Quem atua no mercado de criptomoedas não pode reclamar de tédio. Um dia depois de anunciar um acordo para resgatar a FTX, a segunda maior exchange do mundo que vivia uma crise de liquidez, a Binance recuou da transação.
Em um comunicado, a Binance informou que decidiu não prosseguir com a aquisição da FTX, que foi avaliada em uma rodada privada em US$ 32 bilhões, deixando incerto o futuro da rival.
“No início, nossa esperança era poder apoiar os clientes da FTX para fornecer liquidez, mas os problemas estão além do nosso controle ou capacidade de ajudar”, informou a Binance.
A FTX sucumbiu a uma súbita crise de liquidez e entrou em um acordo para ser adquirida pela rival Binance, em uma transação que surpreendeu o mercado e cujos termos financeiros não foram revelados.
O fundador da FTX, Sam Bankman-Fried, era um lobista ativo e considerado por muitos como um dos rostos do mercado de criptomoedas. Apenas alguns meses atrás, ele comprometeu quase US$ 1 bilhão para resgatar credores em dificuldades.
No fim, acabou tendo de ser resgatado pela Binance. Agora, pode ficar sem uma boia de salvação. A rápida saída da Binance do negócio levanta questões sobre o que vem a seguir para os investidores que confiaram seus fundos à FTX.
A crise da FTX traz mais um componente a um mercado que está sofrendo bastante este ano: a falta de credibilidade. Várias empresas de criptomoedas declararam falência em 2022, deixando investidores esperando na fila para recuperar seus fundos.
No mercado de criptoativos, o resgate da FTX pela Binance era visto com ceticismo. Gracy Chen, diretora administrativa da Bitget, uma das concorrentes da Binance, se manifestou ontem (8 de novembro) com dúvidas sobre a transação.
Para ela, era "altamente improvável que a Binance consiga adquirir a FTX”. E acrescentou que a transação não fazia sentido do ponto de vista lógico para o negócio.
Entenda o caso
A FTX passou a enfrentar grave crise de liquidez depois que Changpeng Zhao, fundador da Binance, despertou questionamentos sobre o token FTT, criado pela FTX, ao afirmar que iria liquidar as posições que mantinha no ativo, no domingo, 6 de novembro.
A postagem gerou uma onda de pedidos de saques da FTX e acendeu o alerta a respeito de uma possível crise de liquidez na operação da FTX.
Na segunda-feira, 7 de novembro, Bankman-Fried foi a público afirmar que a FTX tinha “o suficiente para cobrir todas as participações dos clientes” e mais de US$ 1 bilhão em caixa.
Não parecia ser verdade. Pois um dia depois, teve de concordar com a venda FTX para a Binance, em um sinal que foi interpretado pelo mercado como uma operação de resgate para a FTX não ir à bancarrota.
“Eu sei que houve rumores na mídia de conflito entre nossas duas exchanges”, escreveu Bankman-Fried, justificando o acordo. “No entanto, a Binance mostrou repetidamente que está comprometida com uma economia global mais descentralizada, enquanto trabalha para melhorar as relações da indústria com os reguladores. Estamos nas melhores mãos.”
Ao que tudo indica, Changpeng Zhao acaba de largar a mão de Bankman-Fried, deixando ele e sua empresa sem rumo.