A combinação da ofensiva do governo chinês contra as empresas de tecnologia locais e da política de Covid zero no país impôs sérios danos ao Alibaba, que acusou o golpe. A empresa perdeu quase US$ 587 bilhões em valor de mercado desde a sua máxima histórica, no fim de outubro de 2020.

Passado pouco mais de dois anos do início dessa queda livre, o contexto é outro. Ao mesmo tempo em que pôs fim as restrições ligadas à Covid, em dezembro de 2022, o governo chinês dá sinais de arrefecimento em sua cruzada contra as big techs do país.

Diante desse novo quadro, o Alibaba projeta, enfim, um horizonte mais positivo com a expectativa da retomada da economia chinesa. E a julgar por alguns dos números recentes da operação, não está partindo do zero nesse recomeço.

Ao divulgar o balanço referente ao seu terceiro trimestre fiscal, encerrado em 31 de dezembro, a empresa reportou um lucro líquido de 46,82 bilhões de yuans (US$ 6,7 bilhões), o que representou uma alta de 69% sobre igual período, um ano antes.

O montante registrado na última linha do balanço superou as estimativas de analistas, que apontava para a faixa de 35 bilhões de yuans, e ajudou a minimizar o impacto do crescimento ainda modesto em outro indicador. Entre outubro e dezembro, a receita do Alibaba avançou 2%, para 247,7 bilhões de yuans (US$ 35,9 bilhões).

A princípio, o saldo dessa equação se mostrou positivo. Nas negociações do pré-market de quinta-feira, 23 de fevereiro, na Bolsa de Nova York, as ações da companhia chegaram a subir 6%. Com o mercado aberto, por volta das 9h44 (horário local), os papéis estavam sendo negociados com alta de 3,22%. A empresa está avaliada em US$ 256,5 bilhões.

“Entregamos um trimestre sólido, apesar da demanda mais fraca e das interrupções na cadeia de suprimentos e na logística, devido ao impacto das mudanças nas medidas da Covid-19”, afirmou, no balanço, Daniel Zhang, chairman e CEO do Alibaba.

O executivo aproveitou a oportunidade para realçar as perspectivas mais favoráveis à frente. “Olhando para o futuro, esperamos uma recuperação contínua na confiança do consumidor e na atividade econômica”, observou.

Outros dados do trimestre fiscal mostram, porém, que ainda há um bom caminho para essa recuperação. Na divisão de comércio da China, o carro-chefe da operação, o Alibaba apurou uma receita de 169,9 bilhões de yuans (US$ 24,6 bilhões), um recuo anual de 1%.

A empresa atribuiu a queda a fatores como a demanda mais fraca dos consumidores, a concorrência mais acirrada – na figura de rivais como a JD.com e a PDD Holdings - e aos impactos da Covid-19. Por sua vez, fora da “Grande Muralha”, a receita da divisão de comércio internacional cresceu 18%, para 19,4 bilhões de yuans (US$ 2,8 bilhões).

Em contrapartida, o balanço trouxe outros pontos de atenção. Responsável por uma parcela ainda pequena do resultado, mas considerado um dos negócios de maior potencial no crescimento futuro da companhia, a divisão de serviços de computação em nuvem seguiu registrando um crescimento lento, de 3%, distante das taxas de mais de 30% apuradas antes da pandemia.

Ao mesmo tempo, as unidades de mídia digital e entretenimento, e de inovação, registraram quedas de receita da ordem de 6% e 20%, respectivamente.

Enquanto tenta reconquistar a confiança dos investidores e lida com esses altos e baixos em seu balanço, o Alibaba segue firme com sua política de recompra de ações. Em novembro, o board da empresa aprovou US$ 15 bilhões adicionais em seu programa de recompra de ações que, agora, totaliza US$ 25 bilhões e será estendido até o final do ano fiscal de 2025.

No último trimestre fiscal, como parte dessa iniciativa, o Alibaba informou que recomprou 45,4 milhões de American Depositary Receipts (ADRs), por cerca de US$ 3,3 bilhões. Em paralelo, a companhia está dando sequência ao plano de migrar sua listagem primária para a Bolsa de Hong Kong.