A Amazon continua reavaliando a sua estratégia de mercados físicos. Seu plano continua focado em cortar custos (que já inclui uma pausa de 18 meses na abertura de novas unidades). E, agora, a varejista quer “tirar da prateleira” uma de suas principais inovações e um diferencial frente à concorrência: a tecnologia Just Walk Out.

Tony Hogget, vice-presidente sênior do setor de lojas físicas da Amazon, disse em entrevista ao The Information que a companhia pretende voltar a abrir unidades da Amazon Fresh nos Estados Unidos neste ano, mas sem a tecnologia proprietária das empresa.

O Just Walk Out permite que os consumidores façam compras diretamente sem precisar passar no caixa. Câmeras e sensores instalados nas lojas identificam os itens que estão sendo escolhidos e a cobrança é feita diretamente na conta da Amazon do usuário assim que ele deixa a loja.

Em vez disso, as lojas terão dash carts, ou seja, o sistema utilizado por redes de supermercados em que o próprio consumidor escaneia o código de barras do produto que escolheu e depois realiza o pagamento. O método de pagamento será instalado nas novas lojas e na maioria das unidades já em funcionamento.

Atualmente, 47 das 64 lojas nos Estados Unidos e no Reino Unido operam com o sistema Just Walk Out. Isso significa que grande parte dessas lojas vai abandonar a tecnologia que diferenciou as lojas da Amazon de outros mercados. Hogget não informou quantas lojas serão abertas ou quantas serão reformadas.

Fique Por Dentro

Recurso Just Walk Out não será implementado em novas lojas Amazon Fresh
Sistema permite que o consumidor não precise passar no caixa para pagar
Companhia vem reduzindo apostas em novos negócios nos últimos anos

De acordo com o The Information, há três motivos para a decisão da Amazon. O primeiro é a dificuldade para ampliar o uso da tecnologia em razão de suas limitações técnicas. O Just Walk Out funciona bem em lojas pequenas, mas encontra problemas para operar em lojas maiores.

O problema é que os sensores e as câmeras precisam “seguir” os consumidores durante todo o tempo em que eles estão nos estabelecimentos. Fazer isso em um espaço físico maior exige um maior número de câmeras e sensores. Isso sem contar que a quantidade de clientes também passa a ser maior.

Outro motivo para que a Amazon esteja abandonando a sua tecnologia é um tanto curioso. Hogget diz que as compras feitas no Just Walk Out tornam imprecisa a previsão de gastos que os consumidores terão, pois o valor comprado só é enviado por e-mail minutos ou horas depois da compra.

Ao escanear os itens, no entanto, eles conseguem ter um maior controle sobre as despesas. O executivo afirma que vem observando um movimento em que as famílias estão limitando o consumo nos mercados para até US$ 130 por semana.

A terceira razão para o Just Walk Out sair de linha está relacionada ao custo da operação. As compras realizadas pelos consumidores são revisadas por uma equipe da Amazon para garantir que o sistema não cometeu nenhum erro. Em 2022, a varejista moveu parte da equipe dedicada ao Just Walk Out para o Amazon Web Services (AWS), sua unidade de computação em nuvem.

A Amazon decidiu empreender com mercados físicos em 2017, quando adquiriu a rede de supermercados Whole Foods em uma transação avaliada em US$ 13,7 bilhões. Três anos depois, lançou as lojas Amazon Fresh, que são menores e mais voltadas para a compra de conveniência.

Desde então, porém, a companhia tem mostrado pouco apetite para uma expansão do seu negócio. A receita de US$ 5,1 bilhões com as físicas aumentou apenas 14% desde 2017.  Foram US$ 20 bilhões de receita em 2023 com essa frente, apenas 3,4% do total de US$ 574,7 bilhões.

Abandonos recentes

Deixar uma tecnologia antes exaltada não é algo novo na Amazon. Ao longo dos últimos anos a companhia fundada por Jeff Bezos deixou de lado algumas das inovações que antes enaltecia como grandes produtos revolucionários em diversos setores.

Além de ter interrompido a abertura de novas físicas por mais de um ano, a companhia também chegou a fechar algumas de suas livrarias. As lojas Style, de vestuário, também foram fechadas no ano passado.

No setor de saúde, a Amazon, que investiu US$ 3,9 bilhões para comprar a 1Life Healthcare, encerrou em 2022 a Amazon Care. A unidade de telemedicina e farmácia vinha sendo desenvolvida desde 2019 em uma joint venture com a Berkshire Hathaway e o JP Morgan Chase.

No digital, a companhia americana reduziu gastos com streaming. As demissões realizadas no ano passado impactaram essa frente. Especialistas apontam que apenas 400 produções devem ser feitas pela Amazon neste ano, 50% menos do que em 2022.