que a companhia não tem necessidade de levantar recursos porque não tem planos para novos investimentos. Conde destaca que o endividamento de R$ 155,2 milhões apurado no primeiro semestre é baixo, considerando o Ebitda de R$ 514,3 milhões registrado nos primeiros seis meses do ano.
A Mahle fechou o segundo trimestre com lucro líquido de R$ 193,1 milhões, alta de 68,1% em relação ao mesmo período de 2022. A receita cresceu 10%, para R$ 1,1 bilhão, enquanto o Ebitda avançou 40,1%, para R$ 254,2 milhões. “A empresa tem divulgado números muito bons, com crescimento na maioria dos mercados”, diz Conde.
O receio era de que a proposta aumentasse muito o volume de ações no mercado. As informações que circulavam pelo mercado davam conta de uma oferta que poderia chegar a R$ 1,1 bilhão, segundo Haag. Com o fato relevante de hoje, esse temor reduziu.
As notícias sobre venda de participação pelo controlador também vieram num momento em que os papéis acumulavam forte alta. Antes do anúncio do follow on, os papéis somavam valorização de 52,1%, e a impressão deixada é que os donos da companhia consideravam os papéis muito caros, gerando mais um fator negativo.
Mas os dividendos ajudam a aplacar todos esses sentimentos. “Os dividendos vêm para os acionistas pararem de venderem ações”, afirma Conde.
O processo de bookbuilding está previsto para ser concluído em 31 de outubro. A oferta está sendo coordenada pelo Itaú BBA e pelo Citi.