A disputa por espaço na composição acionária da Zamp segue quente antes da assembleia que decidirá sobre a adoção do mecanismo de poison pill. Três dias depois de o mercado ficar sabendo que o Mubadala Capital alcançou uma participação equivalente a 17,4% do capital social da companhia, surge a notícia de que um investidor relevante decidiu elevar sua fatia na controladora das redes de restaurantes Burger King e Popeye’s no País.

Na sexta-feira, 25 de agosto, a Zamp informou que o FitPart, family office de ex-sócios do Banco Garantia, aumentou sua participação de 11,97% para 15,29%, tornando-se o segundo maior acionista da empresa. O NeoFeed não conseguiu entrar em contato com o FitPart para comentar o assunto.

Os recentes posicionamentos de FitPart e Mubadala ocorrem pouco antes de uma assembleia marcada para 31 de agosto. O encontro foi requerido pela gestora Mar Asset, que detém 5,73% do capital social da Zamp, para estabelecer que o mecanismo de poison pill seja disparado quando um acionista ultrapassar 25% de participação.

Na carta em que pediu a convocação da assembleia, a Mar Asset afirmou que o objetivo é “preservar a atual estrutura acionária da companhia contra novas tentativas hostis e proteger a atual governança corporativa e o valor criado para os seus acionistas”.

Ela também propõe que nenhum acionista ou grupo de acionistas poderá exercer votos em número superior a 15% do total de ações em que se dividir o capital social da empresa, que atualmente é uma corporation.

As “tentativas hostis” se referem ao movimento feito pelo Mubadala no ano passado de assumir o controle da Zamp. Com US$ 276 bilhões sob gestão, o fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos pretendia realizar uma oferta pública de aquisição de ações (OPA) para comprar 45,1% das ações da operadora de restaurantes, por R$ 8,31, segundo a última proposta apresentada, em setembro.

A intenção do Mubadala não foi bem recebida tanto pelos grandes acionistas da Zamp, incluindo FitPart e Mar Asset, como também pelo conselho de administração. Eles avaliaram que as propostas do fundo soberano eram baixas. Um laudo produzido pelo BTG Pactual, a pedido do conselho de administração, apontou que o valor de uma proposta deveria estar entre R$ 9,96 e R$ 13,47, com ponto médio de R$ 11,72, naquele momento.

Mas o motivo principal para a desistência naquele momento foi o fato de a Restaurant Brands (RBI), franqueadora dos restaurantes operados pela Zamp no Brasil, não oferecer garantias de que a troca de controle não implicaria na revogação ou alteração dos termos dos contratos de franquia e licenciamento de marcas.

O Mubadala chegou a comparar o poder da RBI a uma “verdadeira poison pill”. Essa questão também foi levantada pela Mar Asset em seu pedido de convocação de uma assembleia, dizendo que a aquisição de controle da Zamp “estaria sujeita à prévia aprovação da master franqueadora [RBI], sob pena de um impacto adverso relevante para a companhia”.

Quase um ano após jogar a toalha, o Mubadala voltou à carga e montou uma posição significativa no capital social da Zamp nesta semana, num indício de que o fundo soberano quer ter uma palavra sobre a questão do poison pill, segundo análise do Bradesco BBI, ainda que não esteja claro se apresentará uma nova oferta pela Zamp. O banco possui recomendação neutra para as ações, com preço-alvo de R$ 7,00.

A proposta da poison pill vem num momento em que as ações da Zamp são negociadas abaixo do valor proposto pelo Mubadala e em meio à implementação de medidas de ganhos de eficiência operacional e na estratégia operacional para retomar os resultados, depois do forte baque sofrido durante a pandemia.

A companhia fechou o segundo trimestre com um prejuízo de R$ 63,5 milhões, o dobro do registrado no mesmo período de 2022. A receita líquida subiu 6%, a R$ 934,7 milhões, e o Ebitda ajustado caiu 8,2%, para R$ 63,4 milhões.

Por volta das 12h24, as ações da Zamp caíam 4,33%, a R$ 5,74. No ano, elas acumulam alta de 5,3%, levando o valor de mercado a R$ 1,5 bilhão.