Realizado tradicionalmente no início de maio, o encontro anual da Berkshire Hathaway é um dos pontos altos no calendário do mercado financeiro. Entre outras razões, o evento atrai todos os holofotes por ser a principal chance de ouvir as reflexões de seu fundador e CEO, o bilionário Warren Buffett.
Neste ano, além das palavras do “Oráculo de Omaha”, o encontro, realizado no último sábado, 1º de maio e acompanhado por milhões de pessoas, trouxe um atrativo adicional: a sinalização de quem será o provável substituto do megainvestidor, hoje com 90 anos, no comando da gestora americana.
“Greg manterá a cultura”, disse Charlie Munger, sócio e vice-presidente da Berkshire Hathaway, em uma referência a Greg Abel, vice-presidente que lidera todas as operações não relacionadas à área de seguros na companhia.
A alusão de Munger, 97 anos, ao provável sucessor de Buffet veio na resposta a uma pergunta sobre os desafios de manter a cultura da empresa sob um modelo de gestão descentralizado, daqui alguns anos. E foi confirmada, na sequência, pelo próprio Buffett, como revelou a rede americana CNBC.
“Os diretores concordam que, se algo acontecesse comigo esta noite, seria Greg quem assumiria amanhã de manhã”, observou o megainvestidor. Ele emendou a afirmação com elogios a Greg e também ao vice-presidente Ajit Jain, responsável pelas operações de seguros da Berkshire. “Se, Deus me livre, algo acontecesse a Greg esta noite, então seria Ajit.”
No campo das especulações, Abel e Jain já vinham sendo apontados como os principais nomes no páreo desde 2018, quando foram promovidos a vice-presidentes. Durante o evento, Buffett frisou um ponto determinante para a escolha: a idade. Abel tem 59 anos e Jain, 69. “São duas pessoas maravilhosas. E a probabilidade de alguém ter uma pista de 20 anos faz uma grande diferença”, disse Buffett.
Antes da dupla, o favorito ao cargo era David Sokol, que liderava a divisão de energia da Berkshire Hathaway. Entretanto, o executivo deixou a empresa em 2011, quando foi divulgado que ele havia comprado uma fatia de US$ 10 milhões na Lubrizol, pouco antes de recomendar o investimento da gestora na empresa do setor químico.
Além da sinalização, Buffet teceu comentários sobre diversos temas. O aumento dos impostos para empresas proposto pelo presidente americano Joe Biden foi um dos assuntos em pauta. O bilionário, que é democrata e afirmou ter votado em Biden, disse não estar particularmente preocupado com a medida e afirmou que a empresa se adaptará.
Em outro ponto, ele admitiu que vender algumas ações da Apple em 2020 foi “provavelmente um erro”. Entre outubro e dezembro de 2020, a gestora reduziu sua participação na empresa da maçã a uma fatia de 3,7%.
O mesmo arrependimento, no entanto, não foi estendido às companhias aéreas. Em 2020, nos primeiros meses da crise, a Berkshire vendeu todas as suas participações nas empresas do setor, algo que despertou críticas de parte do mercado. “Eu desejo-lhes boa sorte, mas, mesmo assim, não gostaria de comprar negócios de aviação novamente”, afirmou.
Sobrou espaço ainda para a onda das Special Purpose Acquisition Companies (SPACs), as chamadas empresas de cheque em branco, que movimentaram boa parte dos IPOs desde o segundo semestre nos Estados Unidos.
″Se você colocar uma arma na minha cabeça para comprar um negócio em dois anos, eu compraria um”, brincou Buffett. E emendou. “Isso não durará para sempre, mas é onde está o dinheiro agora e Wall Street vai para onde está o dinheiro.”
Antes da conferência, a Berkshire Hathaway também anunciou seu resultado referente ao primeiro trimestre de 2021. No intervalo, a gestora reportou um lucro líquido atribuído de US$ 11,8 bilhões, revertendo o prejuízo líquido de US$ 49,7 bilhões de igual período, um ano antes. Já a receita da companhia ficou em US$ 64,6 bilhões, contra US$ 61,2 bilhões, há um ano.