Não será tarefa simples o Banco Pan cumprir as expectativas do mercado em 2024. Nos resultados do quarto trimestre, divulgados na quinta-feira, 1º de fevereiro, o banco digital que pertence ao BTG Pactual reportou números inferiores aos esperados por alguns analistas

O lucro líquido ajustado do período trimestral foi de R$ 195 milhões. No acumulado de 2023, o lucro líquido ajustado ficou em R$ 777 milhões, uma expansão de 1% sobre o ano anterior. O ROE é de 11,3%. O total de ativos do Pan está em R$ 57,8 bilhões, alta de 3% na comparação anual.

Em outubro do ano passado, em sua primeira cobertura sobre o negócio, o Bank of America (BofA) publicou um relatório otimista. A recomendação era de compra para a ação, com preço-alvo de R$ 11. A estimativa era de valorização de 40% no papel.

Um dos pontos altos era a possibilidade de aumento do lucro do banco. Na previsão do BofA, os resultados do quarto trimestre apontariam um lucro anual de R$ 792 milhões em 2023. A projeção para 2024 e 25 é de R$ 1,17 bilhão e R$ 1,49 bilhão, respectivamente. Mas o número apresentado pelo Pan ficou quase 2% abaixo do esperado.

O BofA não foi o único que se decepcionou. Com recomendação neutra para os papéis e preço-alvo de R$ 9,20, o Citi projetava um lucro líquido ajustado de R$ 273 milhões no quarto trimestre. O Pan reportou 28,6% a menos no período.

Em seu último relatório, o Citi classifica os papéis do Pan como de “alto risco” para os investidores “devido a alta volatilidade e a baixa liquidez das ações” e “a uma menor visibilidade da qualidade de seus ativos em um ambiente de deterioração da inadimplência”.

Para aumentar o lucro líquido para mais de R$ 1 bilhão em 2024 e cumprir as expectativas dos research, o Pan terá de atingir um crescimento próximo de 29% no ano.

As principais apostas demonstradas no quarto trimestre para isso são o fortalecimento da carteira de crédito, a redução da inadimplência e o crescimento de vertentes como marketplace e seguros em detrimento dos cartões.

A carteira de crédito aumentou 7% em 2023, para R$ 41,8 bilhões. O segmento de veículos segue sendo o principal negócio e cresceu 32% ano a ano para uma originação de R$ 22 bilhões. Já o cartão de crédito caiu 43%, para R$ 2 bilhões.

“Vamos continuar crescendo em originação no B2C em tudo que não é através de um correspondente”, disse Carlos Eduardo Guimarães, CEO do Banco Pan, em entrevista coletiva após a divulgação dos resultados. “Vamos aumentar a carteira de crédito substancialmente.”

Em relação à inadimplência, os resultados mostram que a companhia conseguiu diminuir de 7,9% para 7,3% o indicador para os devedores acima de 90 dias.

“Essa questão depende muito do tipo de produto com o qual você trabalha”, afirmou Guimarães, ao explicar que a compra de veículos novos conta com taxas de inadimplência menores do que as operações de financiamento de carros usados. “Estamos confortáveis com o nível, que tende a cair um pouco em 2024.”

Guimarães também reforçou a aposta no aplicativo. Segundo o executivo, essa é uma maneira muito mais fluida para se comunicar e para vender novos produtos para os 28 milhões de clientes que o banco possui. “Faltam algumas experiências em produtos de crédito”, disse ele, mas sem dar mais detalhes.

Um levantamento recente do Bank of America mostra a importância dessa frente. No ano passado, os apps dos bancos digitais alcançaram a marca de 1 bilhão de downloads. Ao atingir essa marca expressiva, o BofA alerta que há uma saturação nesse mercado de fintechs com a estagnação do crescimento de usuários ativos dessas instituições.

Por enquanto, a decepção dos analistas não se refletiu na bolsa de valores. As ações do Pan fecharam o pregão em alta de 2,29%. A valorização, porém, não é suficiente para reverter a queda de 3,37% registrada desde o começo de 2024. O valor de mercado atual do banco é de R$ 10,2 bilhões.