Altamente endividada e com operações em baixa, a varejista francesa Casino vem buscando recursos de todos os cantos e lados para conseguir ter algum fôlego financeiro e sobreviver.
Um dos mais recentes movimentos ocorreu no Brasil. Em março, o Casino levantou R$ 4 bilhões no follow on de sua subsidiária no mundo do atacarejo Assaí, medida que resultou na redução de sua participação na companhia de 30% para 11,7%.
Outro movimento está prestes a começar nesta semana, com o Casino dando partida a uma série de negociações com seus credores, que incluem grandes bancos franceses e hedge funds internacionais, para dar uma solução ao futuro da empresa e aos € 6,4 bilhões de endividamento. As informações são do jornal Financial Times, citando pessoas familiarizadas com o movimento.
A companhia vai se engajar voluntariamente com os credores dentro do processo chamado de procedure de conciliation, cujas conversas serão supervisionadas por um oficial apontado pela Justiça. A medida, prevista na lei francesa, é um passo preliminar para uma eventual reestruturação da dívida.
As negociações ocorrem num momento em que o Casino vem atraindo a atenção de uma série de investidores e bilionários, que demonstram interesse no sexto maior varejista de alimentos da França, onde emprega cerca de 53 mil pessoas, e um dos principais acionistas do Grupo Pão de Açúcar (GPA).
Em abril, o bilionário tcheco Daniel Křetínský, segundo maior acionista do Casino, propôs injetar € 1,1 bilhão no Casino, medida que faria com que o fundador da empresa, Jean-Charles Naouri, deixasse de controlar a empresa. A proposta conta com a simpatia do investidor Marc Ladreit de Lacharrière, que é o terceiro maior acionista da companhia çpor meio do grupo Fimalac.
A inesperada oferta de Křetínský parecia que iria descarrilar um plano anunciado em março de combinar as operações do Casino com a Teract, uma rede varejista de alimentos rival, mas menor. Mas a urgência em definir o futuro da empresa está fazendo com que os dois lados conversem, com ambos fazendo parte do processo de conciliação a respeito da dívida, de acordo com as fontes ouvidas pelo FT.
Ainda que o esforço de Naouri sempre tenha sido de preservar o controle do Casino, as fontes afirmam que existe uma boa possibilidade de ele fracassar.
“Todo mundo está conversando entre si, todos se conhecem”, disse uma fonte ouvida pelo FT. “Ele [Naouri] está sendo obrigado a fechar um acordo em que perderá o controle. No ano passado, ele não achava que teria, mas a empresa deteriorou desde então.”
O Casino fechou 2022 com um prejuízo líquido de € 316 milhões, uma redução de 40,9% frente à perda de € 534 milhões apurada em 2021, mas o prejuízo antes da incidência de tributos passou de € 283 milhões para € 334 milhões.
No começo do mês, a agência de classificação de riscos S&P rebaixou o rating do Casino para “CCC-”, de “CCC+”, indo mais um degrau abaixo no grupo de notas de grau especulativo, citando os riscos de um calote nos próximos seis meses caso não seja feito nada ou o cenário reverta significativamente em favor do Casino.