Com os Estados Unidos impondo uma série de sanções no mercado de microprocessadores para companhias chinesas, o fundador da Xiaomi, Lei Jun, viu uma oportunidade para desenvolver a indústria local de chips. E, de quebra, ganhar um trocado a mais.

Dono de uma fortuna de US$ 10,6 bilhões, segundo a revista Forbes, o empresário lançou um fundo de 10 bilhões de yuans (US$ 1,45 bilhão) para investir em empresas chinesas que desenvolvem microprocessadores.

A Xiaomi e a companhia de computação em nuvem Kingsoft, co-fundada por Lei, são os principais investidores do fundo, que também conta com recursos de um punhado de entidades apoiadas pelo estado chinês. As informações são do jornal The Wall Street Journal a partir de documentos regulatórios entregues pela Kingsoft à Bolsa de Valores de Hong Kong.

Segundo esses documentos, os investimentos do fundo, que não possui nome, “estarão em conformidade com as tendências nacionais de desenvolvimento e transformação industrial, impulsionadas pela inovação”.

Além de microprocessadores, o fundo também buscará investir em empresas das áreas de inteligência artificial, novos materiais, modernização industrial e eletrônicos para o setor automotivo. Lei é o presidente do comitê responsável pelas decisões de investimento.

Terceira maior produtora de smartphones do mundo, atrás de Apple e Samsung, a Xiaomi é a principal investidora do fundo, aportando cerca de um terço dos recursos via duas subsidiárias.

Uma companhia ligada à Kingsoft contribuirá com 500 milhões de yuans (US$ 72,3 milhões), enquanto outra parte virá de entidades apoiadas pelos governos de Tianjin e Pequim.

O fundo é a mais recente iniciativa dentro da China para contornar os efeitos das sanções americanas. Em outubro do ano passado, o governo dos Estados Unidos impôs restrições à exportação de semicondutores avançados e equipamentos para a fabricação de chips.

As regras exigem que os fabricantes de microprocessadores americanos obtenham uma licença do Departamento de Comércio para vender produtos e tecnologia para a China. O Japão e a Holanda se uniram aos Estados Unidos para restringir o acesso dos chineses a microprocessadores e à tecnologia de fabricação.

A justificativa é evitar que tecnologia do país seja utilizada pelas forças armadas da China, mas a ideia também é evitar a ascensão tecnológica do gigante asiático.

Embora a China tenha capacidade de produzir microprocessadores mais simples, ela ainda tem dificuldades em desenvolver chips mais sofisticados, necessários para equipamentos utilizados em processamento de dados e para smartphones.

Ao mesmo tempo que aplica sanções aos chineses, os Estados Unidos está incentivando a fabricação doméstica de microprocessadores. O governo americano anunciou, também em outubro de 2022, um pacote de US$ 52 bilhões para impulsionar a fabricação doméstica de chips.