A BHP chamou a atenção do mercado ao fazer uma oferta de cerca de £ 31 bilhões (cerca de US$ 39 bilhões) para comprar a rival Anglo American, em um acordo que, na esteira dos valores envolvidos, carrega o potencial de redesenhar o mercado global de mineração.

O “lance” bilionário foi divulgado oficialmente na noite de quinta-feira, 24 de abril. E, passadas poucas horas do anúncio, já há quem tenha mostrado seu total descontamento com a possibilidade de a transação ser concretizada.

Em entrevista ao Financial Times, Gwede Mantashe, ministro dos recursos minerais da África do Sul, deixou clara a sua oposição ao acordo, ao levantar alguns questionamentos sobre a combinação das duas operações.

Na conversa com o jornal britânico, Mantashe ressaltou que não era favorável à transação em função da experiência anterior da África do Sul com a BHP, que, em suas palavras, “não foi positiva”. Ele destacou, porém, que não estava expressando uma posição oficial do governo sul-africano.

Os laços da BHP com o país têm origem em 2001, quando o grupo se fundiu com a mineradora local Billiton, criando, na época, um dos maiores grupos do setor. Gestora estatal, a Public Investment Corporation (PIC) é a maior acionista da operação.

Um aliado próximo de Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, o ministro afirmou que a transação em questão, que originou a formação da BHP Billiton, “nunca fez muito pela África do Sul” e impulsionou a saída de capital do país.

“O que vimos é que eles se desfizeram do carvão e depois criaram uma pequena empresa, chamada South 32, que agora é marginal”, observou Mantashe. A PIC, por sua vez, se negou a comentar o valor da oferta.

“O setor de mineração continua a ser uma parte crítica da economia sul-africana, impactando uma ampla variedade de partes interessadas, portanto, novas oportunidades que possam surgir precisam de ter em conta estes fatores e a sustentabilidade a longo prazo”, escreveu a gestora.

Mantashe não foi o único a se manifestar contrário ao acordo. Ainda na quinta-feira, os principais acionistas da Anglo American também teceram críticas à proposta feita pela BHP, ao observarem que a oferta subvaloriza “substancialmente” a companhia.

Nick Stansbury, head de soluções climáticas da Legal & General Investment Management, uma das grandes acionistas da companhia, disse que a BHP fez uma abordagem “altamente oportunista”, aproveitando-se da avaliação “deprimida” da Anglo American, resultando em uma oferta pouco atraente para os investidores de longo prazo.

Esse coro dos descontentes foi reforçado por mais um investidor de peso da Anglo American, cujo nome não foi revelado. Ele disse que a empresa precisa pressionar por um preço mais elevado ou buscar outra opção que poderia envolver a venda de ativos e a combinação com pares do mesmo porte no setor.

Um outro grande investidor da Anglo, cujo nome também não foi revelado, afirmou que o preço da oferta estava muito distante e acrescentou: “Se eu fosse acionista da BHP e ainda fosse capaz de dar uma cambalhota, daria duas se conseguisse por esse preço.”

Piruetas à parte, as ações da Anglo American registravam alta de 13,92% na Bolsa de Londres por volta das 15h15 (horário local). No ano, os papéis acumulam uma valorização de 27,5%, dando à empresa um valor de mercado de £ 33,5 bilhões.

Já as ações da BHP estavam sendo negociadas com queda de 2,24%, com a companhia avaliada em £ 117,6 bilhões. Em 2024, os papéis registram um recuo de 14%.