Depois de apresentar um desempenho abaixo do esperado pelos analistas, frustrando a média das projeções do mercado, o Santander Brasil sinalizou que deve começar a afrouxar a postura conservadora que adotou no final de 2021, especialmente na concessão de empréstimos.

Segundo Mário Leão, CEO do banco, com as novas safras de crédito apresentando melhora em termos de qualidade, a provisão para devedores duvidosos (PDD) caindo na comparação trimestral e o custo de crédito evoluindo, a instituição se mostra segura para começar a acelerar algumas linhas de negócios.

“Vamos escolher alguns negócios que não aceleramos tanto para voltar a crescer com um pouco mais de ênfase”, disse o CEO do banco, Mário Leão, na quinta-feira, 26 de julho, em entrevista coletiva sobre os resultados do segundo trimestre.

Uma das áreas que o Santander pretende pisar no acelerador é na parte de cartão de crédito. No entanto, a ideia não é ir a “mar aberto” em busca de novos clientes. “O que a gente vai fazer a partir de agora é ir nos públicos que queremos, de forma seletiva, para voltar a crescer de uma forma um pouco mais enfática”, disse Leão.

Outro foco de crescimento do Santander é no financiamento de veículos, assim como em consórcio e consignado, diante da melhora das condições financeiras do País.

O afrouxamento do conservadorismo vem a partir de uma visão de que, em termos de PDD, o pior ficou para trás. As despesas somaram R$ 5,98 bilhões no segundo trimestre, queda de 11,6% em relação ao primeiro trimestre, mas aumento de 4,1% ante o segundo trimestre do ano passado.

“A gente está confortável em dizer que o pico da geração da inadimplência já passou”, disse Leão. “Estamos surfando meses e trimestres em que a geração de inadimplência é menor do que os trimestre e meses passados.”

Embora comece a dar ênfase para algumas linhas, o foco do banco continua sendo rentabilizar e vincular a base de clientes ao banco. Neste sentido, o ritmo de concessão de crédito não será aquele visto em 2021, quando o Santander e outras instituições aceleraram a oferta de empréstimos, resultando em forte aumento da inadimplência.

A grande dúvida é se essas medidas ajudarão a melhorar os resultados financeiros do Santander daqui para frente. O BTG Pactual destacou que os resultados vieram 10% abaixo do esperado pelo mercado.

“Embora estamos vendo agora uma melhora em seu portfólio [de crédito], a maior seletividade, em direção a clientes ‘com melhor grau’ e baixo risco de empréstimos impactou significativamente a margem líquida de juros”, diz trecho do relatório assinado pelos analistas Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura.

Para eles, a recuperação ainda deve ser lenta, considerando o elevado de nível de empréstimos renegociados e a baixa taxa de cobertura acima de 90 dias – um indicador da qualidade da carteira de crédito –, que caiu para 214%, dos 244% do primeiro trimestre, tornam a recuperação mais lenta.

O Santander registrou no segundo trimestre um lucro líquido recorrente de R$ 2,3 bilhões, uma queda de 45% em relação ao mesmo período de 2022 e um crescimento de 8% ante os primeiros três meses do ano.

O retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) foi de 11,2%, alta de 0,7 ponto percentual em base trimestral, mas queda de 9,9 pontos percentuais na comparação anual. A margem financeira bruta subiu 3,3% em relação ao primeiro trimestre e 6,3% em relação ao segundo trimestre de 2022.

Por volta das 15h, as units do Santander caíam 0,16%, a R$ 29,40. No ano, elas acumulam alta de 4,71%, levando o valor de mercado a R$ 219,3 bilhões.